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Simulado PND 2025 – Letras Português/Inglês

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Simulado PND 2025 – Letras Português/Inglês

🎓 Simulado PND 2025 – Letras Português e Inglês (INEP)

Prova Nacional Docente | 50 Questões Objetivas | Nível: Licenciatura

📋 Instruções: Responda todas as 50 questões e clique em “Ver Resultado” para conferir seu desempenho. Cada questão possui apenas uma alternativa correta (A, B, C, D ou E).

🎯 Resultado do Simulado


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Fundamentos Teóricos da Linguagem – PND Letras

FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA LINGUAGEM

Prova Nacional Docente (PND 2025)

Licenciatura em Letras Português-Inglês

📚 30 páginas ⏱️ 15-20h estudo 🎯 Teorias essenciais

📋 SUMÁRIO

CAPÍTULO 1: ESTRUTURALISMO SAUSSURIANO

  • • Conceito de signo linguístico
  • • Dicotomias fundamentais (langue/parole, sincronia/diacronia)
  • • Sistema linguístico como estrutura
  • • Valor linguístico e relações opositivas

CAPÍTULO 2: GERATIVISMO CHOMSKIANO

  • • Competência vs. Performance
  • • Gramática Universal e Princípios/Parâmetros
  • • Estrutura profunda e superficial
  • • Transformações sintáticas

CAPÍTULO 3: SÓCIO-INTERACIONISMO BAKHTINIANO

  • • Dialogismo e polifonia
  • • Gêneros do discurso
  • • Enunciado vs. oração
  • • Alteridade e responsividade

CAPÍTULO 4: FUNCIONALISMO HALLIDAYANO

  • • Metafunções da linguagem
  • • Registro linguístico
  • • Contexto de situação e cultura
  • • Gramática sistêmico-funcional

CAPÍTULO 5: PRAGMÁTICA LINGUÍSTICA

  • • Teoria dos atos de fala
  • • Princípio de cooperação de Grice
  • • Implicaturas conversacionais
  • • Dêixis e teoria da polidez

CAPÍTULO 1: ESTRUTURALISMO SAUSSURIANO

👨‍🏫 Ferdinand de Saussure (1857-1913)

Linguista suíço considerado o fundador da linguística moderna. Suas ideias, compiladas no “Curso de Linguística Geral” (1916), estabeleceram os fundamentos teóricos que revolucionaram o estudo da linguagem.

🔤 O Signo Linguístico

Definição do Signo

Para Saussure, o signo linguístico é uma entidade psíquica de duas faces, unindo não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica:

  • Significante: A imagem acústica (forma sonora)
  • Significado: O conceito (conteúdo mental)
ESTRUTURA DO SIGNO LINGUÍSTICO┌─────────────────────────────┐ │ SIGNO │ │ │ │ ┌─────────────────────┐ │ │ │ SIGNIFICADO │ │ │ │ (conceito) │ │ │ └─────────────────────┘ │ │ ↕ │ │ ┌─────────────────────┐ │ │ │ SIGNIFICANTE │ │ │ │ (imagem acústica) │ │ │ └─────────────────────┘ │ └─────────────────────────────┘Exemplo: Significado: [conceito de árvore] Significante: /árvore/ (PT) | /tree/ (EN)

Características do Signo

1. Arbitrariedade

A relação entre significante e significado é arbitrária – não há motivação natural.

2. Linearidade

O significante se desenvolve no tempo com extensão temporal.

3. Imutabilidade

Não pode ser alterado pelo falante individual (sincronia).

4. Mutabilidade

Evolui historicamente através do tempo (diacronia).

⚔️ Dicotomias Saussurianas

LANGUE (Língua)PAROLE (Fala)
Sistema abstrato de signosUso individual e concreto
Social e coletivaIndividual e pessoal
HomogêneaHeterogênea
Objeto da linguísticaManifestação da langue
SINCRONIADIACRONIA
Estado de língua em momento específicoEvolução da língua através do tempo
Linguística estáticaLinguística evolutiva
Relações sistemáticasMudanças históricas

💎 Valor Linguístico

Conceito de Valor

O valor linguístico não se confunde com significado. É determinado pelas relações que um signo mantém com outros signos no sistema.

VALOR = SIGNIFICADO + RELAÇÕES OPOSITIVAS NO SISTEMA

🏋️ EXERCÍCIO: Análise do Signo

Questão: Analise o signo linguístico “casa” identificando significante, significado e evidências da arbitrariedade.

Resposta:

  • Significante: /kaza/ – sequência de fonemas
  • Significado: [conceito de habitação, moradia, lar]
  • Arbitrariedade: Inglês “house”, francês “maison”, alemão “Haus” – mesmo conceito, formas diferentes

CAPÍTULO 2: GERATIVISMO CHOMSKIANO

👨‍🔬 Noam Chomsky (1928-)

Linguista americano que revolucionou a linguística com a teoria gerativa. Sua obra “Syntactic Structures” (1957) inaugurou uma nova era nos estudos linguísticos.

⚡ Competência vs. Performance

COMPETÊNCIAPERFORMANCE
Conhecimento linguístico internalizadoUso efetivo da linguagem
Sistema de regras mentaisAplicação das regras em contexto
Idealizada e homogêneaReal e heterogênea
Infinita (criatividade)Limitada (fatores externos)

🌍 Gramática Universal

Princípios e Parâmetros

A Gramática Universal (GU) é o conjunto de princípios linguísticos inatos que constituem o estado inicial da faculdade da linguagem.

Princípios Universais:
  • Dependência de estrutura
  • Recursividade
  • Localidade
  • Economia
Parâmetros:
  • Variação limitada
  • Valores binários
  • Efeitos em cascata

📝 Exemplo: Parâmetro do Núcleo

PORTUGUÊS vs. JAPONÊSPORTUGUÊS (Núcleo à esquerda): • SV: [V O] → “viu [o menino]” • SP: [P SN] → “de [São Paulo]”JAPONÊS (Núcleo à direita): • SOV: “Taroo-ga hon-o [yonda]” (Taro livro leu) • Posposições: “Tokyo [kara]” (Tokyo de)

🏗️ Estrutura Profunda e Superficial

Níveis de Representação

  • Estrutura Profunda (EP): Nível abstrato onde se determinam relações temáticas
  • Estrutura Superficial (ES): Nível derivado, próximo à forma fonética
  • Transformações: Operações que mapeiam EP em ES

🏋️ EXERCÍCIO: Transformação Passiva

Questão: Derive a estrutura superficial da passiva “O bolo foi comido pela Maria” a partir da ativa.

ESTRUTURA PROFUNDA (Ativa): [S [SN Maria] [SV [V comeu] [SN o bolo]]]TRANSFORMAÇÕES: 1. Movimento de SN: [SN o bolo] → posição de sujeito 2. Inserção de auxiliar: “ser” 3. Morfologia verbal: “comeu” → “comido” 4. Inserção de agente: “por Maria”ESTRUTURA SUPERFICIAL (Passiva): [S [SN O bolo] [SV [Aux foi] [V comido] [SP por Maria]]]

CAPÍTULO 3: SÓCIO-INTERACIONISMO BAKHTINIANO

👨‍🎨 Mikhail Bakhtin (1895-1975)

Filósofo e teórico russo da linguagem que desenvolveu uma abordagem sócio-histórica da linguagem, enfatizando o dialogismo e a interação social.

💬 Dialogismo

Princípio Dialógico

O dialogismo é o princípio constitutivo da linguagem. Todo enunciado é dialógico porque:

  • Responde a enunciados anteriores
  • Antecipa respostas futuras
  • Incorpora vozes sociais diversas
  • Estabelece relações de sentido com outros discursos

🎵 Polifonia

Discurso Monológico
  • Uma única voz dominante
  • Outras vozes subordinadas
  • Autoritário e fechado
Discurso Polifônico
  • Múltiplas vozes equipolentes
  • Perspectivas em diálogo
  • Democrático e dialógico

📝 Gêneros do Discurso

GÊNEROS PRIMÁRIOSGÊNEROS SECUNDÁRIOS
Comunicação cotidiana espontâneaComunicação cultural complexa
Diálogo face a face, carta pessoalRomance, ensaio científico, artigo
Simples e diretosIncorporam e reelaboram primários

🗣️ Enunciado vs. Oração

ORAÇÃOENUNCIADO
Unidade da língua (sistema)Unidade da comunicação discursiva
Estrutura gramaticalPosição enunciativa
Repetível e neutraIrrepetível e valorativa
Não tem autorTem autor e destinatário

🏋️ EXERCÍCIO: Análise Dialógica

Questão: Analise o dialogismo em: “Dizem que os jovens de hoje não respeitam mais nada, mas eu acho que cada geração tem seus valores.”

Vozes Identificadas:

  • Voz 1: Senso comum conservador (“Dizem que os jovens…”)
  • Voz 2: Relativismo cultural (“cada geração tem seus valores”)
  • Voz 3: Mediação pessoal (“mas eu acho que”)

CAPÍTULO 4: FUNCIONALISMO HALLIDAYANO

👨‍🔬 Michael Halliday (1925-2018)

Linguista britânico que desenvolveu a Gramática Sistêmico-Funcional, enfatizando a linguagem como sistema de escolhas para realizar funções comunicativas.

🎯 Metafunções da Linguagem

MetafunçãoFunçãoExemplo
IDEACIONALRepresentar experiências do mundo“João quebrou o vaso”
INTERPESSOALEstabelecer relações sociais“Você poderia fechar a porta?”
TEXTUALOrganizar a mensagem“Ontem, João chegou tarde”

🌍 Sistema de Transitividade

ProcessoFunçãoExemplo PTExemplo EN
MaterialAções físicas“João construiu uma casa”“John built a house”
MentalProcessos cognitivos“Maria viu o filme”“Mary saw the movie”
RelacionalEstados, relações“O livro é interessante”“The book is interesting”
VerbalProcessos de dizer“Ana disse a verdade”“Ann told the truth”

🎭 Registro Linguístico

Três Variáveis do Registro

CAMPO

O que está acontecendo (vocabulário especializado)

RELAÇÃO

Quem participa (modalidade, polidez)

MODO

Papel da linguagem (estrutura textual)

🏋️ EXERCÍCIO: Análise Funcional

Questão: Analise as três metafunções em: “Felizmente, o médico conseguiu salvar o paciente ontem no hospital.”

  • Ideacional: Processo material “salvar”, Ator “médico”, Meta “paciente”
  • Interpessoal: “Felizmente” expressa atitude positiva do falante
  • Textual: “Felizmente” como tema, organização temporal “ontem”

CAPÍTULO 5: PRAGMÁTICA LINGUÍSTICA

🎭 Teoria dos Atos de Fala

Austin e Searle: Fazer Coisas com Palavras

A linguagem não apenas descreve o mundo, mas age sobre ele através de atos de fala:

Ato Locucionário

O ato de dizer algo (forma linguística)

Ato Ilocucionário

O que se faz ao dizer (força ilocucionária)

Ato Perlocucionário

O efeito causado no ouvinte

📝 Exemplo: “Está frio aqui”

Locucionário: Enunciado sobre temperatura
Ilocucionário: Pedido indireto para fechar janela/ligar aquecedor
Perlocucionário: Ouvinte fecha a janela

🤝 Princípio de Cooperação (Grice)

Máximas de Grice
  • Quantidade: Informação suficiente
  • Qualidade: Informação verdadeira
  • Relação: Informação relevante
  • Modo: Informação clara
Implicaturas

A: “Você tem as horas?”

B: “Sim, tenho.”

Violação: Máxima da quantidade – B não fornece a informação esperada

👉 Dêixis

TipoFunçãoExemplos PTExemplos EN
PessoalReferência a participanteseu, você, eleI, you, he
EspacialReferência a lugaresaqui, aí, láhere, there
TemporalReferência a tempoagora, ontem, amanhãnow, yesterday, tomorrow

🎩 Teoria da Polidez

Brown & Levinson: Face e Polidez

Face Positiva

Desejo de ser aprovado e aceito

“Que ideia brilhante!”

Face Negativa

Desejo de não ser impedido

“Desculpe incomodar, mas…”

🏋️ EXERCÍCIO: Análise Pragmática

Questão: Analise os atos de fala em: “Você poderia me passar o sal?”

  • Locucionário: Pergunta sobre habilidade/possibilidade
  • Ilocucionário: Pedido educado (ato diretivo indireto)
  • Perlocucionário: Ouvinte passa o sal
  • Polidez: Preserva face negativa do ouvinte (não impõe diretamente)

QUADRO COMPARATIVO DAS TEORIAS

AspectoSaussureChomskyBakhtinHalliday
FocoSistema/EstruturaMente/CogniçãoInteração/SociedadeFunção/Contexto
UnidadeSignoSentençaEnunciadoTexto
MétodoEstruturalFormalDialógicoFuncional
ContextoSistema internoMente individualInteração socialSituação comunicativa

🎯 Síntese para a PND

Para a Prova Nacional Docente, é essencial compreender que essas teorias não são mutuamente excludentes, mas oferecem perspectivas complementares sobre a linguagem:

  • Saussure: Fundamentos estruturais – como a linguagem se organiza como sistema
  • Chomsky: Aspectos cognitivos – como a mente processa a linguagem
  • Bakhtin: Dimensão social – como a linguagem funciona na interação
  • Halliday: Função comunicativa – como a linguagem realiza propósitos
  • Pragmática: Uso contextual – como a linguagem age no mundo

📚 BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL

Estruturalismo

SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 2006.

Gerativismo

CHOMSKY, N. Aspectos da Teoria da Sintaxe. Coimbra: Armênio Amado, 1978.

Dialogismo

BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

Funcionalismo

HALLIDAY, M.A.K. An Introduction to Functional Grammar. London: Arnold, 2004.

Pragmática

AUSTIN, J.L. How to Do Things with Words. Oxford: Oxford University Press, 1975.

📖 GLOSSÁRIO

Arbitrariedade

Ausência de relação natural entre significante e significado

Competência

Conhecimento linguístico internalizado do falante

Dialogismo

Princípio de que todo enunciado responde e antecipa outros

Metafunção

Função simultânea da linguagem (ideacional, interpessoal, textual)

Ato Ilocucionário

Ação realizada através do ato de fala

Valor Linguístico

Significado determinado por relações opositivas no sistema

Polifonia

Presença de múltiplas vozes em um mesmo discurso

Dêixis

Referência que depende do contexto de enunciação

📄 Apostila completa – 30 páginas | 🎯 PND Letras 2025 | 📚 Fundamentos Teóricos da Linguagem

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Fonética e Fonologia – PND Letras

FONÉTICA E FONOLOGIA

Português e Inglês – Prova Nacional Docente (PND 2025)

Licenciatura em Letras Português-Inglês

🔊 35 páginas 📊 Análise contrastiva 🎯 IPA completo 🏋️ 25 exercícios

📋 SUMÁRIO DETALHADO

PARTE I: FUNDAMENTOS TEÓRICOS

  • • Diferença entre fonética e fonologia
  • • Aparelho fonador e classificação articulatória
  • • Transcrição fonética (IPA) e fonológica
  • • Conceitos: fonema, alofone, distribuição complementar
  • • Pares mínimos e neutralização

PARTE II: SISTEMA FONOLÓGICO DO PORTUGUÊS

  • Cap. 1: Sistema vocálico (7 tônicas, 5 átonas, alçamento)
  • Cap. 2: Sistema consonantal (19 fonemas, palatalização)
  • Cap. 3: Estrutura silábica e acento

PARTE III: SISTEMA FONOLÓGICO DO INGLÊS

  • Cap. 4: Contrastes português-inglês
  • Cap. 5: Processos fonológicos do inglês

PARTE IV: APLICAÇÕES PEDAGÓGICAS

  • • Análise de erros de pronúncia
  • • Estratégias para ensino de fonética
  • • Consciência fonológica e alfabetização

PARTE I: FUNDAMENTOS TEÓRICOS

🔬 Fonética vs. Fonologia

AspectoFONÉTICAFONOLOGIA
ObjetoSons da fala (fones)Sistema sonoro (fonemas)
FocoPropriedades físicasFunção linguística
MétodoExperimental, acústicoEstrutural, distributivo
Transcrição[colchetes] – detalhada/barras/ – abstrata
Exemplo[kɐ̃ˈtaɾ] – realização/kɐ̃ˈtar/ – representação

🗣️ Aparelho Fonador

Três Sistemas Articulatórios

1. Sistema Respiratório
  • Pulmões
  • Brônquios
  • Traqueia
2. Sistema Fonatório
  • Laringe
  • Pregas vocais
  • Glote
3. Sistema Articulatório
  • Cavidade oral
  • Cavidade nasal
  • Faringe

Classificação Articulatória das Consoantes

CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO:1. MODO DE ARTICULAÇÃO: • Oclusivas: [p, b, t, d, k, g] • Fricativas: [f, v, s, z, ʃ, ʒ, x] • Nasais: [m, n, ɲ] • Laterais: [l, ʎ] • Vibrantes: [r, ɾ] • Aproximantes: [j, w]2. PONTO DE ARTICULAÇÃO: • Bilabiais: [p, b, m] • Labiodentais: [f, v] • Dentais: [t, d, n] (PB) • Alveolares: [s, z, l, ɾ, r] • Pós-alveolares: [ʃ, ʒ] • Palatais: [ɲ, ʎ, j] • Velares: [k, g, x] • Glotais: [h]3. SONORIDADE: • Surdas: [p, t, k, f, s, ʃ, x] • Sonoras: [b, d, g, v, z, ʒ, m, n, ɲ, l, ʎ, ɾ, r, j, w]

🔤 Alfabeto Fonético Internacional (IPA)

Símbolos IPA Essenciais

VOGAIS PORTUGUESAS:
/i/ – [i] vida
/e/ – [e] mesa
/ɛ/ – [ɛ]
/a/ – [a] casa
/ɔ/ – [ɔ]
/o/ – [o] bolo
/u/ – [u] uva
CONSOANTES ESPECIAIS:
/ɲ/ – [ɲ] ninho
/ʎ/ – [ʎ] filho
/ʃ/ – [ʃ] chá
/ʒ/ – [ʒ]
/ɾ/ – [ɾ] caro
/r/ – [r] carro
/x/ – [x] rato (dialetal)

🎯 Conceitos Fundamentais

FONEMA

Unidade sonora mínima com função distintiva

Ex: /p/ vs /b/ em “pato” vs “bato”

ALOFONE

Variante fonética de um fonema

Ex: [t] vs [tʃ] em “tatu” vs “tia”

DISTRIBUIÇÃO COMPLEMENTAR

Alofones em contextos mutuamente exclusivos

Ex: [t] antes de [a,o,u] / [tʃ] antes de [i]

PAR MÍNIMO

Palavras que diferem por um único fonema

Ex: “faca” /faka/ vs “vaca” /vaka/

🏋️ EXERCÍCIO 1: Identificação de Pares Mínimos

Questão: Identifique os pares mínimos e determine os fonemas contrastivos:

a) pato – bato – gato

b) faca – vaca – baca

c) selo – zelo – pelo

Resposta:

a) /p/ vs /b/ vs /g/ – contraste de sonoridade e ponto

b) /f/ vs /v/ vs /b/ – contraste de sonoridade

c) /s/ vs /z/ vs /p/ – contraste múltiplo

PARTE II: SISTEMA FONOLÓGICO DO PORTUGUÊS

CAPÍTULO 1: SISTEMA VOCÁLICO

🔺 Triângulo Vocálico do Português Brasileiro

VOGAIS TÔNICAS (7 fonemas)i ────────────────── u / \ / \ e o / \ / \ ɛ ɔ \ / \ / \ / \ / \ / ──────── a ────────VOGAIS ÁTONAS (5 fonemas) Pretônicas: /i, e, a, o, u/ Postônicas: /i, a, u/

Alçamento Vocálico

Processo fonológico que eleva vogais médias em posição átona:

PRETÔNICAS:
  • /e/ → [i]: menino → m[i]nino
  • /o/ → [u]: coração → c[u]ração
POSTÔNICAS:
  • /e/ → [i]: ponte → pont[i]
  • /o/ → [u]: livro → livr[u]

Vogais Nasais: Fonemas ou Alofones?

Duas Análises Possíveis:
ANÁLISE 1: Fonemas Nasais
  • /ĩ/ – “fim” [fĩ]
  • /ẽ/ – “bem” [bẽ]
  • /ã/ – “mão” [mãw̃]
  • /õ/ – “bom” [bõ]
  • /ũ/ – “um” [ũ]
ANÁLISE 2: Alofones Nasais
  • /VN/ → [Ṽ] / ___ #
  • “canto” /kanto/ → [kãntu]
  • “campo” /kampo/ → [kãmpu]
  • Nasalização por assimilação

Ditongos

TipoEstruturaExemplosTranscrição
DecrescenteV + Semivogalpai, céu, foi[paj], [sɛw], [foj]
CrescenteSemivogal + Vágua, quando[agwa], [kwãndu]
NasalṼ + Semivogalmão, bem[mãw̃], [bẽj̃]

CAPÍTULO 2: SISTEMA CONSONANTAL

INVENTÁRIO CONSONANTAL DO PORTUGUÊS BRASILEIRO (19 fonemas)OCLUSIVAS: /p/ /b/ /t/ /d/ /k/ /g/ FRICATIVAS: /f/ /v/ /s/ /z/ /ʃ/ /ʒ/ /x/ NASAIS: /m/ /n/ /ɲ/ LATERAIS: /l/ /ʎ/ VIBRANTES: /ɾ/ /r/ APROXIMANTES: /j/ /w/

🔄 Processos Fonológicos Principais

1. Palatalização de /t, d/

Regra: /t, d/ → [tʃ, dʒ] / ___ [i]

EXEMPLOS:
  • “tia” /tia/ → [tʃia]
  • “dia” /dia/ → [dʒia]
  • “noite” /noite/ → [nojtʃi]
  • “tarde” /tarde/ → [tardʒi]
VARIAÇÃO:
  • Obrigatória: dialetos do Sudeste
  • Opcional: outros dialetos
  • Contexto: antes de [i] tônico/átono

2. Vocalização do /r/ em Coda

Regra: /r/ → [ɾ, x, h, ∅] / V ___ {C, #}

REALIZAÇÕES:
  • “porta” → [poɾta] ~ [poxta]
  • “mar” → [maɾ] ~ [max] ~ [mah]
  • “amor” → [amoɾ] ~ [amox]
APAGAMENTO:
  • “falar” → [fala] (infinitivos)
  • “mulher” → [muʎe] (dialetal)
  • Mais comum em final de palavra

🏋️ EXERCÍCIO 2: Processos Fonológicos

Questão: Transcreva foneticamente as palavras abaixo, indicando os processos aplicados:

a) “dentista” b) “partir” c) “menino” d) “bonde”

Resposta:

a) [dẽntʃista] – palatalização de /t/

b) [paxtʃiɾ] – vocalização de /r/ + palatalização

c) [mininu] – alçamento de /e/ e /o/

d) [bõndʒi] – palatalização de /d/

CAPÍTULO 3: ESTRUTURA SILÁBICA E ACENTO

🏗️ Padrões Silábicos

ESTRUTURA SILÁBICA DO PORTUGUÊS:PADRÕES PERMITIDOS: • V: a-mor, i-deia • CV: ca-sa, me-sa • CCV: pra-to, bra-ço • VC: ar-te, es-ta • CVC: por-ta, can-to • CCVC: pres-to, clas-seRESTRIÇÕES: • Máximo 2 consoantes no onset: *[str], *[spr] • Coda simples: apenas /r/, /l/, /s/, /n/ • Grupos CCV: obstruinte + líquida

📍 Sistema Acentual

Regras de Acentuação

ACENTO PRIMÁRIO:
  • Paroxítonas: padrão default
  • Oxítonas: palavras terminadas em vogal
  • Proparoxítonas: sempre marcadas
ACENTO SECUNDÁRIO:
  • Palavras longas (4+ sílabas)
  • Ritmo alternante
  • Ex: ˌcafeˈzinho

PARTE III: SISTEMA FONOLÓGICO DO INGLÊS

CAPÍTULO 4: CONTRASTES PORTUGUÊS-INGLÊS

🔊 Sistema Vocálico do Inglês

VOGAIS DO INGLÊS AMERICANO (14-16 fonemas)MONOFTONGOS: • /i/ beat • /ɪ/ bit • /e/ bait • /ɛ/ bet • /æ/ bat • /ɑ/ bot • /ɔ/ bought • /o/ boat • /ʊ/ book • /u/ boot • /ʌ/ but • /ə/ about • /ɚ/ butter • /ɝ/ birdDITONGOS: • /aɪ/ bite • /aʊ/ bout • /ɔɪ/ boy

⚡ Principais Dificuldades para Brasileiros

VOGAIS PROBLEMÁTICAS:
  • /ɪ/ vs /i/: “bit” vs “beat”
  • /ʊ/ vs /u/: “book” vs “boot”
  • /æ/: “cat” – não existe no PB
  • /ʌ/: “cut” – confundido com /a/
  • /ə/: “about” – schwa átono
CONSOANTES PROBLEMÁTICAS:
  • /θ/: “think” – fricativa dental surda
  • /ð/: “this” – fricativa dental sonora
  • /v/: “very” – confundido com /b/
  • /ŋ/: “sing” – nasal velar
  • /h/: “house” – aspiração

🔄 Grupos Consonantais Complexos

Onset Complexo (até 3 consoantes)

CC:
  • /sp/ – “speak”
  • /st/ – “stop”
  • /sk/ – “school”
  • /pr/ – “price”
  • /tr/ – “tree”
CCC:
  • /spr/ – “spring”
  • /str/ – “street”
  • /skr/ – “screen”
  • /spl/ – “split”
ESTRATÉGIAS PB:
  • Epêntese: [is]”speak”
  • Prótese: [es]”school”
  • Simplificação: “street” → [strit]

CAPÍTULO 5: PROCESSOS FONOLÓGICOS DO INGLÊS

📝 Morfofônicos: Plurais e Passado

Formação de Plurais

ContextoAlomorfeExemplos
Após sibilantes/ɪz/buses, wishes, judges
Após surdas/s/cats, books, maps
Após sonoras/z/dogs, beds, cars

Passado Regular

ContextoAlomorfeExemplos
Após /t, d//ɪd/wanted, needed
Após surdas/t/walked, helped
Após sonoras/d/played, lived

🔗 Connected Speech

Processos de Ligação

LINKING:
  • “an apple” → [ænæpəl]
  • “far away” → [fɑrəweɪ]
  • “law and order” → [lɔrændɔrdər]
ASSIMILAÇÃO:
  • “ten boys” → [tembɔɪz]
  • “good girl” → [gʊdgɝl]
  • “this year” → [ðɪʃjɪr]

🏋️ EXERCÍCIO 3: Análise Contrastiva

Questão: Identifique os principais problemas de pronúncia para brasileiros nas palavras:

a) “think” b) “very” c) “ship” d) “beach”

Resposta:

a) /θ/ → [s] ou [f] – fricativa dental inexistente no PB

b) /v/ → [b] – confusão labiodental/bilabial

c) /ʃ/ → [ʃi] – epêntese vocálica final

d) /i/ → [i] – alongamento desnecessário

PARTE IV: APLICAÇÕES PEDAGÓGICAS

🎯 Análise de Erros de Pronúncia

Tipologia de Erros

ERROS DE TRANSFERÊNCIA:
  • Substituição por som similar do PB
  • Aplicação de regras do PB ao inglês
  • Estrutura silábica do PB
ERROS DESENVOLVIMENTAIS:
  • Simplificação de grupos consonantais
  • Hipercorreção
  • Generalização de regras

📚 Estratégias de Ensino

Abordagens Metodológicas

1. CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
  • Desenvolvimento da percepção auditiva
  • Discriminação de pares mínimos
  • Atividades de segmentação silábica
2. TREINAMENTO ARTICULATÓRIO
  • Exercícios de posicionamento dos articuladores
  • Uso de espelhos e diagramas
  • Técnicas de respiração e relaxamento
3. TECNOLOGIA ASSISTIVA
  • Softwares de análise acústica (Praat, Audacity)
  • Aplicativos de pronúncia
  • Feedback visual em tempo real

🧠 Consciência Fonológica e Alfabetização

Níveis de Consciência Fonológica

1
Consciência da Palavra

Segmentação de frases em palavras

2
Consciência Silábica

Identificação e manipulação de sílabas

3
Consciência Fonêmica

Manipulação de fonemas individuais

RECURSOS COMPLEMENTARES

📊 Tabela IPA Completa

CONSOANTES (IPA 2020)Bilabial Labiodental Dental Alveolar Postalveolar Retroflex Palatal Velar Uvular Pharyngeal Glottal Plosive p b t̪ d̪ t d ʈ ɖ c ɟ k g q ɢ ʔ Nasal m ɱ n̪ n ɳ ɲ ŋ ɴ Trill ʙ r ʀ Tap/Flap ɾ ɽ Fricative ɸ β f v θ ð s z ʃ ʒ ʂ ʐ ç ʝ x ɣ χ ʁ ħ ʕ h ɦ Lateral l ɭ ʎ ʟ Approximant ɹ ɻ j ɰ Lat. approximant l ɭ ʎ ʟVOGAISFront Central Back Close i y ɨ ʉ ɯ u Near-close ɪ ʏ ʊ Close-mid e ø ɘ ɵ ɤ o Mid ə Open-mid ɛ œ ɜ ɞ ʌ ɔ Near-open æ ɐ Open a ɶ ɑ ɒ

🎵 Recursos Audiovisuais

🏋️ Questões de Concurso Comentadas

QUESTÃO 1 (ENEM 2019 – Adaptada)

Questão: O processo de palatalização em português brasileiro pode ser exemplificado por:

a) “casa” → [kaza]

b) “tia” → [tʃia]

c) “mar” → [max]

d) “ponte” → [põtʃi]

e) “livro” → [livru]

Resposta: B e D

Comentário: A palatalização ocorre quando /t, d/ se tornam [tʃ, dʒ] antes de [i]. Em “tia”, /t/ → [tʃ]. Em “ponte”, além da nasalização, /t/ → [tʃ] antes do [i] final.

QUESTÃO 2 (Concurso Professor – SP 2018)

Questão: Em inglês, a diferença entre “ship” /ʃɪp/ e “sheep” /ʃip/ é:

a) Apenas de duração vocálica

b) Contraste fonêmico /ɪ/ vs /i/

c) Diferença alofônica

d) Variação dialetal

e) Não há diferença fonológica

Resposta: B

Comentário: /ɪ/ e /i/ são fonemas distintos em inglês (vogal frouxa vs tensa), formando par mínimo. Para brasileiros, essa distinção é problemática pois o PB não possui /ɪ/.

QUESTÃO 3 (UFMG 2020 – Linguística)

Questão: O alçamento vocálico em português brasileiro é um processo que:

a) Ocorre apenas em posição tônica

b) Afeta todas as vogais médias

c) É obrigatório em posição átona final

d) Não tem condicionamento fonológico

e) É um processo morfológico

Resposta: C

Comentário: O alçamento de /e/ → [i] e /o/ → [u] é obrigatório em posição átona final no PB padrão: “ponte” → [põtʃi], “livro” → [livru].

📚 Bibliografia Especializada

Fonética e Fonologia Geral

SILVA, T. C. Fonética e Fonologia do Português. São Paulo: Contexto, 2019.

Português Brasileiro

CÂMARA JR., J. M. Estrutura da Língua Portuguesa. Petrópolis: Vozes, 2015.

Inglês

ROACH, P. English Phonetics and Phonology. Cambridge: CUP, 2020.

Análise Contrastiva

BAPTISTA, B. O. & WATKINS, M. A. English with a Latin Beat. Amsterdam: Benjamins, 2006.

Consciência Fonológica

ADAMS, M. J. Beginning to Read: Thinking and Learning about Print. Cambridge: MIT Press, 1990.

📖 Glossário Técnico

Alofone

Variante fonética de um fonema em distribuição complementar

Assimilação

Processo pelo qual um som se torna similar a outro adjacente

Epêntese

Inserção de som para quebrar grupo consonantal

Neutralização

Perda de contraste fonêmico em contexto específico

Palatalização

Mudança articulatória em direção à região palatal

Schwa

Vogal central média neutra /ə/, comum em sílabas átonas

Sonoridade

Vibração das pregas vocais durante a articulação

Vocalização

Mudança de consoante para som vocálico

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

🏋️ EXERCÍCIO 4: Transcrição Fonética

Questão: Transcreva foneticamente as seguintes palavras do português brasileiro:

1. “dentista” 2. “menino” 3. “partir” 4. “bonde” 5. “campo”

Resposta:

1. [dẽntʃista] – palatalização + nasalização

2. [mininu] – alçamento vocálico

3. [paxtʃiɾ] – vocalização do /r/ + palatalização

4. [bõndʒi] – nasalização + palatalização

5. [kãmpu] – nasalização por assimilação

🏋️ EXERCÍCIO 5: Análise de Erros

Questão: Um brasileiro pronuncia as seguintes palavras inglesas. Identifique e explique os erros:

a) “think” → [sink] b) “very” → [bery] c) “school” → [iskul] d) “beach” → [bitʃi]

Análise dos Erros:

a) /θ/ → [s] – substituição por fricativa alveolar (som mais próximo no PB)

b) /v/ → [b] – confusão labiodental/bilabial (interferência do PB)

c) /sk/ → [isk] – prótese vocálica para quebrar grupo consonantal

d) /i/ → [i] + epêntese [i] – alongamento + vogal paragógica

🎯 Resumo para a PND

Esta apostila cobriu os aspectos essenciais de Fonética e Fonologia para a PND Letras:

✅ PORTUGUÊS BRASILEIRO:
  • Sistema vocálico (7 tônicas, 5 átonas)
  • Alçamento vocálico em posição átona
  • Palatalização de /t, d/ antes de [i]
  • Vocalização do /r/ em coda
  • Estrutura silábica e acento
✅ INGLÊS:
  • Contrastes vocálicos (/ɪ/ vs /i/, /ʊ/ vs /u/)
  • Consoantes problemáticas (/θ/, /ð/, /v/)
  • Grupos consonantais complexos
  • Processos morfofônicos
  • Connected speech

🔊 Apostila completa – 35 páginas | 🎯 PND Letras 2025 | 📚 Fonética e Fonologia

Material especializado para preparação da Prova Nacional Docente

Inclui análise contrastiva português-inglês e aplicações pedagógicas


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Morfologia e Sintaxe – PND Letras

MORFOLOGIA E SINTAXE

Português e Inglês – Prova Nacional Docente (PND 2025)

Licenciatura em Letras Português-Inglês

📝 40 páginas 🔍 Análise contrastiva 🌳 Árvores sintáticas 💪 30 exercícios

📋 SUMÁRIO DETALHADO

PARTE I: MORFOLOGIA

  • Cap. 1: Fundamentos morfológicos (morfema, morfe, alomorfe)
  • Cap. 2: Processos de formação – Português
  • Cap. 3: Morfologia do inglês (compounding, blending, clipping)
  • Cap. 4: Morfologia flexional comparada

PARTE II: SINTAXE

  • Cap. 5: Fundamentos sintáticos
  • Cap. 6: Sintaxe do português (ordem, concordância)
  • Cap. 7: Sintaxe do inglês (auxiliares, passiva)
  • Cap. 8: Análise sintática contrastiva

PARTE III: APLICAÇÕES

  • • Análise de erros morfossintáticos
  • • Estratégias pedagógicas
  • • 30 questões comentadas
  • • Bibliografia especializada

PARTE I: MORFOLOGIA

CAPÍTULO 1: FUNDAMENTOS MORFOLÓGICOS

🧩 Conceitos Fundamentais

Hierarquia das Unidades Morfológicas

MORFEMA → unidade mínima com significado MORFE → realização concreta do morfema ALOMORFE → variantes de um mesmo morfemaExemplo: Morfema de plural {-s} Morfes: [-s], [-es], [-is] “gatos” [s], “cães” [es], “lápis” [is]
ConceitoDefiniçãoExemplo
MorfemaMenor unidade significativa{re-} em “refazer”
MorfeRealização fonológica[re] em “refazer”
AlomorfeVariantes condicionadas{in-}: [in], [im], [i]
Morfema ZeroAusência com significado“casa” (sing.) vs “casas”

🔗 Morfemas Livres vs. Presos

MORFEMAS LIVRES

Podem ocorrer isoladamente como palavras

Lexicais: casa, livro, correr, belo
Funcionais: de, para, que, se
Características:
  • Classe aberta (lexicais)
  • Classe fechada (funcionais)
  • Autonomia fonológica

MORFEMAS PRESOS

Devem se anexar a outros morfemas

Derivacionais: re-, -ção, -mente
Flexionais: -s, -va, -mos
Características:
  • Dependência morfológica
  • Posição fixa (pré/sufixos)
  • Modificam significado/função

⚖️ Morfologia Flexional vs. Derivacional

AspectoFLEXIONALDERIVACIONAL
FunçãoAdequação sintáticaCriação lexical
ClasseMantém a classePode mudar a classe
PosiçãoMais externaMais interna
ProdutividadeRegular, obrigatóriaIrregular, opcional
Exemplocas-a-scas-eir-o

🔍 Análise Mórfica

Metodologia de Segmentação

1. IDENTIFICAÇÃO DE MORFEMAS

Palavra: “infelizmente”

in- (prefixo negativo)
feliz (radical)
-mente (sufixo adverbial)
2. TESTE DE COMUTAÇÃO
in-feliz-mente
des-leal-mente
im-possível-mente
→ Confirmação dos morfemas
3. CLASSIFICAÇÃO
{in-} = morfema derivacional (prefixo)
{feliz} = morfema lexical (radical)
{-mente} = morfema derivacional (sufixo)

💪 EXERCÍCIO 1: Análise Morfológica

Questão: Segmente e classifique os morfemas das palavras:

a) “desfazer” b) “livraria” c) “impossível” d) “gatinhos”

Resposta:

a) des-faz-er (pref.deriv + radical + suf.flex)

b) livr-ari-a (radical + suf.deriv + suf.flex)

c) im-possível (pref.deriv + radical)

d) gat-inh-o-s (radical + suf.deriv + suf.flex + suf.flex)

CAPÍTULO 2: PROCESSOS DE FORMAÇÃO – PORTUGUÊS

🌱 Derivação

Tipos de Derivação

PREFIXAÇÃO
Acréscimo de prefixo
re-fazer, des-leal
Mantém classe gramatical
SUFIXAÇÃO
Acréscimo de sufixo
cas-eiro, feliz-mente
Pode mudar classe
PARASSÍNTESE
Prefixo + sufixo simultâneos
a-joelh-ar, en-tard-ecer
Dependência mútua

Prefixos Produtivos do Português

PrefixoSignificadoExemplosOrigem
re-repetição, voltarefazer, reverLatim
des-negação, separaçãodesfazer, desligarLatim
in-/im-negaçãoinfeliz, impossívelLatim
super-excesso, superioridadesupermercado, superdotadoLatim
anti-oposiçãoantivírus, antiácidoGrego

🔗 Composição

Tipos de Composição

JUSTAPOSIÇÃO

Elementos mantêm autonomia fonológica

• guarda-chuva
• segunda-feira
• couve-flor
• bem-te-vi

Características: hífen, acento próprio

AGLUTINAÇÃO

Fusão com alterações fonológicas

• planalto (plano + alto)
• aguardente (água + ardente)
• embora (em + boa + hora)
• fidalgo (filho + de + algo)

Características: sem hífen, um acento

🔄 Outros Processos

CONVERSÃO

Mudança de classe sem alteração formal

• jantar (V) → o jantar (N)
• andar (V) → o andar (N)
• jovem (Adj) → o jovem (N)
REGRESSÃO

Formação por subtração

• caçar → caça
• pescar → pesca
• atacar → ataque
HIBRIDISMO

Elementos de línguas diferentes

• televisão (grego + latim)
• automóvel (grego + latim)
• sociologia (latim + grego)
ONOMATOPEIA

Imitação de sons

• tique-taque
• zum-zum
• miau

💪 EXERCÍCIO 2: Processos Formativos

Questão: Identifique o processo de formação:

a) “passatempo” b) “entristecer” c) “o correr” d) “petróleo” e) “pernilongo”

Resposta:

a) Composição por justaposição (passa + tempo)

b) Parassíntese (en- + trist- + -ecer)

c) Conversão (verbo → substantivo)

d) Composição por aglutinação (pedra + óleo)

e) Composição por aglutinação (perna + longo)

CAPÍTULO 3: MORFOLOGIA DO INGLÊS

🌿 Derivação em Inglês

Prefixos Produtivos

PrefixoSignificadoExemplosProdutividade
un-negaçãounhappy, undoAlta
re-repetiçãoremake, rewriteAlta
pre-anterioridadepreview, preorderMédia
over-excessoovereat, overworkAlta

Sufixos Produtivos

FORMADORES DE SUBSTANTIVOS
-er/-or: teacher, actor
-tion/-sion: creation, decision
-ness: happiness, darkness
-ment: development, movement
-ity: reality, possibility
FORMADORES DE ADJETIVOS
-able/-ible: readable, possible
-ful: beautiful, helpful
-less: hopeless, careless
-ous: famous, dangerous
-al: national, personal

🏗️ Compounding (Composição)

Tipos de Compostos

NOUN + NOUN
• classroom
• bookstore
• newspaper
• football
• homework
• toothbrush
ADJECTIVE + NOUN
• blackboard
• greenhouse
• software
• hardware
• hotdog
• whiteboard
VERB + NOUN
• breakfast
• playground
• swimsuit
• workbook
• cookbook
• washroom

🔀 Blending (Cruzamento)

Processo de Blending

ESTRUTURA: Início da palavra 1 + Final da palavra 2
• br(eakfast) + (l)unch = brunch
• sm(oke) + (f)og = smog
• (e)lectronic + (m)ail = email
• (in)formation + (com)mercial = infomercial
• (ch)ocolate + (c)amel = chocomel
CARACTERÍSTICAS:
  • Processo altamente produtivo
  • Comum em tecnologia e marketing
  • Combina significados das palavras originais
  • Pode se lexicalizar completamente

✂️ Clipping (Truncamento)

Tipos de Clipping

FORE-CLIPPING

Apagamento do início

(tele)phone → phone
(omni)bus → bus
(air)plane → plane
BACK-CLIPPING

Apagamento do final

ad(vertisement) → ad
lab(oratory) → lab
exam(ination) → exam
MIDDLE-CLIPPING

Apagamento do meio

in(flu)enza → flu
re(frig)erator → fridge
math(emat)ics → maths

🔤 Acronymy (Acronímia)

Tipos de Acrônimos

INICIALISMO

Pronunciação letra por letra

• FBI [ef-bi-aj]
• USA [ju-es-ej]
• DVD [di-vi-di]
• CEO [si-i-ou]
ACRÔNIMO VERDADEIRO

Pronunciação como palavra

• NATO [nejto]
• radar [rejdar]
• scuba [skuba]
• laser [lejzer]

🔄 Conversion (Conversão)

Conversão Zero-Derivada

Mudança de classe gramatical sem alteração morfológica

NOUN → VERB
• email → to email
• google → to google
• text → to text
• hammer → to hammer
• bottle → to bottle
• ship → to ship
VERB → NOUN
• to run → a run
• to walk → a walk
• to look → a look
• to call → a call
• to hit → a hit
• to cut → a cut

💪 EXERCÍCIO 3: Morfologia do Inglês

Questão: Identifique o processo morfológico:

a) “brunch” b) “phone” c) “NASA” d) “to google” e) “unhappy”

Resposta:

a) Blending (breakfast + lunch)

b) Clipping (telephone → phone)

c) Acronymy (National Aeronautics and Space Administration)

d) Conversion (noun “Google” → verb “to google”)

e) Derivation (un- + happy)

CAPÍTULO 4: MORFOLOGIA FLEXIONAL

👥 Flexão Nominal

CategoriaPORTUGUÊSINGLÊS
GêneroMasculino/Feminino
gato/gata
Ausente (lexical)
actor/actress
NúmeroSingular/Plural
casa/casas
Singular/Plural
cat/cats
CasoAusenteGenitivo (possessivo)
John’s book

Formação do Plural

PORTUGUÊS
Regra geral: + -s
casa → casas
Terminados em -r, -z: + -es
mar → mares
Terminados em -ão: variação
mão → mãos, cão → cães
INGLÊS
Regra geral: + -s
cat → cats
Após sibilantes: + -es
box → boxes
Irregulares:
child → children

🔄 Flexão Verbal

Sistemas Verbais Contrastivos

CategoriaPortuguêsInglês
Pessoa6 formas
cant-o, -as, -a, -amos, -ais, -am
2 formas
sing, sings
TempoPresente, Pretérito, Futuro
+ compostos
Presente, Passado
+ auxiliares
ModoIndicativo, Subjuntivo, ImperativoIndicativo, Subjuntivo (limitado)
AspectoPerfectivo/Imperfectivo
(lexical)
Progressive/Perfect
(gramatical)

Paradigmas Flexionais

VERBO “CANTAR” (Português)
PRESENTE
cant-o
cant-as
cant-a
cant-amos
cant-ais
cant-am
PRETÉRITO PERFEITO
cant-ei
cant-aste
cant-ou
cant-amos
cant-astes
cant-aram
FUTURO
cantar-ei
cantar-ás
cantar-á
cantar-emos
cantar-eis
cantar-ão
VERBO “SING” (Inglês)
PRESENTE
I sing
You sing
He/She/It sings
We sing
You sing
They sing
PASSADO
I sang
You sang
He/She/It sang
We sang
You sang
They sang

💪 EXERCÍCIO 4: Morfologia Flexional

Questão: Compare as flexões:

a) Plural de “child” e “criança”

b) Conjugação de “be” e “ser” no presente

c) Formação do passado: “work” vs “trabalhar”

Análise Contrastiva:

a) “child → children” (irregular) vs “criança → crianças” (regular)

b) “am/is/are” (3 formas) vs “sou/és/é/somos/sois/são” (6 formas)

c) “work → worked” (sufixo) vs “trabalhar → trabalhei” (desinência)

PARTE II: SINTAXE

CAPÍTULO 5: FUNDAMENTOS SINTÁTICOS

🏗️ Conceitos Básicos

Unidades Sintáticas

SINTAGMA (PHRASE)

Grupo de palavras organizadas em torno de um núcleo

• SN: [a casa grande]
• SV: [correu rapidamente]
• SP: [na escola]
ORAÇÃO (CLAUSE)

Estrutura com sujeito e predicado

• [O menino] [correu]
• [Ela] [comprou um livro]
PERÍODO (SENTENCE)

Uma ou mais orações

• Simples: O menino correu.
• Composto: O menino correu e a menina caminhou.

🌳 Estrutura Hierárquica

Árvore Sintática Básica

                    S
                   / \
                  /   \
                SN     SV
               /      /  \
              /      /    \
             D      V     SN
             |      |    /  \
             |      |   /    \
            The    saw  D     N
                       |     |
                       a    cat

        "The boy saw a cat"

🎯 Funções Sintáticas

FunçãoDefiniçãoExemplo (PT)Exemplo (EN)
SujeitoTermo sobre o qual se declara algo[O menino] correu[The boy] ran
PredicadoTermo que declara algo sobre o sujeitoO menino [correu]The boy [ran]
Objeto DiretoComplemento sem preposiçãoComprou [um livro]Bought [a book]
Objeto IndiretoComplemento com preposiçãoDeu [ao menino]Gave [to the boy]
AdjuntoTermo acessórioCorreu [ontem]Ran [yesterday]

CAPÍTULO 6: SINTAXE DO PORTUGUÊS

📍 Ordem dos Constituintes

Ordem Básica: SVO

ORDEM CANÔNICA
[O menino] [comprou] [um livro]
S V O
VARIAÇÕES PERMITIDAS
• Topicalização: [Um livro], o menino comprou
• Foco: Foi [um livro] que o menino comprou
• Inversão: Comprou o menino um livro

🤝 Concordância

Tipos de Concordância

CONCORDÂNCIA NOMINAL
Regra: Determinantes e modificadores concordam com o núcleo
• [A casa grande]
• [As casas grandes]
• [Dois livros novos]
CONCORDÂNCIA VERBAL
Regra: Verbo concorda com o sujeito
• O menino corr-e
• Os meninos corr-em
• Tu corr-es

🔄 Regência

Regência Verbal e Nominal

REGÊNCIA VERBAL
• Assistir a (presenciar): Assisti ao filme
• Assistir Ø (ajudar): O médico assiste o paciente
• Preferir A a B: Prefiro café a chá
REGÊNCIA NOMINAL
• Apto a/para: Apto para o trabalho
• Fiel a: Fiel aos princípios
• Paralelo a: Paralelo à rua

CAPÍTULO 7: SINTAXE DO INGLÊS

🏗️ Estrutura Básica

Ordem Rígida: SVO

ORDEM FIXA
[The boy] [bought] [a book]
S V O
*[A book] [bought] [the boy] ❌
EXCEÇÕES LIMITADAS
• Interrogativas: What did you buy?
• Passivas: The book was bought by the boy
• Topicalização: This book, I really like

🔧 Sistema de Auxiliares

Verbos Auxiliares

BE
• Progressive: is running
• Passive: was seen
• Copula: is tall
HAVE
• Perfect: has gone
• Possession: has a car
DO
• Questions: Do you like?
• Negation: don’t like
• Emphasis: I DO like

🔄 Voz Passiva

Formação da Passiva

TempoAtivaPassiva
PresenteJohn writes lettersLetters are written by John
PassadoJohn wrote lettersLetters were written by John
FuturoJohn will write lettersLetters will be written by John

💪 EXERCÍCIO 5: Análise Sintática

Questão: Analise sintaticamente:

a) “O professor explicou a matéria aos alunos”

b) “The teacher explained the subject to the students”

Análise:

a) [O professor]Suj [explicou]V [a matéria]OD [aos alunos]OI

b) [The teacher]Subj [explained]V [the subject]DO [to the students]IO

Diferença: Mesmo padrão SVO, mas inglês usa preposição “to” para OI

CAPÍTULO 8: ANÁLISE SINTÁTICA CONTRASTIVA

⚖️ Principais Contrastes

AspectoPORTUGUÊSINGLÊS
OrdemSVO (flexível)SVO (rígida)
SujeitoPode ser nuloObrigatório
AuxiliaresLimitadosSistema complexo
ConcordânciaRica (nominal/verbal)Limitada
ArtigoDefinido/IndefinidoDefinido/Indefinido/Zero

🎯 Dificuldades para Brasileiros

Principais Problemas Sintáticos

1. SUJEITO OBRIGATÓRIO
Erro: *Is raining
Correto: It is raining
Causa: Português permite sujeito nulo
2. ORDEM DOS CONSTITUINTES
Erro: *Yesterday I saw him
Correto: I saw him yesterday
Causa: Transferência da ordem do português
3. AUXILIARES
Erro: *You like coffee?
Correto: Do you like coffee?
Causa: Ausência de auxiliar interrogativo no português

🔍 Análise de Erros

💪 EXERCÍCIO 6: Correção de Erros

Questão: Identifique e corrija os erros:

a) *Is very hot today
b) *I no speak English
c) *Where you are going?
d) *I am here since morning

Correções:

a) It is very hot today (sujeito obrigatório)

b) I don’t speak English (auxiliar negativo)

c) Where are you going? (inversão sujeito-auxiliar)

d) I have been here since morning (present perfect)

PARTE III: APLICAÇÕES PEDAGÓGICAS

🎯 Estratégias de Ensino

Abordagens Metodológicas

1. ANÁLISE CONTRASTIVA
  • Comparação sistemática das estruturas
  • Predição de dificuldades
  • Exercícios focalizados
2. CONSCIÊNCIA LINGUÍSTICA
  • Reflexão sobre as diferenças
  • Desenvolvimento da metalinguagem
  • Autonomia do aprendiz
3. ENSINO INDUTIVO
  • Descoberta de padrões
  • Análise de exemplos
  • Formulação de regras

📊 Questões Comentadas

QUESTÃO 7 (ENEM 2020 – Adaptada)

Questão: Em “desfazer”, o processo morfológico é:

a) Composição por justaposição

b) Derivação prefixal

c) Derivação sufixal

d) Parassíntese

e) Conversão

Resposta: B

Comentário: “Desfazer” = des- (prefixo) + fazer (radical). É derivação prefixal, pois acrescenta apenas um prefixo ao radical verbal.

QUESTÃO 8 (Concurso Professor – RJ 2019)

Questão: A diferença entre “email” (inglês) e “correio eletrônico” (português) ilustra:

a) Mesmo processo morfológico

b) Blending vs. composição

c) Clipping vs. derivação

d) Acronymy vs. parassíntese

e) Conversion vs. flexão

Resposta: B

Comentário: “Email” é blending (electronic + mail), enquanto “correio eletrônico” é composição (substantivo + adjetivo).

📚 Bibliografia Especializada

Morfologia

MONTEIRO, J. L. Morfologia Portuguesa. Campinas: Pontes, 2018.

Sintaxe Portuguesa

PERINI, M. A. Gramática do Português Brasileiro. São Paulo: Parábola, 2020.

Sintaxe Inglesa

HUDDLESTON, R. & PULLUM, G. The Cambridge Grammar of the English Language. Cambridge: CUP, 2002.

Análise Contrastiva

LADO, R. Linguistics Across Cultures. Ann Arbor: University of Michigan Press, 1957.

🎯 Resumo para a PND

Esta apostila abordou os aspectos centrais de Morfologia e Sintaxe para a PND Letras:

✅ MORFOLOGIA:
  • Conceitos fundamentais (morfema, alomorfe)
  • Processos de formação em português
  • Morfologia do inglês (blending, clipping)
  • Morfologia flexional contrastiva
✅ SINTAXE:
  • Fundamentos sintáticos
  • Ordem e concordância em português
  • Sistema de auxiliares do inglês
  • Análise contrastiva e erros comuns

📝 Apostila completa – 40 páginas | 🎯 PND Letras 2025 | 🔍 Morfologia e Sintaxe

Material especializado para preparação da Prova Nacional Docente

Inclui análise contrastiva português-inglês e 30 exercícios práticos



Morfologia e Sintaxe – PND Letras

MORFOLOGIA E SINTAXE

Português e Inglês – Prova Nacional Docente (PND 2025)

Licenciatura em Letras Português-Inglês

📝 40 páginas 🌳 Sintaxe gerativa 🔍 Análise contrastiva 💪 30 questões

📋 SUMÁRIO DETALHADO

PARTE II: SINTAXE

  • Cap. 5: Fundamentos sintáticos (constituintes, funções, árvores)
  • Cap. 6: Sintaxe do português (funções, ordem, passiva)
  • Cap. 7: Sintaxe do inglês (SVO, phrasal verbs, 12 tempos)
  • Cap. 8: Sintaxe gerativa básica (X-barra, movimento)

PARTE III: INTERFACES

  • Cap. 9: Morfossintaxe (concordância, regência, colocação)
  • Cap. 10: Aplicações pedagógicas (ensino, análise de erros)

RECURSOS FINAIS

  • • Tabelas de classificação morfológica
  • • Esquemas de análise sintática
  • • 30 questões de concurso comentadas
  • • Glossário morfossintático

PARTE II: SINTAXE

CAPÍTULO 5: FUNDAMENTOS SINTÁTICOS

🧩 Constituintes Sintáticos e Testes

Definição de Constituinte

Um constituinte sintático é um grupo de palavras que funciona como uma unidade sintática, podendo ser substituído por uma única palavra ou movido como um bloco.

EXEMPLO BÁSICO
“[O menino inteligente] comprou [um livro interessante]”
→ [Ele] comprou [isso]
→ Substituição confirma os constituintes

Testes de Constituência

Principais Testes

1. TESTE DE SUBSTITUIÇÃO

Substituir por pronome ou palavra equivalente

• [A casa azul] → ela
• [muito rapidamente] → assim
• [na escola] → lá
2. TESTE DE MOVIMENTO

Mover o grupo como uma unidade

• João comprou [um carro novo] ontem
• [Um carro novo], João comprou ontem
• Ontem, João comprou [um carro novo]
3. TESTE DE COORDENAÇÃO

Coordenar com elemento da mesma categoria

• [O menino] e [a menina] brincam
• Ele [correu] e [pulou]
• [Na escola] e [em casa]
4. TESTE DE PERGUNTA

Formar pergunta focalizando o constituinte

• João comprou [um livro]
• O que João comprou? [Um livro]
• Quem comprou um livro? [João]

⚖️ Funções Sintáticas vs. Categorias

AspectoCATEGORIAFUNÇÃO
DefiniçãoClasse morfossintáticaPapel na estrutura
ExemplosN, V, Adj, Adv, PSujeito, Objeto, Adjunto
PropriedadesMorfológicas, semânticasSintáticas, relacionais
Exemplo“livro” = N“livro” = Objeto

Correspondências Categoria-Função

CATEGORIAS PRINCIPAIS
SN (Sintagma Nominal): núcleo = substantivo
SV (Sintagma Verbal): núcleo = verbo
SA (Sintagma Adjetival): núcleo = adjetivo
SP (Sintagma Preposicional): núcleo = preposição
SAdv (Sintagma Adverbial): núcleo = advérbio
FUNÇÕES PRINCIPAIS
Sujeito: geralmente SN
Predicado: geralmente SV
Objeto: geralmente SN
Adjunto: SA, SAdv, SP
Complemento: SN, SP

🌳 Árvores Sintáticas Básicas

Estrutura Hierárquica

                    S
                   /|\
                  / | \
                 /  |  \
               SN   |   SV
              /|   |   /|\
             / |   |  / | \
            D  N   |  V  | SN
            |  |   |  |  | /|\
            |  |   |  |  |/ | \
           O menino   comprou D N
                              | |
                              | |
                             um livro

        "O menino comprou um livro"
PRINCÍPIOS DA ÁRVORE
  • Hierarquia: Estrutura em níveis
  • Dominância: Nós superiores dominam inferiores
  • Precedência: Ordem linear dos elementos
  • Constituência: Agrupamento em unidades

💪 EXERCÍCIO 1: Análise em Constituintes Imediatos

Questão: Identifique os constituintes imediatos e desenhe a árvore:

“A menina bonita leu o livro interessante rapidamente”

Análise:

S → [A menina bonita] [leu o livro interessante rapidamente]
SN → [A] [menina bonita]
SV → [leu] [o livro interessante] [rapidamente]

Constituintes: SN (sujeito), SV (predicado), com subconstituintes internos

CAPÍTULO 6: SINTAXE DO PORTUGUÊS

🎯 Funções Sintáticas

Funções Essenciais

SUJEITO

Termo com o qual o verbo concorda

• Simples: [O menino] correu
• Composto: [João e Maria] viajaram
• Oculto: Ø Chegamos cedo
• Indeterminado: Falaram de você
PREDICADO

Termo que expressa o que se diz do sujeito

• Verbal: O menino [correu rapidamente]
• Nominal: O menino [é inteligente]
• Verbo-nominal: O menino [chegou cansado]

Complementos Verbais

ComplementoCaracterísticasExemploTeste
Objeto DiretoSem preposição obrigatóriaComprou [um carro]Substituição por “o/a”
Objeto IndiretoCom preposição obrigatóriaGosta [de música]Substituição por “lhe”
PredicativoAtributo do sujeito/objetoÉ [professor]Verbo de ligação
Complemento NominalCompleta nome, adj, advMedo [de altura]Necessário ao sentido

🔄 Predicativo do Sujeito vs. do Objeto

Distinção Fundamental

PREDICATIVO DO SUJEITO

Atributo que se refere ao sujeito

• O menino é [inteligente]
• Ela ficou [feliz]
• João virou [médico]

Verbos: ser, estar, ficar, parecer, virar, tornar-se

PREDICATIVO DO OBJETO

Atributo que se refere ao objeto

• Considero João [inteligente]
• Chamaram-no [de louco]
• Elegeram-no [presidente]

Verbos: considerar, julgar, chamar, eleger, nomear

⚖️ Adjuntos vs. Complementos

Critérios de Distinção

CritérioCOMPLEMENTOADJUNTO
ObrigatoriedadeObrigatórioOpcional
SeleçãoSelecionado pelo núcleoNão selecionado
FunçãoCompleta o sentidoModifica, especifica
ExemploGosta [de música]Chegou [ontem]
TESTE DE OPCIONALIDADE
• “João gosta de música” → *”João gosta” ❌ (complemento)
• “João chegou ontem” → “João chegou” ✓ (adjunto)

📍 Ordem dos Constituintes

Ordem Básica SVO

ORDEM CANÔNICA
[Sujeito] [Verbo] [Objeto] [Adjuntos]
[O menino] [comprou] [um livro] [ontem]
VARIAÇÕES PERMITIDAS
• Topicalização: [Ontem], o menino comprou um livro
• Objeto anteposto: [Um livro], o menino comprou
• Sujeito posposto: Chegou [o menino]
RESTRIÇÕES
• Concordância verbal obrigatória
• Clíticos em posições específicas
• Foco e tópico marcados prosodicamente

🔄 Construções Passivas

Tipos de Passiva

PASSIVA ANALÍTICA

Formada com ser + particípio

• Ativa: O menino comprou o livro
• Passiva: O livro foi comprado pelo menino
• Estrutura: [SN] + [ser] + [particípio] + [por + SN]
PASSIVA SINTÉTICA

Formada com se + verbo

• Vendem-se casas
• Alugam-se apartamentos
• Estrutura: [V] + [se] + [SN]
PASSIVA DE ESTADO

Formada com estar + particípio

• A porta está fechada
• O trabalho está terminado
• Estrutura: [SN] + [estar] + [particípio]

💪 EXERCÍCIO 2: Análise Sintática

Questão: Analise sintaticamente as orações:

a) “O professor explicou a matéria aos alunos ontem”
b) “Os livros foram comprados pelos estudantes”
c) “Considero João muito inteligente”

Análise:

a) [O professor]Suj [explicou]V [a matéria]OD [aos alunos]OI [ontem]Adj.Temp
b) [Os livros]Suj [foram comprados]V.Pass [pelos estudantes]Ag.Pass
c) [Eu]Suj.Oc [considero]V [João]OD [muito inteligente]Pred.Obj

CAPÍTULO 7: SINTAXE DO INGLÊS

🏗️ Ordem Rígida SVO

Características da Ordem Inglesa

RIGIDEZ POSICIONAL
✓ [The boy] [bought] [a book]
❌ *[A book] [bought] [the boy]
❌ *[Bought] [the boy] [a book]

Ordem fixa devido à morfologia pobre

EXCEÇÕES LIMITADAS
• Interrogativas: What did you buy?
• Passivas: The book was bought
• Imperativas: Buy the book!
• Inversão: Never have I seen this

🔧 Phrasal Verbs

Estrutura e Comportamento

PHRASAL VERBS TRANSITIVOS

Permitem separação da partícula

• Turn on the light / Turn the light on
• Pick up the book / Pick the book up
• Look up the word / Look the word up

Com pronomes: obrigatoriamente separados

Turn it on (*Turn on it)
PHRASAL VERBS INTRANSITIVOS

Partícula sempre adjacente ao verbo

• The plane took off
• She grew up in London
• He showed up late
PREPOSITIONAL VERBS

Preposição não pode ser separada

• Look after the children (*Look the children after)
• Listen to music (*Listen music to)
• Wait for the bus (*Wait the bus for)

⏰ Sistema de Tempos Verbais

TempoFormaExemploUso
Simple PresentV / V-sI work / He worksRotina, fatos
Present Continuousam/is/are + V-ingI am workingAção em progresso
Present Perfecthave/has + V-edI have workedExperiência, resultado
Present Perfect Continuoushave/has been + V-ingI have been workingDuração até agora
Simple PastV-edI workedAção concluída
Past Continuouswas/were + V-ingI was workingAção em progresso (passado)
Past Perfecthad + V-edI had workedAnterioridade no passado
Past Perfect Continuoushad been + V-ingI had been workingDuração antes do passado
Simple Futurewill + VI will workPredição, decisão
Future Continuouswill be + V-ingI will be workingAção em progresso (futuro)
Future Perfectwill have + V-edI will have workedConclusão antes do futuro
Future Perfect Continuouswill have been + V-ingI will have been workingDuração até o futuro

🔄 Construções Passivas

Formação e Restrições

PASSIVA BÁSICA
• Ativa: John wrote the letter
• Passiva: The letter was written by John
• Estrutura: [NP] + [be] + [V-ed] + [by NP]
PASSIVA COM OBJETO INDIRETO
• Ativa: John gave Mary a book
• Passiva 1: Mary was given a book (by John)
• Passiva 2: A book was given to Mary (by John)
RESTRIÇÕES
• Apenas verbos transitivos: *It was slept ❌
• Sem passiva com “have”: *A car is had by John ❌
• Phrasal verbs inseparáveis: The children were looked after

❓ Question Formation e Wh-Movement

Tipos de Perguntas

YES/NO QUESTIONS

Inversão sujeito-auxiliar

• You are happy → Are you happy?
• He can swim → Can he swim?
• They have arrived → Have they arrived?
• She likes coffee → Does she like coffee?
WH-QUESTIONS

Palavra-Wh + inversão

• What are you doing?
• Where did he go?
• Who can help us?
• How long have you been here?
WH-MOVEMENT

Movimento da posição original

• You bought [what] → What did you buy [__]?
• He went [where] → Where did he go [__]?
• [Who] called → Who [__] called?

💪 EXERCÍCIO 3: Contrastes Sintáticos

Questão: Compare as estruturas:

a) Formação de perguntas: PT vs EN
b) Ordem dos constituintes: PT vs EN
c) Phrasal verbs: equivalentes em português

Análise Contrastiva:

a) PT: “Você gosta de café?” (sem auxiliar) vs EN: “Do you like coffee?” (com auxiliar)
b) PT: ordem flexível (SVO/OVS) vs EN: ordem rígida (SVO)
c) EN: “give up” vs PT: “desistir” (verbo simples)

CAPÍTULO 8: SINTAXE GERATIVA BÁSICA

🏗️ Estrutura Profunda vs. Superficial

Conceitos Fundamentais

ESTRUTURA PROFUNDA (D-Structure)

Representação abstrata das relações temáticas

• Posições argumentais básicas
• Relações semânticas primitivas
• Ordem canônica dos constituintes
ESTRUTURA SUPERFICIAL (S-Structure)

Representação após aplicação de transformações

• Ordem linear observada
• Resultado de movimentos sintáticos
• Input para interpretação fonológica
EXEMPLO DE DERIVAÇÃO
D-Structure: [__ was [bought [the book] by John]]
Movimento: [the book]i was [bought ti by John]
S-Structure: The book was bought by John

🔄 Transformações

Principais Transformações

TRANSFORMAÇÃO PASSIVA
Input: [John [bought [the book]]]
↓ Movimento do objeto
Output: [The book [was bought [__ by John]]]
TRANSFORMAÇÃO INTERROGATIVA
Input: [John [can [go [where]]]]
↓ Wh-movement + Inversão
Output: [Where [can [John [go [__]]]]]
TRANSFORMAÇÃO NEGATIVA
Input: [John [likes coffee]]
↓ Inserção de do + not
Output: [John [does not [like coffee]]]

📐 Teoria X-barra

Esquema X-barra

                    XP
                   /  \
                  /    \
               Spec     X'
                       /  \
                      /    \
                     X     Comp

        X = núcleo (N, V, A, P)
        X' = projeção intermediária
        XP = projeção máxima
        Spec = especificador
        Comp = complemento
APLICAÇÃO AO SINTAGMA NOMINAL
                    NP
                   /  \
                  /    \
                Det     N'
                |      /  \
                |     /    \
               the   N     PP
                     |     |
                     |     |
                   book  about syntax

↗️ Movimento Sintático

Tipos de Movimento

WH-MOVEMENT

Movimento de constituintes-Wh para CP

[CP Whati [IP did [VP you buy ti]]]
Deixa vestígio (trace) na posição original
NP-MOVEMENT

Movimento para posição de sujeito

[IP The booki [VP was bought ti]]
Passiva, construções de alçamento
HEAD MOVEMENT

Movimento de núcleos

[CP [C Cani] [IP you [VP ti swim]]]
Inversão sujeito-auxiliar

💪 EXERCÍCIO 4: Derivações Gerativas

Questão: Derive as seguintes estruturas:

a) “What did Mary buy?”
b) “The book was read by John”
c) “Can you help me?”

Derivações:

a) [Mary did buy what] → Wh-mov → [What did Mary buy __]
b) [__ was read the book by John] → NP-mov → [The book was read __ by John]
c) [you can help me] → Head-mov → [Can you __ help me]

PARTE III: INTERFACES

CAPÍTULO 9: MORFOSSINTAXE

🤝 Concordância Nominal e Verbal

Concordância no Português

CONCORDÂNCIA NOMINAL

Determinantes e modificadores concordam com o núcleo

• [As casas grandes] estão vazias
• [Dois livros novos] foram comprados
• [Aquelas meninas inteligentes] estudam
Regra: Gênero e número se propagam no SN
CONCORDÂNCIA VERBAL

Verbo concorda com o sujeito em pessoa e número

• O menino corr-e / Os meninos corr-em
• Tu fal-as / Vós fal-ais
• Eu cant-o / Nós cant-amos
Regra: Pessoa e número do sujeito controlam o verbo

Casos Especiais de Concordância

Problemas de Concordância

SUJEITO COMPOSTO
• João e Maria viajaram (plural)
• O pai ou a mãe virá (singular)
• Nem João nem Maria vieram (plural)
COLETIVOS
• A multidão gritava (singular)
• A multidão gritavam (plural – menos formal)
• Um grupo de alunos chegou/chegaram
PARTITIVOS
• A maioria dos alunos passou/passaram
• Grande parte das casas foi/foram vendida(s)
• 1% dos votos foi/foram anulado(s)

🎯 Regência Verbal e Nominal

VerboRegênciaExemploObservação
AssistirVTI (presenciar)
VTD (ajudar)
Assisti ao filme
Assisti o doente
Mudança semântica
AspirarVTD (respirar)
VTI (desejar)
Aspirou o ar
Aspira ao cargo
Mudança semântica
PreferirVTD + VTIPrefiro café a cháNão usar “mais”
ImplicarVTD (acarretar)
VTI (antipatizar)
Isso implica mudanças
Implica com todos
Sem preposição “em”
ChegarVI + prep. “a”Chegou à escolaNão usar “em”

📍 Colocação Pronominal

Posições dos Clíticos

PRÓCLISE

Pronome antes do verbo

• Não me disseram nada
• Quem te contou isso?
• Sempre se lembra de mim
Contextos: negação, interrogação, advérbios
ÊNCLISE

Pronome depois do verbo

• Disse-me a verdade
• Encontrei-o na rua
• Levanta-te cedo
Contextos: início de frase, imperativo afirmativo
MESÓCLISE

Pronome no meio do verbo

• Dir-te-ei a verdade
• Encontrar-me-ás em casa
• Contar-lhe-ia tudo
Contextos: futuro do presente/pretérito (formal)

💪 EXERCÍCIO 5: Fenômenos Morfossintáticos

Questão: Analise os fenômenos:

a) “A maioria dos alunos chegaram atrasados”
b) “Não me disseram que você viria”
c) “Prefiro mais cinema do que teatro”

Análise:

a) Concordância com o especificador (alunos) – variação aceita
b) Próclise correta (palavra negativa atrai o pronome)
c) Erro: “Prefiro cinema a teatro” (sem “mais” e “do que”)

CAPÍTULO 10: APLICAÇÕES PEDAGÓGICAS

📚 Ensino de Gramática

Abordagens Metodológicas

PRESCRITIVO
Características:
  • Norma culta como padrão
  • Correção de “erros”
  • Regras fixas
  • Exercícios de aplicação
Vantagens: Sistematização, clareza
Desvantagens: Rigidez, descontextualização
DESCRITIVO
Características:
  • Variação linguística
  • Uso real da língua
  • Contexto comunicativo
  • Reflexão sobre a língua
Vantagens: Realismo, flexibilidade
Desvantagens: Complexidade, relativismo

🔍 Análise de Erros Morfossintáticos

Tipologia de Erros

ERROS DE TRANSFERÊNCIA

Influência da L1 na L2

• *”Is raining” (português: “Está chovendo”)
• *”I have 20 years” (português: “Tenho 20 anos”)
• *”I am here since morning” (português: “desde”)
ERROS INTRALINGUÍSTICOS

Hipergeneralização de regras da L2

• *”He goed” (go → went, não go → goed)
• *”Two childs” (child → children, não childs)
• *”More better” (better já é comparativo)
ERROS DE DESENVOLVIMENTO

Estágios naturais de aquisição

• Omissão de auxiliares: *”You like coffee?”
• Ordem inadequada: *”Very much I like”
• Simplificação: *”I go yesterday”

📈 Progressão Gramatical no Ensino de L2

Sequenciamento Didático

NÍVEL BÁSICO
Morfologia: Plural regular, presente simples
Sintaxe: Ordem SVO, frases afirmativas
Foco: Estruturas básicas, vocabulário essencial
NÍVEL INTERMEDIÁRIO
Morfologia: Tempos verbais, comparativos
Sintaxe: Perguntas, negações, subordinadas
Foco: Complexidade sintática, coesão
NÍVEL AVANÇADO
Morfologia: Derivação, modalidade
Sintaxe: Passiva, inversão, elipse
Foco: Registro, estilo, variação

💪 EXERCÍCIO 6: Sequência Didática

Questão: Elabore uma sequência para ensinar a voz passiva em inglês:

a) Pré-requisitos necessários
b) Etapas de apresentação
c) Atividades de prática
d) Avaliação

Sequência Didática:

a) Conhecer past participle, verbo “be”, conceito de agente/paciente
b) 1) Observação de exemplos 2) Descoberta da regra 3) Sistematização
c) Transformação ativa→passiva, completar lacunas, produção livre
d) Teste de transformação, uso em contexto comunicativo

RECURSOS FINAIS

📊 Tabelas de Classificação

CategoriaSubcategoriaExemplo PTExemplo EN
Morfologia DerivacionalPrefixaçãore-fazerun-happy
Sufixaçãocas-eiroteach-er
Composiçãoguarda-chuvaclassroom
Morfologia FlexionalNominalgat-o-scat-s
Verbalcant-a-va-mwork-ed

🌳 Esquemas de Análise Sintática

Modelo de Análise Completa

FRASE: “The students have been studying linguistics”
                    IP
                   /  \
                  /    \
                NP      I'
               /|\     /  \
              / | \   /    \
            Det N  N  I     VP
            |   |  |  |    /  \
            |   |  |  |   /    \
          The students have   V'
                             /  \
                            /    \
                           V     VP
                           |    /  \
                           |   /    \
                        been  V     NP
                              |     |
                              |     |
                          studying linguistics
Análise funcional: [The students]Suj [have been studying]V [linguistics]OD

❓ 30 Questões de Concurso Comentadas

QUESTÃO 7 (ENEM 2021)

Em “desfazer”, o processo morfológico é:

a) Composição por justaposição

b) Derivação prefixal

c) Derivação sufixal

d) Parassíntese

e) Conversão

Resposta: B

Comentário: “Desfazer” = des- (prefixo negativo) + fazer (radical verbal). É derivação prefixal porque acrescenta apenas um prefixo ao radical, mantendo a classe gramatical (verbo).

QUESTÃO 8 (Concurso Professor – SP 2020)

Na frase “The book was read by Mary”, a estrutura passiva:

a) Mantém o mesmo sujeito da ativa

b) Transforma o objeto em sujeito

c) Elimina o agente da ação

d) Muda o tempo verbal

e) É impossível em inglês

Resposta: B

Comentário: Na transformação passiva, o objeto direto da ativa (“the book”) torna-se sujeito da passiva, enquanto o sujeito original (“Mary”) torna-se agente da passiva introduzido por “by”.

QUESTÃO 9 (UFMG 2019)

Em “Considero João inteligente”, o termo “inteligente” é:

a) Predicativo do sujeito

b) Predicativo do objeto

c) Adjunto adnominal

d) Complemento nominal

e) Objeto direto

Resposta: B

Comentário: “Inteligente” é predicativo do objeto porque atribui uma qualidade ao objeto direto “João”. O verbo “considerar” é transitivo direto e pede predicativo do objeto.

QUESTÃO 10 (Concurso Professor – RJ 2018)

O phrasal verb “give up” em “Don’t give up your dreams”:

a) Não pode ser separado

b) Pode ser separado: “give your dreams up”

c) É um prepositional verb

d) Não aceita objeto direto

e) É sempre intransitivo

Resposta: B

Comentário: “Give up” é um phrasal verb transitivo separável. Pode aparecer como “give up your dreams” ou “give your dreams up”. Com pronomes, a separação é obrigatória: “give them up”.

📖 Glossário Morfossintático

TERMOS MORFOLÓGICOS

Alomorfe: Variantes de um morfema
Clipping: Truncamento de palavra
Blending: Cruzamento vocabular
Conversão: Mudança de classe sem alteração
Parassíntese: Prefixo + sufixo simultâneos

TERMOS SINTÁTICOS

Constituinte: Unidade sintática
Movimento: Deslocamento de elementos
Vestígio: Posição original após movimento
C-comando: Relação estrutural
Theta-papel: Papel temático

📚 Bibliografia Especializada

Morfologia Portuguesa

MONTEIRO, J. L. Morfologia Portuguesa. 4ª ed. Campinas: Pontes, 2018.

Sintaxe Portuguesa

PERINI, M. A. Gramática do Português Brasileiro. São Paulo: Parábola, 2020.

Morfologia Inglesa

PLAG, I. Word-Formation in English. Cambridge: Cambridge University Press, 2018.

Sintaxe Inglesa

HUDDLESTON, R. & PULLUM, G. The Cambridge Grammar of the English Language. Cambridge: CUP, 2002.

Sintaxe Gerativa

CHOMSKY, N. The Minimalist Program. Cambridge: MIT Press, 1995.

Análise Contrastiva

LADO, R. Linguistics Across Cultures. Ann Arbor: University of Michigan Press, 1957.

🎯 Resumo Final para a PND

Esta apostila completa abordou todos os aspectos essenciais de Morfologia e Sintaxe para a PND Letras:

✅ MORFOLOGIA:
  • Conceitos fundamentais
  • Processos formativos
  • Morfologia do inglês
  • Morfologia flexional
✅ SINTAXE:
  • Fundamentos sintáticos
  • Sintaxe do português
  • Sintaxe do inglês
  • Sintaxe gerativa
✅ INTERFACES:
  • Morfossintaxe
  • Aplicações pedagógicas
  • Análise de erros
  • 30 questões comentadas

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Semântica e Pragmática – PND Letras

SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

Prova Nacional Docente (PND 2025) – Letras Português-Inglês

🎯 Público: Licenciandos em Letras Português-Inglês | 📋 Prova: PND 2025

🔍 Foco: Semântica lexical, composicional e pragmática | 📄 Extensão: 35 páginas

⏱️ Tempo de Estudo: 12-15 horas | 📚 Base: Literatura científica consolidada

📋 SUMÁRIO

PARTE I: SEMÂNTICA LEXICAL
Capítulo 1: Fundamentos Semânticos
Capítulo 2: Relações Semânticas
Capítulo 3: Semântica Cognitiva
PARTE II: SEMÂNTICA COMPOSICIONAL
Capítulo 4: Significado Sentencial
Capítulo 5: Semântica Formal Básica
PARTE III: PRAGMÁTICA
Capítulo 6: Teoria dos Atos de Fala
Capítulo 7: Implicaturas Conversacionais
Capítulo 8: Referência e Dêixis
Capítulo 9: Teoria da Polidez
PARTE IV: INTERFACES E APLICAÇÕES
Capítulo 10: Semântica e Pragmática no Ensino
Recursos Complementares
PARTE I: SEMÂNTICA LEXICAL

CAPÍTULO 1: FUNDAMENTOS SEMÂNTICOS

🔍 Conceito de Significado

📚 O que é Significado?

O significado é um conceito central na linguística, mas sua definição precisa tem sido objeto de debate. Tradicionalmente, distinguem-se diferentes aspectos do significado:

  • Referência: A relação entre expressões linguísticas e entidades no mundo
  • Sentido: O conteúdo conceitual de uma expressão, independente da referência
  • Denotação: O conjunto de entidades às quais uma expressão se aplica
  • Conotação: Associações e valores emotivos ligados a uma expressão

📝 Exemplo Contrastivo: Referência vs. Sentido

Português: “a estrela da manhã” e “a estrela da tarde”

Inglês: “the morning star” e “the evening star”

  • Referência: Ambas se referem ao planeta Vênus (same reference)
  • Sentido: Têm sentidos diferentes (manhã vs. tarde / morning vs. evening)
  • Descoberta empírica: Que se referem ao mesmo objeto foi uma descoberta astronômica
  • Implicação pedagógica: Tradução não é sempre equivalência referencial
🔺 Triângulo Semântico

👥 Ogden & Richards (1923)

Charles Kay Ogden e Ivor Armstrong Richards propuseram o triângulo semântico para explicar a relação entre linguagem, pensamento e realidade.

TRIÂNGULO SEMÂNTICO
PENSAMENTO/CONCEITO
(Referência mental)
SÍMBOLO
(Palavra/Signo)
REFERENTE
(Objeto no mundo)
Relação direta entre símbolo e referente é indireta
(mediada pelo pensamento/conceito)

🧠 Implicações do Triângulo

  • Mediação conceitual: Palavras não se conectam diretamente aos objetos
  • Variação individual: Conceitos podem variar entre falantes
  • Aprendizagem: Adquirimos conceitos através da experiência
  • Tradução: Dificuldades surgem quando conceitos diferem entre línguas
🌐 Campos Semânticos e Redes Lexicais

🎯 Teoria dos Campos Semânticos

Desenvolvida por Jost Trier e outros linguistas alemães, a teoria dos campos semânticos propõe que o léxico de uma língua se organiza em campos – grupos de palavras relacionadas semanticamente.

Características dos campos semânticos:
  • Palavras dentro de um campo se definem mutuamente
  • Mudança em uma palavra afeta todo o campo
  • Campos podem se sobrepor
  • Organização varia entre línguas e culturas

📝 Exemplo Contrastivo: Campo Semântico das Cores

CAMPO SEMÂNTICO: CORES (PT-EN)

Cores Básicas:
vermelho/red – azul/blue – verde/green – amarelo/yellow
preto/black – branco/white

Diferenças Lexicais:
• PT: roxo ≠ EN: purple/violet (distinção mais sutil)
• PT: marrom/castanho ≠ EN: brown (variação regional)
• PT: rosa ≠ EN: pink (gênero gramatical diferente)

Variações Culturais:
• PT: cor-de-rosa, azul-marinho, verde-limão
• EN: navy blue, lime green, hot pink

Implicação Pedagógica: Campos semânticos não se
correspondem perfeitamente entre línguas

🏋️ EXERCÍCIOS: Análise de Significados Lexicais

1. Analise as diferenças de significado entre as seguintes palavras:

a) casa – lar – residência – moradia

b) morrer – falecer – bater as botas – partir

Identifique aspectos denotativos e conotativos.

Resposta:

a) Habitação:

  • Casa: neutro, construção física
  • Lar: conotação afetiva, aconchego
  • Residência: formal, jurídico
  • Moradia: técnico, habitação em geral

b) Morte:

  • Morrer: neutro, direto
  • Falecer: formal, respeitoso
  • Bater as botas: coloquial, humorístico
  • Partir: eufemístico, poético

2. Organize as seguintes palavras em um campo semântico e identifique as relações entre elas:

cachorro – animal – mamífero – pastor alemão – vertebrado – canino – vira-lata

Resposta – Hierarquia Taxonômica:

ANIMAL (superordenado)

VERTEBRADO

MAMÍFERO

CANINO

CACHORRO (nível básico)

PASTOR ALEMÃO / VIRA-LATA (subordinados)
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CAPÍTULO 2: RELAÇÕES SEMÂNTICAS

🔄 Sinonímia

📖 Definição de Sinonímia

A sinonímia é a relação semântica entre palavras ou expressões que têm significados idênticos ou muito similares. Tradicionalmente, distinguem-se três tipos:

Tipo de SinonímiaDefiniçãoExemplo PTExemplo ENCaracterísticas
Total/AbsolutaSignificados idênticos em todos os contextosoftalmologista / oculistaophthalmologist / eye doctorRara; intercambiáveis sempre
ParcialSignificados similares, mas não idênticosbonito / belobeautiful / prettyDiferenças de registro ou conotação
ContextualEquivalência apenas em contextos específicoscabeça / mentehead / mindDependente do contexto de uso
Falsos AmigosFormas similares, significados diferentesexquisito ≠ exquisiteatestar ≠ attestArmadilha para aprendizes

🎯 Questões Teóricas da Sinonímia

  • Sinonímia perfeita é rara: Geralmente há diferenças sutis
  • Variação diacrônica: Sinônimos podem divergir ao longo do tempo
  • Variação diatópica: Sinônimos podem variar regionalmente
  • Variação diastrática: Diferenças de registro social
⚡ Antonímia

🔄 Tipos de Antonímia

A antonímia envolve oposição semântica, mas nem todas as oposições são iguais. Lyons (1977) distingue três tipos principais:

TipoCaracterísticasExemploTeste
ComplementarOposição binária, sem gradaçãovivo / mortoSe não é A, então é B
GradualOposição em escala, com gradaçõesquente / frioAdmite intensificadores
ConversaPerspectivas diferentes da mesma relaçãocomprar / venderSe A faz X para B, B faz Y para A

📝 Análise de Antonímia Gradual

ESCALA TÉRMICA

gelado ← frio ← morno ← quente ← fervente

Características:
• Termos polares: frio ↔ quente
• Termo neutro: morno
• Gradação possível: “muito frio”, “um pouco quente”
• Relatividade: “frio” varia conforme contexto

Teste de Antonímia Gradual:
“Se não está frio, não significa que está quente”
(pode estar morno)
🌳 Hiponímia e Hiperonímia

📊 Hierarquias Semânticas

A hiponímia é uma relação hierárquica onde um termo (hipônimo) está semanticamente incluído em outro (hiperônimo). Esta relação estrutura grande parte do nosso conhecimento lexical.

Propriedades da hiponímia:
  • Assimetria: Se A é hipônimo de B, B não é hipônimo de A
  • Transitividade: Se A é hipônimo de B e B de C, então A é hipônimo de C
  • Implicação unidirecional: “É um X” implica “É um Y” (hiperônimo)

📝 Hierarquia: Reino Animal

HIERARQUIA TAXONÔMICA

Nível 4: ANIMAL (superordenado)

Nível 3: MAMÍFERO, PÁSSARO, PEIXE (ordenados)

Nível 2: CACHORRO, GATO (nível básico)

Nível 1: PASTOR ALEMÃO, SIAMÊS (subordinados)

Co-hipônimos: Termos no mesmo nível
(cachorro e gato são co-hipônimos de mamífero)
🧩 Meronímia e Holonímia

🔗 Relações Parte-Todo

A meronímia expressa relações parte-todo, onde um termo (merônimo) denota uma parte de outro (holônimo). Diferentemente da hiponímia, não envolve inclusão de classes, mas decomposição física ou conceitual.

Tipo de MeronímiaRelaçãoExemploCaracterísticas
Parte-TodoComponente físicodedo → mãoDecomposição anatômica
Membro-ColeçãoElemento de conjuntoárvore → florestaAgregação de elementos
Porção-MassaQuantidade de substânciafatia → pãoDivisão de massa
🎭 Polissemia vs. Homonímia

🔍 Distinção Teórica

A distinção entre polissemia e homonímia é fundamental mas controversa. Tradicionalmente:

  • Polissemia: Uma palavra com múltiplos significados relacionados
  • Homonímia: Palavras diferentes que compartilham a mesma forma

📝 Análise Comparativa

POLISSEMIA: “CABEÇA”
1. Parte do corpo: “Dói minha cabeça”
2. Mente/intelecto: “Use a cabeça”
3. Líder: “Cabeça do grupo”
4. Extremidade: “Cabeça do prego”
→ Significados relacionados por extensão metafórica

HOMONÍMIA: “BANCO”
1. Instituição financeira: “Vou ao banco”
2. Assento: “Sentei no banco”
→ Significados não relacionados historicamente

CRITÉRIOS DE DISTINÇÃO:
• Etimologia (origem histórica)
• Intuição dos falantes
• Relacionamento semântico
• Comportamento sintático

🏋️ EXERCÍCIOS: Identificação e Análise de Relações Semânticas

1. Identifique o tipo de relação semântica entre os pares:

a) médico / doutor

b) comprar / vender

c) flor / rosa

d) roda / carro

e) quente / frio

Respostas:

  • a) médico / doutor: Sinonímia parcial (diferenças de registro)
  • b) comprar / vender: Antonímia conversa (perspectivas da mesma transação)
  • c) flor / rosa: Hiperonímia/hiponímia (rosa é tipo de flor)
  • d) roda / carro: Meronímia (roda é parte do carro)
  • e) quente / frio: Antonímia gradual (opostos em escala)

2. Analise se “manga” (fruta/roupa) é caso de polissemia ou homonímia. Justifique.

Resposta:

Homonímia – As duas palavras “manga” têm origens etimológicas distintas:

  • Manga (fruta): Do malaio “mangga”
  • Manga (roupa): Do latim “manica”
  • Critério: Não há relação semântica entre os significados
  • Teste: Falantes não percebem conexão conceitual

3. Construa uma hierarquia semântica para: veículo, transporte, bicicleta, mountain bike, meio de locomoção.

Hierarquia Semântica:

MEIO DE LOCOMOÇÃO (superordenado)

TRANSPORTE

VEÍCULO

BICICLETA (nível básico)

MOUNTAIN BIKE (subordinado)
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CAPÍTULO 3: SEMÂNTICA COGNITIVA

🧠 Teoria dos Protótipos

👩‍🔬 Eleanor Rosch (1973-1978)

Eleanor Rosch revolucionou o estudo da categorização ao propor que as categorias não têm fronteiras rígidas, mas são organizadas em torno de protótipos – membros mais representativos da categoria.

🎯 Princípios da Teoria Prototípica

  • Estrutura interna das categorias: Membros não são igualmente representativos
  • Efeitos de prototipicidade: Alguns exemplos são melhores que outros
  • Fronteiras difusas: Limites categóricos não são claros
  • Níveis de categorização: Hierarquia com nível básico privilegiado

📝 Experimentos Clássicos de Rosch

CATEGORIA: PÁSSARO

MEMBROS PROTOTÍPICOS (resposta rápida):
• Pardal: 1.1 (muito prototípico)
• Robin: 1.1 (muito prototípico)
• Águia: 1.2 (prototípico)

MEMBROS PERIFÉRICOS (resposta lenta):
• Galinha: 3.8 (pouco prototípico)
• Avestruz: 4.2 (pouco prototípico)
• Pinguim: 4.5 (muito pouco prototípico)

MEDIDAS EXPERIMENTAIS:
• Tempo de reação para julgamentos
• Ordem de listagem em tarefas livres
• Frequência de menção
• Facilidade de aprendizagem
📊 Categorização e Efeitos Prototípicos

🔬 Evidências Experimentais

Os efeitos prototípicos manifestam-se em diversos aspectos da cognição e linguagem:

  • Tempo de processamento: Protótipos são processados mais rapidamente
  • Aprendizagem: Crianças aprendem protótipos primeiro
  • Memória: Protótipos são lembrados com mais facilidade
  • Generalização: Novos membros são julgados por similaridade ao protótipo
Nível de CategorizaçãoCaracterísticasExemploPropriedades
SuperordenadoMuito geral, poucos atributosmóvelAbstrato, pouco informativo
BásicoNível privilegiado cognitivamentecadeiraMáxima informatividade
SubordinadoMuito específico, muitos atributoscadeira de balançoDetalhado, especializado
🌉 Metáfora Conceptual

👥 Lakoff & Johnson (1980)

George Lakoff e Mark Johnson propuseram que a metáfora não é apenas um recurso poético, mas um mecanismo cognitivo fundamental que estrutura nosso pensamento e linguagem.

🧠 Metáfora Conceptual vs. Expressão Metafórica

  • Metáfora conceptual: Mapeamento cognitivo entre domínios
  • Expressão metafórica: Realização linguística da metáfora conceptual
  • Sistematicidade: Uma metáfora conceptual gera múltiplas expressões
  • Corporeidade: Muitas metáforas baseiam-se na experiência física

📝 Análise Contrastiva: DISCUSSÃO É GUERRA

METÁFORA CONCEPTUAL: ARGUMENT IS WAR

MAPEAMENTOS UNIVERSAIS:
• Participantes da discussão → Combatentes
• Argumentos → Armas / Arguments → Weapons
• Vencer a discussão → Vencer a batalha

EXPRESSÕES EM PORTUGUÊS:
• “Seus argumentos são indefensáveis”
• “Ele atacou todos os pontos fracos”
• “Demoliu minha argumentação”

EXPRESSÕES EM INGLÊS:
• “Your arguments are indefensible”
• “He shot down all my arguments”
• “I demolished his argument”

DIFERENÇAS CULTURAIS:
• PT: “bater boca” (aspecto físico)
• EN: “verbal sparring” (esporte de combate)

IMPLICAÇÃO PEDAGÓGICA: Metáforas conceptuais
são amplamente universais, mas realizações
linguísticas podem variar
🔄 Metonímia e Processos Cognitivos

📖 Metonímia Conceptual

A metonímia é um processo cognitivo onde usamos uma entidade para nos referirmos a outra dentro do mesmo domínio conceptual. Diferentemente da metáfora, não envolve mapeamento entre domínios distintos.

Tipo de MetonímiaRelaçãoExemploEstrutura
Parte pelo TodoSinédoque“Preciso de braços para trabalhar”Braços → Pessoas
Produtor pelo ProdutoOrigem“Comprei um Ford”Ford → Carro da Ford
Lugar pela InstituiçãoLocalização“Brasília decidiu aumentar impostos”Brasília → Governo
Instrumento pela AçãoMeio“Ele tem uma boa pena”Pena → Escrita

🏋️ EXERCÍCIOS: Análise Prototípica e Metafórica

1. Ordene os seguintes itens do mais prototípico ao menos prototípico para a categoria FRUTA:

maçã – tomate – banana – coco – azeitona – ruibarbo

Justifique sua ordenação com base nos critérios prototípicos.

Ordenação Prototípica:

  1. Maçã: Muito prototípica (doce, comida crua, árvore, formato típico)
  2. Banana: Muito prototípica (doce, popular, formato reconhecível)
  3. Coco: Moderadamente prototípica (doce, mas formato atípico)
  4. Tomate: Pouco prototípica (botanicamente fruta, culinariamente vegetal)
  5. Azeitona: Pouco prototípica (salgada, processada, pequena)
  6. Ruibarbo: Muito pouco prototípica (ácido, usado como vegetal)

Critérios: Doçura, consumo cru, tamanho, formato, frequência de consumo

2. Identifique a metáfora conceptual subjacente às seguintes expressões:

a) “O tempo é dinheiro”

b) “Estou perdendo tempo”

c) “Investi muito tempo neste projeto”

d) “Não tenho tempo a perder”

Metáfora Conceptual: TEMPO É DINHEIRO

Mapeamentos:
  • Tempo → Recurso valioso
  • Usar tempo → Gastar dinheiro
  • Tempo perdido → Dinheiro perdido
  • Tempo investido → Investimento financeiro

Implicações: Esta metáfora estrutura nossa relação com o tempo em sociedades capitalistas, enfatizando eficiência e produtividade.

3. Classifique os seguintes casos como metáfora ou metonímia:

a) “Ele quebrou meu coração”

b) “A Casa Branca anunciou novas medidas”

c) “Ela tem um coração de ouro”

d) “Leu Shakespeare na escola”

Classificação:

  • a) “Quebrou meu coração”: METÁFORA (dor emocional → dano físico)
  • b) “Casa Branca anunciou”: METONÍMIA (lugar → instituição)
  • c) “Coração de ouro”: METÁFORA (bondade → metal precioso)
  • d) “Leu Shakespeare”: METONÍMIA (autor → obras do autor)
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PARTE II: SEMÂNTICA COMPOSICIONAL

CAPÍTULO 4: SIGNIFICADO SENTENCIAL

🧩 Princípio da Composicionalidade

📐 Definição Clássica

O Princípio da Composicionalidade, atribuído a Gottlob Frege, estabelece que o significado de uma expressão complexa é uma função dos significados de suas partes constituintes e do modo como essas partes se combinam sintaticamente.

Significado(Expressão Complexa) = f(Significados das Partes + Regras de Combinação)

🎯 Importância Teórica

  • Produtividade: Explica como compreendemos sentenças inéditas
  • Sistematicidade: Padrões regulares de interpretação
  • Aprendibilidade: Como adquirimos competência semântica
  • Computabilidade: Base para processamento automático

📝 Análise Composicional

SENTENÇA: “O gato preto dormiu”

DECOMPOSIÇÃO:
• “o” = artigo definido (especificidade)
• “gato” = substantivo (entidade felina)
• “preto” = adjetivo (propriedade cromática)
• “dormiu” = verbo (ação/estado no passado)

COMPOSIÇÃO HIERÁRQUICA:
1. [gato preto] = gato com propriedade de ser preto
2. [o gato preto] = gato preto específico
3. [dormiu] = ação de dormir no passado
4. [o gato preto dormiu] = gato específico realizou ação

RESULTADO: Proposição sobre evento passado
envolvendo entidade específica
🎭 Papéis Temáticos

🎪 Teoria dos Papéis Temáticos

Os papéis temáticos (ou theta-roles) especificam as relações semânticas entre predicados e seus argumentos, capturando intuições sobre “quem faz o quê para quem” nas sentenças.

Papel TemáticoDefiniçãoExemploCaracterísticas
AGENTEIniciador consciente e intencional“João quebrou o vaso”Controle, volição, animacidade
PACIENTEEntidade afetada pela ação“O vaso quebrou”Mudança de estado
TEMAEntidade movida ou localizada“João enviou a carta”Movimento, transferência
EXPERIENCIADOREntidade que experimenta estado psicológico“Maria teme aranhas”Estados mentais, emoções
BENEFICIÁRIOEntidade que se beneficia da ação“Comprei flores para Ana”Recebimento de benefício
INSTRUMENTOMeio usado para realizar ação“Cortou com a faca”Ferramenta, meio
LOCATIVOLugar onde ocorre a ação“Estudou na biblioteca”Localização espacial
🏗️ Estrutura Argumental dos Verbos

📋 Grade Temática

Cada verbo possui uma grade temática que especifica quantos e quais tipos de argumentos ele seleciona, determinando a estrutura básica da sentença.

📝 Análise de Grades Temáticas

VERBOS E SUAS GRADES:

DORMIR: <AGENTE>
• “João dormiu”
• Verbo intransitivo, um argumento

QUEBRAR: <AGENTE, PACIENTE>
• “João quebrou o vaso”
• Verbo transitivo, dois argumentos

DAR: <AGENTE, TEMA, BENEFICIÁRIO>
• “João deu o livro para Maria”
• Verbo ditransitivo, três argumentos

COLOCAR: <AGENTE, TEMA, LOCATIVO>
• “João colocou o livro na mesa”
• Verbo com argumento locativo obrigatório

TEMER: <EXPERIENCIADOR, TEMA>
• “Maria teme aranhas”
• Verbo psicológico, experienciador como sujeito

🏋️ EXERCÍCIOS: Análise de Estruturas Argumentais

1. Identifique os papéis temáticos dos argumentos nas seguintes sentenças:

a) “O menino chutou a bola com o pé”

b) “A carta chegou para Maria ontem”

c) “João teme trovões desde criança”

d) “A professora ensinou matemática aos alunos”

Análise dos Papéis Temáticos:

a) “O menino chutou a bola com o pé”

  • “O menino” = AGENTE (iniciador da ação)
  • “a bola” = PACIENTE (entidade afetada)
  • “com o pé” = INSTRUMENTO (meio usado)

b) “A carta chegou para Maria ontem”

  • “A carta” = TEMA (entidade em movimento)
  • “para Maria” = BENEFICIÁRIO (destinatário)
  • “ontem” = TEMPORAL (tempo da ação)

c) “João teme trovões desde criança”

  • “João” = EXPERIENCIADOR (quem sente)
  • “trovões” = TEMA (objeto do medo)
  • “desde criança” = TEMPORAL (duração)

d) “A professora ensinou matemática aos alunos”

  • “A professora” = AGENTE (quem ensina)
  • “matemática” = TEMA (conteúdo ensinado)
  • “aos alunos” = BENEFICIÁRIO (quem recebe o ensino)

2. Determine a grade temática dos seguintes verbos e construa uma sentença para cada:

a) vender

b) gostar

c) transformar

d) residir

Grades Temáticas e Exemplos:

a) VENDER: <AGENTE, TEMA, BENEFICIÁRIO>

  • Exemplo: “João vendeu o carro para Pedro”
  • Transferência de posse mediante pagamento

b) GOSTAR: <EXPERIENCIADOR, TEMA>

  • Exemplo: “Maria gosta de chocolate”
  • Verbo psicológico, estado mental

c) TRANSFORMAR: <AGENTE, PACIENTE, (RESULTADO)>

  • Exemplo: “O mago transformou o sapo em príncipe”
  • Mudança de estado com resultado específico

d) RESIDIR: <TEMA, LOCATIVO>

  • Exemplo: “João reside em São Paulo”
  • Localização permanente, argumento locativo obrigatório
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CAPÍTULO 5: SEMÂNTICA FORMAL BÁSICA

✅ Condições de Verdade

🎯 Semântica Veritativo-Condicional

A semântica de condições de verdade propõe que conhecer o significado de uma sentença é conhecer as condições sob as quais ela seria verdadeira. Esta abordagem, desenvolvida por Alfred Tarski e outros, fornece uma base formal para a semântica.

🔍 Princípios Fundamentais

  • Bivalência: Sentenças são verdadeiras ou falsas
  • Composicionalidade: Verdade de complexos depende das partes
  • Correspondência: Verdade como correspondência com a realidade
  • Sistematicidade: Regras regulares para calcular verdade

📝 Análise de Condições de Verdade

SENTENÇA: “O gato está no tapete”

CONDIÇÕES DE VERDADE:
A sentença é verdadeira se e somente se:
• Existe uma entidade que é um gato
• Existe uma entidade que é um tapete
• O gato está localizado sobre/em cima do tapete
• No momento da enunciação

FORMALIZAÇÃO:
∃x∃y [Gato(x) ∧ Tapete(y) ∧ Em(x,y)]

INTERPRETAÇÃO:
“Existe um x e um y tal que x é gato,
y é tapete, e x está em y”
🔢 Quantificação

📊 Quantificadores Lógicos

Os quantificadores expressam informações sobre quantidade e são fundamentais para a interpretação semântica. Os dois quantificadores básicos são o universal (∀) e o existencial (∃).

QuantificadorSímboloExpressões LinguísticasCondições de Verdade
Universaltodo, cada, qualquerVerdadeiro para todos os elementos
Existencialalgum, um, existeVerdadeiro para pelo menos um elemento
Negação Universal¬∀ / ∃¬nem todo, não todosFalso para pelo menos um elemento
Negação Existencial¬∃ / ∀¬nenhum, não existeFalso para todos os elementos

📝 Análise de Quantificação

SENTENÇAS QUANTIFICADAS:

1. “Todo gato é mamífero”
• Formalização: ∀x [Gato(x) → Mamífero(x)]
• Leitura: Para todo x, se x é gato, então x é mamífero
• Verdadeira se não há gatos não-mamíferos

2. “Algum gato é preto”
• Formalização: ∃x [Gato(x) ∧ Preto(x)]
• Leitura: Existe um x tal que x é gato e x é preto
• Verdadeira se há pelo menos um gato preto

3. “Nenhum gato é verde”
• Formalização: ¬∃x [Gato(x) ∧ Verde(x)]
• Equivalente: ∀x [Gato(x) → ¬Verde(x)]
• Verdadeira se não há gatos verdes
🎭 Modalidade

🌟 Modalidade Linguística

A modalidade expressa a atitude do falante em relação à proposição, indicando necessidade, possibilidade, probabilidade, ou outros tipos de julgamento modal.

Tipo de ModalidadeCaracterísticasExpressõesExemplo
EpistêmicaConhecimento, crençatalvez, provavelmente, certamente“João deve estar em casa”
DeônticaObrigação, permissãodeve, pode, tem que“Você deve estudar”
DinâmicaHabilidade, disposiçãoconsegue, é capaz de“João pode nadar”
BuléticaDesejo, vontadequero que, espero que“Quero que chova”
⏰ Tempo e Aspecto Verbal

🕐 Tempo vs. Aspecto

  • Tempo: Localização temporal do evento (passado, presente, futuro)
  • Aspecto: Estrutura interna temporal do evento (perfectivo, imperfectivo)
  • Interação: Tempo e aspecto interagem na interpretação temporal
  • Variação linguística: Línguas diferem na expressão de tempo/aspecto

📝 Análise Temporal Contrastiva (PT-EN)

SISTEMAS TEMPORAIS COMPARADOS

PRESENTE:
• PT: “João canta” (habitual/presente)
• EN: “John sings” (habitual) vs “John is singing” (progressivo)

PASSADO:
• PT: “cantou” (perfectivo) vs “cantava” (imperfectivo)
• EN: “sang” (passado simples) vs “was singing” (progressivo)

PRESENTE PERFEITO:
• PT: “tem cantado” (ação repetida até agora)
• EN: “has sung” (experiência passada relevante)

DIFERENÇAS CRUCIAIS:
• PT: distinção perfectivo/imperfectivo morfológica
• EN: distinção simples/progressivo mais sistemática
• PT: gerúndio menos gramaticalizado
• EN: present perfect com usos mais específicos

IMPLICAÇÃO PEDAGÓGICA: Sistemas temporais
não se correspondem diretamente

🏋️ EXERCÍCIOS: Análise Lógico-Semântica

1. Formalize as seguintes sentenças usando lógica de predicados:

a) “Todo estudante lê algum livro”

b) “Nenhum gato late”

c) “Alguns professores são estudiosos”

d) “Se chover, a festa será cancelada”

Formalizações:

a) “Todo estudante lê algum livro”

  • ∀x [Estudante(x) → ∃y [Livro(y) ∧ Lê(x,y)]]
  • Para todo x, se x é estudante, então existe y tal que y é livro e x lê y

b) “Nenhum gato late”

  • ¬∃x [Gato(x) ∧ Late(x)]
  • Equivalente: ∀x [Gato(x) → ¬Late(x)]

c) “Alguns professores são estudiosos”

  • ∃x [Professor(x) ∧ Estudioso(x)]
  • Existe x tal que x é professor e x é estudioso

d) “Se chover, a festa será cancelada”

  • Chover → Cancelada(festa)
  • Condicional simples com proposições

2. Identifique o tipo de modalidade nas seguintes sentenças:

a) “João deve chegar às 8h” (obrigação)

b) “João deve estar em casa” (inferência)

c) “João pode nadar 1km” (habilidade)

d) “Pode chover amanhã” (possibilidade)

Tipos de Modalidade:

  • a) “João deve chegar às 8h”: DEÔNTICA (obrigação, compromisso)
  • b) “João deve estar em casa”: EPISTÊMICA (inferência baseada em evidência)
  • c) “João pode nadar 1km”: DINÂMICA (habilidade física)
  • d) “Pode chover amanhã”: EPISTÊMICA (possibilidade baseada em conhecimento)

Observação: O mesmo verbo modal pode expressar diferentes tipos de modalidade dependendo do contexto.

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PARTE III: PRAGMÁTICA

🎯 Relevância para Letras Português-Inglês

A pragmática é especialmente crucial para licenciandos em Português-Inglês porque:

  • Competência intercultural: Atos de fala variam entre culturas
  • Ensino de línguas: Pragmática é essencial para fluência
  • Tradução: Equivalência pragmática vs. semântica
  • Análise contrastiva: Diferenças sistemáticas PT-EN
  • Formação docente: Consciência pragmática do professor

CAPÍTULO 6: TEORIA DOS ATOS DE FALA

🎭 Austin: Performativos e Constatativos

👨‍🏫 John Langshaw Austin (1911-1960)

Austin revolucionou a filosofia da linguagem ao questionar a visão tradicional de que a linguagem serve apenas para descrever o mundo. Em suas conferências “How to Do Things with Words” (1962), mostrou que muitas expressões linguísticas realizam ações.

🔄 Descoberta dos Performativos

Austin inicialmente distinguiu entre:

  • Constatativos: Enunciados que descrevem estados de coisas (verdadeiros ou falsos)
  • Performativos: Enunciados que realizam ações (felizes ou infelizes)

Posteriormente, percebeu que todos os enunciados têm dimensão performativa.

📝 Performativos Contrastivos (PT-EN)

ESTRUTURA DOS PERFORMATIVOS:

PORTUGUÊS:
• “Prometo estar lá às 8h”
• “Peço desculpas pelo atraso”
• “Declaro vocês marido e mulher”
• “Aposto 10 reais que vai chover”

INGLÊS:
• “I promise to be there at 8”
• “I apologize for being late”
• “I pronounce you husband and wife”
• “I bet 10 dollars it will rain”

DIFERENÇAS CULTURAIS:
• PT: “Peço desculpas” (mais formal)
• EN: “Sorry” (mais comum que “I apologize”)
• PT: Uso de subjuntivo em contextos formais
• EN: Estruturas mais diretas

IMPLICAÇÃO PEDAGÓGICA: Atos de fala variam
culturalmente em forma e frequência de uso
🎪 Teoria Tripartite dos Atos de Fala

🎯 Três Dimensões do Ato de Fala

Austin propôs que todo ato de fala possui três dimensões simultâneas:

Tipo de AtoDefiniçãoExemploFoco
LocucionárioAto de dizer algo com sentido e referênciaProferir “Está frio aqui”Significado linguístico
IlocucionárioAto realizado ao dizer algoFazer um pedido (para fechar janela)Força/intenção comunicativa
PerlocucionárioEfeito causado por dizer algoConseguir que fechem a janelaConsequências/efeitos
🏛️ Searle: Taxonomia dos Atos Ilocucionários

👨‍🎓 John Rogers Searle (1932-)

Searle desenvolveu e sistematizou a teoria austiniana, propondo uma taxonomia dos atos ilocucionários baseada em critérios como objetivo ilocucionário, direção de ajuste e estados psicológicos expressos.

ClasseObjetivo IlocucionárioDireção de AjusteExemplo
ASSERTIVOSComprometer falante com verdadePalavras → Mundo“Afirmo que está chovendo”
DIRETIVOSFazer ouvinte realizar açãoMundo → Palavras“Feche a porta, por favor”
COMPROMISSIVOSComprometer falante com ação futuraMundo → Palavras“Prometo ajudar você”
EXPRESSIVOSExpressar estado psicológicoNenhuma“Obrigado pela ajuda”
DECLARATIVOSAlterar realidade pela declaraçãoDupla“Declaro a sessão aberta”
🌊 Atos de Fala Indiretos

🎭 Indiretividade na Comunicação

Os atos de fala indiretos ocorrem quando realizamos um ato ilocucionário por meio de outro. São fundamentais para a polidez e eficiência comunicativa.

📝 Análise de Atos Indiretos

PEDIDO INDIRETO: “Você pode fechar a janela?”

ATO PRIMÁRIO (DIRETO):
• Tipo: Pergunta sobre habilidade
• Força ilocucionária: Interrogativo
• Resposta esperada: “Sim” ou “Não”

ATO SECUNDÁRIO (INDIRETO):
• Tipo: Pedido para fechar janela
• Força ilocucionária: Diretivo
• Resposta esperada: Ação de fechar

MECANISMO DE INFERÊNCIA:
1. Reconhecimento do ato literal
2. Percepção de inadequação contextual
3. Busca por intenção alternativa
4. Inferência do ato indireto

VANTAGENS DA INDIRETIVIDADE:
• Polidez (menos impositivo)
• Flexibilidade (permite recusa fácil)
• Eficiência (múltiplas interpretações)

🏋️ EXERCÍCIOS: Identificação e Análise de Atos de Fala

1. Identifique os atos locucionário, ilocucionário e perlocucionário na seguinte situação:

Contexto: Professor em sala de aula diz: “Está muito barulho aqui”

Resultado: Alunos fazem silêncio

Análise Tripartite:

  • Ato Locucionário: Proferir a sentença “Está muito barulho aqui” com significado literal (constatação sobre nível de ruído)
  • Ato Ilocucionário: Fazer um pedido/ordem indireta para que os alunos façam silêncio
  • Ato Perlocucionário: Conseguir que os alunos efetivamente parem de fazer barulho

Observação: O ato ilocucionário é indireto – usa-se uma constatação para realizar um diretivo.

2. Classifique os seguintes atos de fala segundo a taxonomia de Searle:

a) “Juro que não fui eu”

b) “Ordeno que se retire”

c) “Parabéns pela promoção”

d) “Prometo devolver amanhã”

e) “Declaro o réu culpado”

Classificação dos Atos:

  • a) “Juro que não fui eu”: ASSERTIVO (comprometimento com verdade de proposição)
  • b) “Ordeno que se retire”: DIRETIVO (tentativa de fazer ouvinte agir)
  • c) “Parabéns pela promoção”: EXPRESSIVO (expressão de estado psicológico – alegria)
  • d) “Prometo devolver amanhã”: COMPROMISSIVO (comprometimento com ação futura)
  • e) “Declaro o réu culpado”: DECLARATIVO (mudança da realidade institucional)

3. Analise a indiretividade nos seguintes casos:

a) “Você tem horas?” (para saber que horas são)

b) “Você poderia passar o sal?” (à mesa)

c) “Que calor!” (pedindo para ligar ar condicionado)

Análise da Indiretividade:

a) “Você tem horas?”

  • Ato direto: Pergunta sobre posse de relógio
  • Ato indireto: Pedido para informar as horas
  • Estratégia: Condição preparatória (ter relógio é pré-requisito)

b) “Você poderia passar o sal?”

  • Ato direto: Pergunta sobre habilidade/possibilidade
  • Ato indireto: Pedido para passar o sal
  • Estratégia: Questionamento de condição preparatória

c) “Que calor!”

  • Ato direto: Exclamação/constatação sobre temperatura
  • Ato indireto: Pedido para ligar ar condicionado
  • Estratégia: Menção da razão para a ação desejada
Páginas 31-35 de 35
PARTE IV: APLICAÇÕES PEDAGÓGICAS

CAPÍTULO 10: SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA NO ENSINO DE LÍNGUAS

🎓 Implicações para o Ensino de Português

📚 Ensino de Semântica Lexical

  • Campos semânticos: Organizar vocabulário tematicamente
  • Relações semânticas: Ensinar sinonímia, antonímia, hiponímia
  • Polissemia: Explorar múltiplos significados contextuais
  • Metáforas: Desenvolver consciência metafórica
  • Variação semântica: Registros, dialetos, mudança histórica
🌍 Implicações para o Ensino de Inglês

🔄 Análise Contrastiva Aplicada

  • Falsos cognatos: “Exquisite” ≠ “esquisito”
  • Lacunas lexicais: “Saudade” sem equivalente direto
  • Diferenças aspectuais: Present perfect vs. presente perfeito
  • Modalidade: “Must” vs. “dever” (diferentes usos)
  • Pragmática intercultural: Polidez, diretividade, cortesia

📝 Atividade Pedagógica: Atos de Fala Contrastivos

OBJETIVO: Desenvolver competência pragmática intercultural

SITUAÇÃO: Pedido em restaurante

PORTUGUÊS (mais direto):
• “Eu quero um café”
• “Me traz um café”
• “Você pode trazer um café?”

INGLÊS (mais indireto):
• “Could I have a coffee, please?”
• “I’d like a coffee, please”
• “May I have a coffee?”

ANÁLISE:
• Inglês prefere maior indiretividade
• “Please” é mais obrigatório em inglês
• Português aceita mais diretividade

IMPLICAÇÃO PEDAGÓGICA: Ensinar não apenas
formas linguísticas, mas normas culturais
🔧 Estratégias Metodológicas

🎯 Abordagens Integradas

  • Consciência metalinguística: Reflexão sobre significado e uso
  • Análise de corpus: Padrões reais de uso linguístico
  • Atividades contrastivas: Comparação sistemática PT-EN
  • Pragmática em contexto: Situações comunicativas autênticas
  • Desenvolvimento da competência intercultural

🏋️ EXERCÍCIO FINAL: Análise Pedagógica Integrada

Situação: Você é professor(a) de inglês e um aluno pergunta: “Por que não posso dizer ‘I am agreeing with you’ se posso dizer ‘I am working’?”

Tarefa: Elabore uma explicação que integre conhecimentos de semântica e pragmática, considerando:

  • Aspectos semânticos dos verbos
  • Diferenças entre português e inglês
  • Estratégias pedagógicas apropriadas

Explicação Pedagógica Integrada:

1. Análise Semântica:

  • “Work”: Verbo dinâmico, expressa atividade em progresso
  • “Agree”: Verbo estativo, expressa estado mental/opinião
  • Regra: Verbos estativos raramente usam forma progressiva

2. Contraste PT-EN:

  • Português: “Estou concordando” é possível (menos restrições)
  • Inglês: Distinção estativo/dinâmico mais rígida
  • Interferência: Aluno transfere padrão do português

3. Estratégia Pedagógica:

  • Consciência metalinguística: Explicar diferença estativo/dinâmico
  • Exemplos contrastivos: Mostrar padrões em ambas as línguas
  • Prática contextualizada: Exercícios com situações reais
  • Feedback positivo: Valorizar tentativa de aplicar regra

📚 Bibliografia Essencial

  • AUSTIN, J.L. (1962). How to Do Things with Words. Oxford University Press.
  • SEARLE, J.R. (1969). Speech Acts: An Essay in the Philosophy of Language. Cambridge University Press.
  • GRICE, H.P. (1975). Logic and Conversation. In: Syntax and Semantics, vol. 3. Academic Press.
  • BROWN, P. & LEVINSON, S. (1987). Politeness: Some Universals in Language Usage. Cambridge University Press.
  • LAKOFF, G. & JOHNSON, M. (1980). Metaphors We Live By. University of Chicago Press.
  • ROSCH, E. (1978). Principles of Categorization. In: Cognition and Categorization. Lawrence Erlbaum.
  • LYONS, J. (1977). Semantics. Cambridge University Press.
  • KEMPSON, R. (1977). Semantic Theory. Cambridge University Press.
  • LEVINSON, S. (1983). Pragmatics. Cambridge University Press.
  • CRUSE, D.A. (1986). Lexical Semantics. Cambridge University Press.

🎯 Resumo Final para PND

Pontos essenciais para dominar:

  • Semântica Lexical: Relações semânticas, campos semânticos, teoria dos protótipos
  • Semântica Composicional: Princípio da composicionalidade, papéis temáticos, estrutura argumental
  • Semântica Formal: Condições de verdade, quantificação, modalidade, tempo e aspecto
  • Pragmática: Atos de fala, implicaturas conversacionais, teoria da polidez
  • Interfaces: Relação entre semântica e pragmática, aplicações ao ensino

Competências desenvolvidas:

  • Análise semântica de palavras e sentenças
  • Identificação de relações semânticas
  • Compreensão de processos pragmáticos
  • Aplicação de teorias ao ensino de línguas
  • Reflexão sobre linguagem e cognição
📄 SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA – PND 2025 LETRAS PORTUGUÊS-INGLÊS | Apostila Completa – 35 páginas


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Sociolinguística e Variação Linguística – PND Letras

SOCIOLINGUÍSTICA E VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

Prova Nacional Docente (PND 2025)

Licenciatura em Letras Português-Inglês

📚 40 páginas completas 🗺️ Variação regional detalhada 👥 Fenômenos sociais 🎯 30 questões comentadas

📋 SUMÁRIO DETALHADO

PARTE I: FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Capítulo 1: Conceitos Fundamentais
  • Língua como fato social (Meillet, Labov)
  • Comunidade de fala vs. comunidade de prática
  • Repertório linguístico e competência comunicativa
  • Norma e uso: prescrição vs. descrição
Capítulo 2: Tipos de Variação
  • Variação diatópica (geográfica)
  • Variação diastrática (social)
  • Variação diafásica (estilística)
  • Variação diacrônica (temporal)

PARTE II: VARIAÇÃO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

Capítulo 3: Variação Fonético-Fonológica
  • Realização do /r/ em coda
  • Palatalização de /t, d/
  • Monotongação e ditongação
  • Rotacismo e lambdacismo
Capítulo 4: Variação Morfossintática
  • Concordância verbal e nominal
  • Sistema pronominal brasileiro
  • Estratégias de relativização
  • Colocação pronominal
Capítulo 5: Variação Lexical
  • Regionalismos e atlas linguísticos
  • Gírias e linguagens especializadas
  • Empréstimos e estrangeirismos
  • Neologismos e arcaísmos

PARTE III: FENÔMENOS SOCIOLINGUÍSTICOS

Capítulo 6: Diglossia e Bilinguismo
  • Conceitos de Ferguson e Fishman
  • Code-switching e code-mixing
  • Situação linguística brasileira
Capítulo 7: Preconceito Linguístico
  • Mitos sobre a língua (Bagno)
  • Prestígio e estigma linguístico
  • Ideologias linguísticas
Capítulo 8: Mudança Linguística
  • Variação como motor da mudança
  • Difusão lexical e gramaticalização
  • Tempo aparente vs. tempo real

PARTE IV: SOCIOLINGUÍSTICA APLICADA

Capítulo 9: Políticas Linguísticas
  • Planejamento linguístico
  • Línguas minoritárias no Brasil
  • Legislação e direitos linguísticos
Capítulo 10: Sociolinguística Educacional
  • Bidialetalismo e pedagogia da variação
  • Norma culta vs. variedades populares
  • Propostas didáticas inclusivas

PARTE V: METODOLOGIA DE PESQUISA

Capítulo 11: Pesquisa Sociolinguística
  • Metodologia laboviana
  • Variáveis linguísticas e sociais
  • Análise quantitativa e qualitativa
  • Paradoxo do observador

RECURSOS COMPLEMENTARES

  • Atlas linguísticos e mapas de isoglossas
  • 30 questões de concurso comentadas
  • Corpus de variação linguística
  • Bibliografia especializada atualizada
  • Glossário de termos técnicos
  • Índice remissivo completo

PARTE I: FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Base conceitual da Sociolinguística moderna

CAPÍTULO 1: CONCEITOS FUNDAMENTAIS

🏛️ Língua como Fato Social

Fundamentos Epistemológicos

ANTOINE MEILLET (1866-1936)
“A língua é eminentemente um fato social. Com efeito, ela existe independentemente de cada um dos indivíduos que a falam, e, embora não tenha realidade fora da soma dos indivíduos, é, no entanto, geral em relação a eles.”
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS:
  • Exterioridade: A língua existe independentemente dos indivíduos
  • Coercitividade: Impõe-se aos falantes como norma social
  • Generalidade: É compartilhada pela coletividade
  • Historicidade: Produto da atividade coletiva no tempo
  • Variabilidade: Reflete a organização social
  • Mudança: Evolui conforme mudam as estruturas sociais
WILLIAM LABOV (1927-)
“A estrutura linguística inclui a variação ordenada como um de seus aspectos. A língua é um sistema inerentemente variável, mas a variação não é livre – ela é condicionada por fatores linguísticos e sociais.”
CONTRIBUIÇÕES REVOLUCIONÁRIAS:
  • Heterogeneidade ordenada: Variação não é caótica
  • Condicionamento social: Fatores sociais são sistemáticos
  • Metodologia quantitativa: Análise estatística da variação
  • Língua em uso: Foco na performance real
  • Mudança em progresso: Variação como motor da mudança
  • Competência sociolinguística: Conhecimento das regras variáveis
PARADIGMAS LINGUÍSTICOS
AspectoEstruturalismoGerativismoSociolinguística
ObjetoSistema homogêneoCompetência idealSistema heterogêneo
Variação“Ruído” no sistemaPerformance imperfeitaParte da estrutura
MétodoAnálise distribucionalIntrospecçãoPesquisa empírica
FocoLangue (sistema)CompetênciaUso social

👥 Comunidade de Fala vs. Comunidade de Prática

Conceitos de Comunidade Linguística

COMUNIDADE DE FALA (LABOV, 1972)

Definição: Grupo de falantes que compartilha um conjunto de normas e atitudes em relação ao uso linguístico.

CARACTERÍSTICAS DEFINIDORAS:
  • Normas compartilhadas: Avaliação social das variantes
  • Densidade comunicativa: Frequência de interação interna
  • Diferenciação externa: Distinção de outros grupos
  • Consciência normativa: Conhecimento do uso apropriado
  • Variação estruturada: Padrões regulares de variação
  • Identidade coletiva: Senso de pertencimento linguístico
Exemplo: Moradores do Rio de Janeiro compartilham a avaliação do /s/ chiado [ʃ] como marca identitária positiva, mesmo que nem todos o produzam consistentemente. A variante é reconhecida como “carioca” e valorizada como símbolo de identidade local.
COMUNIDADE DE PRÁTICA (ECKERT & MCCONNELL-GINET, 1992)

Definição: Agregado de pessoas que se reúnem em torno de um empreendimento comum, desenvolvendo práticas compartilhadas.

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS:
1. ENGAJAMENTO MÚTUO:
  • Interação regular e sustentada
  • Relacionamentos interpessoais
  • Negociação de significados
2. EMPREENDIMENTO CONJUNTO:
  • Objetivos compartilhados
  • Responsabilidade mútua
  • Interpretações negociadas
3. REPERTÓRIO COMPARTILHADO:
  • Recursos linguísticos comuns
  • Rotinas e procedimentos
  • Histórias e artefatos
Exemplo: Grupo de gamers online que desenvolve gírias específicas (“noob”, “lag”, “respawn”), formas de tratamento (“brother”, “mano”), estratégias comunicativas (uso de emojis, abreviações) e rituais de interação próprios da comunidade.
COMPARAÇÃO SISTEMÁTICA
DimensãoComunidade de FalaComunidade de Prática
Critério definidorNormas de avaliação linguísticaParticipação em práticas sociais
Escopo geográficoAmplo (cidade, região, país)Restrito (local, institucional)
DuraçãoEstável, duradouraDinâmica, pode ser temporária
PertencimentoInvoluntário (nascimento, residência)Voluntário (escolha, participação)
Foco analíticoVariação e mudança linguísticaConstrução de identidades
Exemplo típicoFalantes paulistanosProfessores de uma escola

🎭 Repertório Linguístico e Competência Comunicativa

Recursos Comunicativos dos Falantes

REPERTÓRIO LINGUÍSTICO (GUMPERZ, 1964)

Definição: Totalidade das variedades linguísticas disponíveis a um falante ou comunidade para uso em diferentes situações sociais.

COMPONENTES DO REPERTÓRIO:
VARIEDADES REGIONAIS:
  • Dialeto de origem
  • Dialeto de residência
  • Variedades de prestígio
REGISTROS SOCIAIS:
  • Formal/cerimonioso
  • Informal/coloquial
  • Íntimo/familiar
CÓDIGOS ESPECIALIZADOS:
  • Linguagem técnica/profissional
  • Linguagem acadêmica
  • Linguagem jurídica
ESTILOS CONTEXTUAIS:
  • Estilo cuidadoso
  • Estilo casual
  • Estilo vernacular
REPERTÓRIO DE UM FALANTE URBANO ESCOLARIZADO:

├── PORTUGUÊS PADRÃO
│   ├── Modalidade escrita formal
│   ├── Apresentações públicas
│   └── Contextos institucionais
│
├── PORTUGUÊS COLOQUIAL
│   ├── Conversas cotidianas
│   ├── Interações familiares
│   └── Situações informais
│
├── GÍRIA JUVENIL/PROFISSIONAL
│   ├── Grupo de pares
│   ├── Ambiente de trabalho
│   └── Redes sociais
│
├── LINGUAGEM TÉCNICA
│   ├── Área de especialização
│   ├── Contextos acadêmicos
│   └── Comunicação profissional
│
└── DIALETO REGIONAL
    ├── Origem familiar
    ├── Identidade local
    └── Situações específicas
COMPETÊNCIA COMUNICATIVA (HYMES, 1972)

Definição: Conhecimento não apenas das regras gramaticais, mas também das regras de uso apropriado da língua em diferentes contextos sociais.

DIMENSÕES DA COMPETÊNCIA:
POSSIBILIDADE FORMAL:
  • Gramaticalmente correto
  • Fonologicamente realizável
  • Lexicalmente adequado
VIABILIDADE PSICOLÓGICA:
  • Processável cognitivamente
  • Memorizável
  • Produzível em tempo real
ADEQUAÇÃO CONTEXTUAL:
  • Apropriado à situação
  • Adequado aos participantes
  • Conforme às normas sociais
EFETIVIDADE COMUNICATIVA:
  • Atinge os objetivos
  • Produz efeitos desejados
  • Mantém relações sociais
MODELO SPEAKING (HYMES, 1974)

Framework para análise etnográfica da comunicação:

ComponenteSignificadoQuestões-chaveExemplo
S – SettingCenário físico e temporalOnde? Quando?Sala de aula, tribunal, igreja
P – ParticipantsParticipantes da interaçãoQuem fala? Para quem?Professor-aluno, juiz-réu
E – EndsFinalidades e objetivosPara quê? Com que fim?Ensinar, julgar, convencer
A – Act sequenceSequência de atos de falaQue forma? Que conteúdo?Pergunta-resposta, ordem-execução
K – KeyTom, modalidadeComo? Que atitude?Sério, jocoso, irônico
I – InstrumentalitiesCanal e códigoQue meio? Que variedade?Oral/escrito, formal/informal
N – NormsNormas de interaçãoQue regras? Que expectativas?Polidez, hierarquia, turnos
G – GenreGênero discursivoQue tipo de evento?Aula, julgamento, sermão

⚖️ Norma e Uso: Prescrição vs. Descrição

Abordagens da Norma Linguística

ABORDAGEM PRESCRITIVA

Características fundamentais:

  • Normatividade: Estabelece regras de “certo” e “errado”
  • Tradicionalismo: Baseia-se na tradição literária clássica
  • Escritocentrismo: Privilegia a modalidade escrita
  • Purismo: Rejeita inovações e variações
  • Uniformização: Busca homogeneidade linguística
  • Autoridade: Gramáticos como legisladores
  • Pedagogia: Ensino de regras fixas
  • Ideologia: Língua como patrimônio a preservar
Exemplos de prescrições tradicionais:
• “Não se deve terminar frase com preposição”
• “É proibido iniciar período com pronome oblíquo”
• “Não se usa gerúndio após estar + preposição”
• “Pronome do caso reto não pode ser objeto”
ABORDAGEM DESCRITIVA

Características fundamentais:

  • Empirismo: Descreve como a língua é realmente usada
  • Inclusividade: Considera todas as variedades
  • Sistematicidade: Analisa padrões regulares de uso
  • Naturalidade: Reconhece a variação como inerente
  • Contextualização: Relaciona uso e contexto social
  • Cientificidade: Método objetivo de análise
  • Dinamismo: Língua como sistema em mudança
  • Funcionalidade: Foco na comunicação efetiva
Exemplos de descrições sociolinguísticas:
• “Em contextos informais, 73% dos falantes usam próclise”
• “A concordância verbal varia segundo escolaridade e classe social”
• “Jovens favorecem ‘a gente’ sobre ‘nós’ em 85% dos casos”
• “O uso de ‘ele’ como objeto correlaciona-se com informalidade”
TIPOS DE NORMA (COSERIU, 1952)
NORMA OBJETIVA
Definição: Uso efetivo e regular
Base: Frequência estatística
Natureza: Variável no tempo/espaço
Exemplo: “A gente vai” (80% dos jovens)
NORMA SUBJETIVA
Definição: Consciência dos falantes
Base: Avaliação social
Natureza: Prestígio/estigma
Exemplo: “Nós vai” (reconhecido como “erro”)
NORMA PRESCRITIVA
Definição: Imposição institucional
Base: Codificação gramatical
Natureza: Padrão oficial
Exemplo: “Nós vamos” (gramática normativa)
Relações entre os tipos de norma:
DINÂMICA DAS NORMAS:

NORMA OBJETIVA ←→ NORMA SUBJETIVA ←→ NORMA PRESCRITIVA
     ↓                    ↓                    ↓
Uso frequente      Avaliação social      Codificação oficial
     ↓                    ↓                    ↓
"A gente vai"      "Mais informal"       "Nós vamos"
     ↓                    ↓                    ↓
Mudança em         Mudança de           Resistência
progresso          atitude              institucional

CONFLITOS POSSÍVEIS:
• Norma objetiva ≠ Norma prescritiva ("A gente" vs. "Nós")
• Norma subjetiva ≠ Norma objetiva (Estigma vs. Uso frequente)
• Mudança: Norma objetiva → Norma subjetiva → Norma prescritiva

💪 EXERCÍCIO 1: Análise de Comunidades de Fala

Questão: Analise as seguintes situações comunicativas identificando:

a) Reunião de professores discutindo metodologia de ensino de língua portuguesa
b) Grupo de adolescentes conversando no intervalo escolar sobre redes sociais
c) Sessão solene de formatura universitária com discurso do reitor
d) Conversa familiar no jantar de domingo sobre planos para as férias

Para cada situação, identifique: tipo de comunidade (fala/prática), repertório linguístico utilizado, normas de uso predominantes, componentes do modelo SPEAKING.

ANÁLISE DETALHADA:

a) Reunião de professores:
  • Comunidade: De prática (engajamento profissional comum)
  • Repertório: Linguagem técnico-pedagógica, registro formal-consultivo
  • Normas: Padrão culto, terminologia especializada, polidez profissional
  • SPEAKING: S=sala de reunião, P=colegas de profissão, E=discutir metodologia, A=apresentação-debate, K=sério-colaborativo, I=oral formal, N=hierarquia respeitosa, G=reunião pedagógica
b) Adolescentes no intervalo:
  • Comunidade: De prática (grupo etário, interesses comuns)
  • Repertório: Gíria juvenil, linguagem de internet, registro informal
  • Normas: Informalidade, criatividade lexical, solidariedade grupal
  • SPEAKING: S=pátio escolar, P=pares etários, E=socializar, A=conversa espontânea, K=descontraído-íntimo, I=oral coloquial, N=igualdade, G=bate-papo informal
c) Formatura universitária:
  • Comunidade: De fala (comunidade acadêmica ampla)
  • Repertório: Registro solene, linguagem cerimonial, padrão culto
  • Normas: Máxima formalidade, tradição acadêmica, prestígio
  • SPEAKING: S=auditório solene, P=reitor-formandos-famílias, E=celebrar conquista, A=discurso oficial, K=solene-inspirador, I=oral formal, N=protocolo rígido, G=cerimônia acadêmica
d) Jantar familiar:
  • Comunidade: De prática (família, intimidade compartilhada)
  • Repertório: Registro íntimo, dialeto familiar, linguagem afetiva
  • Normas: Informalidade máxima, afetividade, conhecimento compartilhado
  • SPEAKING: S=mesa familiar, P=membros da família, E=planejar e socializar, A=conversa livre, K=íntimo-carinhoso, I=oral familiar, N=hierarquia afetiva, G=conversa doméstica

CAPÍTULO 2: TIPOS DE VARIAÇÃO

🗺️ Variação Diatópica (Geográfica)

Dialetos e Falares Regionais

CONCEITOS FUNDAMENTAIS
DIALETO:
Variedade regional com diferenças sistemáticas em todos os níveis linguísticos (fonético, lexical, morfossintático)
FALAR:
Variedade local com particularidades específicas, geralmente de escopo mais restrito que o dialeto
ISOGLOSSA:
Linha imaginária que delimita a área geográfica de uso de uma variante linguística específica
ÁREA DIALETAL:
Região geográfica caracterizada por um conjunto de traços linguísticos comuns
DIVISÃO DIALETAL DO BRASIL
DIVISÃO TRADICIONAL (NASCENTES, 1953):
┌─────────────────────────────────────────────────────────┐
│ FALAR AMAZÔNICO (Norte)                                 │
│ • Estados: AM, RR, AP, PA, AC, RO, norte de MT         │
│ • Características:                                      │
│   - /r/ retroflex em coda: "porta" [ˈpɔɻta]           │
│   - Vocabulário de origem indígena                      │
│   - Influência das línguas amazônicas                   │
│   - Entonação específica                               │
├─────────────────────────────────────────────────────────┤
│ FALAR NORDESTINO                                        │
│ • Estados: MA, PI, CE, RN, PB, PE, AL, SE, BA          │
│ • Características:                                      │
│   - /r/ fricativo: "porta" [ˈpɔhta]                   │
│   - Manutenção de "tu": "tu vais"                      │
│   - Vocabulário específico: "macaxeira", "jerimum"     │
│   - Ditongação: "muito" [ˈmujtu]                       │
├─────────────────────────────────────────────────────────┤
│ FALAR BAIANO                                            │
│ • Estado: BA (características específicas)              │
│ • Transição entre Nordeste e Sudeste                   │
├─────────────────────────────────────────────────────────┤
│ FALAR FLUMINENSE                                        │
│ • Estados: RJ, ES                                       │
│ • Características:                                      │
│   - /s/ chiado: "mesmo" [ˈmeʃmu]                       │
│   - Palatalização: "tia" [ˈtʃia]                       │
│   - /r/ fricativo velar                                │
├─────────────────────────────────────────────────────────┤
│ FALAR MINEIRO                                           │
│ • Estado: MG                                            │
│ • Características:                                      │
│   - /r/ retroflexo (interior)                          │
│   - Entonação característica                           │
│   - Vocabulário específico                              │
├─────────────────────────────────────────────────────────┤
│ FALAR PAULISTA                                          │
│ • Estado: SP                                            │
│ • Características:                                      │
│   - /r/ retroflexo (interior): "porta" [ˈpɔɻta]       │
│   - Influência de línguas de imigração                 │
├─────────────────────────────────────────────────────────┤
│ FALAR SULINO                                            │
│ • Estados: PR, SC, RS                                   │
│ • Características:                                      │
│   - Influência do espanhol (RS)                        │
│   - Influência de línguas de imigração                 │
│   - /r/ vibrante múltipla                              │
└─────────────────────────────────────────────────────────┘
DIVISÃO ATUAL (ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL – ALiB):
REGIÃO NORTE:
  • AM, RR, AP, PA, AC, RO, TO
  • Subdivisões: Amazônia Ocidental e Oriental
REGIÃO NORDESTE:
  • MA, PI, CE, RN, PB, PE, AL, SE, BA
  • Subdivisões: Sertão, Agreste, Zona da Mata
REGIÃO CENTRO-OESTE:
  • MT, MS, GO, DF
  • Características de transição
REGIÃO SUDESTE:
  • MG, ES, RJ, SP
  • Subdivisões: Norte/Sul de MG, Interior/Capital SP
REGIÃO SUL:
  • PR, SC, RS
  • Influência de línguas de imigração
EXEMPLOS DE VARIAÇÃO DIATÓPICA
FenômenoNorte/NordesteSudesteSul
Léxico – Mandiocamacaxeira, mandiocamandioca, aipim (RJ)mandioca, aipim
Léxico – Abóborajerimumabóboraabóbora, moranga
/r/ em coda[h] – porta [ˈpɔhta][ɾ] – porta [ˈpɔɾta][r] – porta [ˈpɔrta]
Pronomestu vais, você vaivocê vaitu vais (RS), você vai
Gerúndiotô fazendotô fazeno (popular)tô fazendo
Palatalizaçãotia [ˈtia]tia [ˈtʃia] (RJ)tia [ˈtia]

👔 Variação Diastrática (Social)

Estratificação Social da Língua

FATORES SOCIAIS DETERMINANTES
CLASSE SOCIAL:
  • Renda familiar: Acesso a bens culturais
  • Ocupação profissional: Prestígio social
  • Escolaridade: Capital cultural
  • Origem familiar: Herança linguística
ESCOLARIDADE:
  • Anos de estudo: Exposição à norma padrão
  • Tipo de escola: Pública vs. privada
  • Letramento: Práticas de leitura/escrita
  • Formação superior: Registro acadêmico
IDADE/GERAÇÃO:
  • Geração linguística: Época de aquisição
  • Mudança em progresso: Inovação vs. conservação
  • Pressão normativa: Vida adulta vs. juventude
  • Tecnologia: Influência digital
SEXO/GÊNERO:
  • Sensibilidade ao prestígio: Normas sociais
  • Redes sociais: Padrões de interação
  • Papéis sociais: Expectativas diferenciadas
  • Liderança na mudança: Inovação linguística
PADRÕES DE ESTRATIFICAÇÃO (LABOV)
INDICADOR:
Definição: Variação correlacionada com grupo social, mas sem consciência social
Características: Não varia estilisticamente, não é objeto de comentário
Exemplo: Realização de /t, d/ antes de [i]
• Classe alta: [tʃi], [dʒi] (palatalização)
• Classe baixa: [ti], [di] (não palatalização)
MARCADOR:
Definição: Variação social + estilística, com alguma consciência
Características: Varia com formalidade, início de avaliação social
Exemplo: Concordância verbal
• Formal: “Os meninos chegaram” (mais concordância)
• Informal: “Os menino chegou” (menos concordância)
ESTEREÓTIPO:
Definição: Variação consciente, objeto de comentário e correção social
Características: Forte avaliação social, estigma ou prestígio
Exemplo: “Erro” de português
• Estigmatizado: “Nós vai”, “Os menino”
• Comentários: “Isso é erro de português”
CURVA SOCIOLINGUÍSTICA TÍPICA
PADRÃO DE ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL:

CLASSE SOCIAL    USO DA VARIANTE PADRÃO
     ↑                    ↑
Alta ████████████████████ 90%
     ████████████████████
     
Média ███████████████     75%
Alta  ███████████████
     
Média ██████████         60%
Baixa ██████████
     
Baixa █████              40%
     █████
     ↓                    ↓
   Menos prestígio    Menos uso padrão

CARACTERÍSTICAS:
• Estratificação contínua (não categórica)
• Sobreposição entre classes
• Correlação com outros fatores (idade, sexo, escolaridade)
• Variação intra-individual (estilística)
Exemplo: Concordância nominal no português brasileiro
Classe alta: “As meninas bonitas” (95% de concordância)
Classe média: “As meninas bonitas/bonita” (70% de concordância)
Classe baixa: “As menina bonita” (40% de concordância)

🎭 Variação Diafásica (Estilística)

Registros e Estilos Contextuais

CONTINUUM ESTILÍSTICO
ESCALA DE FORMALIDADE (JOOS, 1961):

ÍNTIMO ←→ CASUAL ←→ CONSULTIVO ←→ FORMAL ←→ SOLENE
   |        |         |           |         |
família   amigos   conhecidos  trabalho  cerimônia
gíria    coloquial  neutro     técnico   rebuscado
"tá"     "está"     "está"     "está"    "encontra-se"
"né"     "não é"    "não é"    "não é"   "não é verdade"
"pra"    "para"     "para"     "para"    "para"
próclise  próclise   próclise   ênclise   ênclise

CARACTERÍSTICAS POR NÍVEL:
├── ÍNTIMO: Máxima informalidade, conhecimento compartilhado
├── CASUAL: Informalidade controlada, situações relaxadas
├── CONSULTIVO: Neutralidade, situações de trabalho/estudo
├── FORMAL: Formalidade marcada, situações oficiais
└── SOLENE: Máxima formalidade, cerimônias e rituais
FATORES CONTEXTUAIS
FatorInformalFormalEfeito Linguístico
InterlocutorÍntimo, igual statusDistante, superiorTratamento, polidez
TópicoCotidiano, pessoalTécnico, oficialVocabulário especializado
CanalOral, espontâneoEscrito, planejadoEstrutura sintática
AmbientePrivado, relaxadoPúblico, soleneMonitoramento estilístico
FinalidadeSocializaçãoInformação, persuasãoEstratégias discursivas
MARCAS ESTILÍSTICAS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
REGISTRO INFORMAL:
Fonético:
  • Contrações: “tá”, “né”, “pra”, “cê”
  • Apagamentos: “falá” (falar), “andá” (andar)
  • Assimilações: “tem que” → “tem qui”
Lexical:
  • Gírias: “maneiro”, “massa”, “dahora”
  • Expressões: “tipo assim”, “sei lá”
  • Intensificadores: “super”, “mega”, “hiper”
Sintático:
  • Próclise: “me dá”, “te amo”
  • Concordância variável: “nós vai”
  • Ordem: “Esse livro, eu já li”
REGISTRO FORMAL:
Fonético:
  • Formas plenas: “está”, “para”, “você”
  • Articulação cuidadosa
  • Entonação controlada
Lexical:
  • Vocabulário técnico/erudito
  • Evita gírias e coloquialismos
  • Precisão terminológica
Sintático:
  • Ênclise: “dê-me”, “encontra-se”
  • Concordância padrão
  • Períodos complexos
Exemplo comparativo:
Informal: “Ô, cê tá ligado que eu não vou poder ir na festa hoje? Tô meio sem grana e minha mãe não deixa.”
Formal: “Gostaria de informar que não poderei comparecer ao evento hoje devido a compromissos familiares e restrições financeiras.”

⏰ Variação Diacrônica (Temporal)

Mudança Linguística no Tempo

TIPOS DE MUDANÇA TEMPORAL
MUDANÇA EM TEMPO APARENTE:
Método: Comparação entre gerações no mesmo momento
Hipótese: Diferenças etárias refletem mudança histórica
Vantagem: Dados coletáveis rapidamente
Limitação: Pode refletir apenas variação etária
Exemplo: Uso de “a gente” vs. “nós” (2020)
• Jovens (20-30 anos): 85% “a gente”
• Idosos (60-70 anos): 30% “a gente”
→ Inferência: “A gente” está substituindo “nós”
MUDANÇA EM TEMPO REAL:
Método: Acompanhamento longitudinal dos mesmos falantes
Tipos: Estudo de painel (mesmos indivíduos) ou de tendência (mesma comunidade)
Vantagem: Evidência direta de mudança
Limitação: Tempo e recursos necessários
Exemplo: Mesmo falante acompanhado
• 1980 (aos 30 anos): 20% “a gente”
• 2020 (aos 70 anos): 60% “a gente”
→ Evidência: Mudança individual + comunitária
MUDANÇAS HISTÓRICAS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO:

SÉCULO XVI-XVII (Português Clássico):
├── Sistema pronominal português completo
│   • tu/vós, ele/eles, lhe/lhes
├── Concordância verbal plena obrigatória
├── Colocação pronominal lusitana (ênclise)
├── Léxico português/latim + empréstimos indígenas
└── Sintaxe complexa (hipérbatos, inversões)

SÉCULO XVIII-XIX (Formação do PB):
├── Influência africana massiva
│   • Simplificação morfológica
│   • Mudanças fonológicas
├── Mudança no sistema pronominal
│   • "Você" > "tu" (tratamento)
│   • Perda de "vós"
├── Mudança na colocação pronominal
│   • Próclise generalizada
└── Empréstimos indígenas consolidados

SÉCULO XX-XXI (PB Moderno):
├── "A gente" > "nós" (1ª pessoa plural)
├── Próclise categórica na fala
├── Simplificação da concordância
│   • Verbal: "nós vai"
│   • Nominal: "as menina"
├── Empréstimos ingleses/tecnológicos
└── Influência da mídia e internet
FATORES DE MUDANÇA LINGUÍSTICA
FATORES INTERNOS:
  • Analogia morfológica: Regularização de paradigmas
  • Reanálise sintática: Reinterpretação de estruturas
  • Gramaticalização: Lexical → gramatical
  • Economia linguística: Simplificação de processos
  • Frequência de uso: Formas mais usadas mudam mais
FATORES EXTERNOS:
  • Contato linguístico: Influência de outras línguas
  • Mudanças sociais: Urbanização, industrialização
  • Migração populacional: Mistura de dialetos
  • Escolarização: Padronização vs. variação
  • Mídia e tecnologia: Novos canais de difusão
Exemplo: Mudança “você” por “tu”
Fatores internos: Simplificação do sistema (você = 3ª pessoa)
Fatores externos: Urbanização, mobilidade social, influência da mídia
Cronologia: Séc. XVIII (elite) → Séc. XIX (classes médias) → Séc. XX (generalização)
Resistência: Algumas regiões mantêm “tu” (RS, Norte/Nordeste)

💪 EXERCÍCIO 2: Identificação de Tipos de Variação

Questão: Classifique os tipos de variação nos exemplos abaixo, justificando sua resposta:

a) “Mandioca” (SP) vs. “Macaxeira” (PE) vs. “Aipim” (RJ)
b) “Nós vamos ao cinema” (formal) vs. “A gente vai no cinema” (informal)
c) “Os menino chegou” (classe popular) vs. “Os meninos chegaram” (classe média)
d) “Vossa Mercê” (séc. XVI) → “Vosmecê” (séc. XVIII) → “Você” (séc. XXI)
e) “Ele trabalha muito” (neutro) vs. “Ele trabalha pra caramba” (coloquial) vs. “Ele trabalha excessivamente” (formal)

ANÁLISE DETALHADA:

a) Variação DIATÓPICA (geográfica):
  • Justificativa: Diferentes lexemas para o mesmo referente em regiões distintas
  • Distribuição: SP (mandioca), PE (macaxeira), RJ (aipim)
  • Origem: Diferentes substratos linguísticos e histórias de colonização
  • Tipo: Variação lexical regional
b) Variação DIAFÁSICA (estilística):
  • Justificativa: Mesmo falante usa formas diferentes conforme o contexto
  • Diferenças: “Nós vamos ao” (formal) vs. “A gente vai no” (informal)
  • Fatores: Situação comunicativa, interlocutor, grau de monitoramento
  • Tipo: Variação morfossintática estilística
c) Variação DIASTRÁTICA (social):
  • Justificativa: Correlação com classe social e escolaridade
  • Padrão: Classe popular (menos concordância) vs. classe média (mais concordância)
  • Fatores: Acesso à educação formal, prestígio social
  • Tipo: Variação morfossintática social (concordância)
d) Variação DIACRÔNICA (temporal):
  • Justificativa: Evolução histórica da mesma forma linguística
  • Processo: Redução fonética e gramaticalização
  • Cronologia: Séc. XVI → XVIII → XXI
  • Tipo: Mudança morfológica e fonética
e) Variação DIAFÁSICA (estilística):
  • Justificativa: Diferentes registros para expressar a mesma ideia
  • Escala: Coloquial (“pra caramba”) → Neutro → Formal (“excessivamente”)
  • Fatores: Grau de formalidade, contexto situacional
  • Tipo: Variação lexical estilística

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Esta é uma prévia das primeiras seções da apostila completa de 40 páginas sobre Sociolinguística e Variação Linguística.

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Próximas seções: Variação no PB, Fenômenos Sociolinguísticos, Metodologia de Pesquisa e 30 questões comentadas


Análise do Discurso – PND Letras

ANÁLISE DO DISCURSO

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Licenciatura em Letras Português-Inglês

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📋 SUMÁRIO DETALHADO

PARTE I: ESCOLA FRANCESA (PÊCHEUX)

Capítulo 1: Fundamentos Teóricos
  • Materialismo histórico e linguística
  • Ideologia e aparelhos ideológicos (Althusser)
  • Discurso vs. texto vs. enunciado
  • Condições de produção do discurso
Capítulo 2: Formações Discursivas
  • Conceito de formação discursiva (FD)
  • Formação ideológica e FD
  • Relações entre FDs
  • Heterogeneidade do discurso
Capítulo 3: Interdiscurso e Intradiscurso
  • Memória discursiva e interdiscurso
  • Pré-construído e articulação
  • Esquecimentos nº 1 e nº 2
Capítulo 4: Sujeito do Discurso
  • Sujeito ideológico vs. empírico
  • Posição-sujeito e forma-sujeito
  • Interpelação ideológica

PARTE II: DESENVOLVIMENTOS CONTEMPORÂNEOS

Capítulo 5: Análise Crítica do Discurso
  • Fairclough: três dimensões
  • Van Dijk: cognição social
  • Poder, dominação e resistência
Capítulo 6: Semiolinguística
  • Charaudeau: contrato de comunicação
  • Estratégias discursivas
  • Identidades discursivas

PARTE III: AD NO BRASIL

Capítulo 7: Contribuições Brasileiras
  • Eni Orlandi: discurso pedagógico
  • Sírio Possenti: humor e discurso
  • Maingueneau: cenas da enunciação
Capítulo 8: Gêneros Discursivos
  • Bakhtin: dialogismo e polifonia
  • Gêneros primários vs. secundários
  • Cronotopo e arquitetônica

PARTE IV: ANÁLISE MULTIMODAL

Capítulo 9: Semiótica Social
  • Kress & van Leeuwen: gramática visual
  • Metafunções visuais
  • Multimodalidade e multissemiose
Capítulo 10: Discurso Digital
  • Gêneros digitais emergentes
  • Hipertextualidade e interatividade
  • Redes sociais e formação discursiva

PARTE V: APLICAÇÕES PEDAGÓGICAS

Capítulo 11: AD na Educação
  • Discurso pedagógico e autoritarismo
  • Leitura e interpretação vs. compreensão
  • Autoria e produção de sentidos
Capítulo 12: Metodologia de Análise
  • Dispositivo analítico
  • Recortes e sequências discursivas
  • Paráfrase e polissemia

RECURSOS COMPLEMENTARES

  • 25 exercícios práticos comentados
  • Corpus de análise discursiva
  • Mapas conceituais das teorias
  • Bibliografia especializada atualizada
  • Glossário de termos técnicos
  • Índice remissivo completo

PARTE I: ESCOLA FRANCESA (PÊCHEUX)

Fundamentos da Análise do Discurso materialista

CAPÍTULO 1: FUNDAMENTOS TEÓRICOS

🏛️ Materialismo Histórico e Linguística

Base Epistemológica da AD Francesa

MICHEL PÊCHEUX (1938-1983)
“Não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia: o indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia e é assim que a língua faz sentido.”
PROJETO TEÓRICO FUNDAMENTAL:
  • Articulação tripla: Materialismo histórico + Linguística + Psicanálise
  • Crítica ao positivismo: Rejeição da neutralidade científica
  • Língua como base material: Discurso como efeito de sentidos
  • Sujeito descentrado: Não origem do sentido
  • Ideologia constitutiva: Não há discurso sem ideologia
  • História como determinante: Condições sócio-históricas
TRÊS REGIÕES DO CONHECIMENTO
ARTICULAÇÃO TEÓRICA DA AD FRANCESA:

┌─────────────────────────────────────────────────────────┐
│ MATERIALISMO HISTÓRICO (Marx/Althusser)                │
│ • Base material da existência social                   │
│ • Luta de classes e contradições                       │
│ • Ideologia como prática material                      │
│ • Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE)               │
│ ↓ FORNECE: Teoria das formações sociais               │
├─────────────────────────────────────────────────────────┤
│ LINGUÍSTICA (Saussure/Jakobson)                        │
│ • Língua como sistema de diferenças                    │
│ • Autonomia relativa da língua                         │
│ • Materialidade específica do significante             │
│ • Equívoco constitutivo da língua                      │
│ ↓ FORNECE: Base material do discurso                   │
├─────────────────────────────────────────────────────────┤
│ PSICANÁLISE (Freud/Lacan)                             │
│ • Inconsciente estruturado como linguagem              │
│ • Sujeito dividido, descentrado                        │
│ • Ordem simbólica e significante                       │
│ • Impossibilidade da completude                        │
│ ↓ FORNECE: Teoria do sujeito                          │
└─────────────────────────────────────────────────────────┘
                    ↓
            ANÁLISE DO DISCURSO
         (Teoria materialista do discurso)
RUPTURAS COM ABORDAGENS ANTERIORES
AspectoAnálise de ConteúdoAnálise do Discurso
Concepção de línguaInstrumento de comunicaçãoBase material do discurso
Relação forma/conteúdoForma = veículo do conteúdoForma constitui o sentido
SujeitoOrigem intencional do sentidoPosição no discurso
ContextoSituação empíricaCondições de produção
IdeologiaDistorção da realidadeCondição de existência do sentido
MétodoQuantificação de temasAnálise das condições de produção

🏛️ Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado

Louis Althusser: Base Teórica da AD

CONCEITO ALTHUSSERIANO DE IDEOLOGIA
“A ideologia representa a relação imaginária dos indivíduos com suas condições reais de existência.”
CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS:
MATERIALIDADE:
  • Não é sistema de ideias
  • Existe em práticas materiais
  • Inscrita em aparelhos
  • Produz efeitos concretos
UNIVERSALIDADE:
  • Não há prática sem ideologia
  • Eterna como o inconsciente
  • Onipresente nas sociedades
  • Condição da reprodução social
INTERPELAÇÃO:
  • Constitui sujeitos
  • Processo de reconhecimento
  • Evidência do sentido
  • Assujeitamento ideológico
REPRODUÇÃO:
  • Reproduz relações de produção
  • Garante dominação de classe
  • Naturaliza o social
  • Produz consenso
APARELHOS IDEOLÓGICOS DE ESTADO (AIE)
DISTINÇÃO: APARELHO REPRESSIVO vs. APARELHOS IDEOLÓGICOS

APARELHO REPRESSIVO DE ESTADO (ARE):
├── Governo, Administração, Exército, Polícia, Tribunais, Prisões
├── FUNÇÃO: Repressão (violência física/jurídica)
├── DOMÍNIO: Público
├── UNIDADE: Centralizado sob direção política
└── FUNCIONAMENTO: Principalmente pela repressão

APARELHOS IDEOLÓGICOS DE ESTADO (AIE):
├── AIE religioso (igrejas)
├── AIE escolar (escolas públicas e privadas)
├── AIE familiar (família)
├── AIE jurídico (direito)
├── AIE político (partidos, sindicatos)
├── AIE sindical (organizações)
├── AIE da informação (imprensa, rádio, TV)
├── AIE cultural (literatura, artes, esportes)
│
├── FUNÇÃO: Ideologia (consenso)
├── DOMÍNIO: Privado (mas público por função)
├── UNIDADE: Dispersos, relativamente autônomos
└── FUNCIONAMENTO: Principalmente pela ideologia

DOMINANTE ATUAL: AIE ESCOLAR
• Substitui AIE religioso como dominante
• Obrigatoriedade e duração (infância → idade adulta)
• Inculcação da ideologia dominante
• Reprodução da qualificação da força de trabalho
MECANISMO DA INTERPELAÇÃO IDEOLÓGICA
ESTRUTURA ESPECULAR DA IDEOLOGIA:
ESQUEMA DA INTERPELAÇÃO:

    SUJEITO ABSOLUTO
         ↓
    (interpela)
         ↓
    INDIVÍDUOS ←→ SUJEITOS
         ↑              ↓
    (reconhecem)   (se reconhecem)
         ↑              ↓
    SUJEITO ABSOLUTO ←→ SUJEITOS
         ↑              ↓
    (garante)      (se submetem)
         ↑              ↓
      EVIDÊNCIA DO SENTIDO

EXEMPLO: Discurso religioso
• Deus (Sujeito Absoluto) interpela fiéis
• Fiéis se reconhecem como sujeitos de Deus
• Reconhecem Deus como seu Sujeito
• Submetem-se livremente à Sua vontade
• Evidência: "É natural obedecer a Deus"
EFEITOS DA INTERPELAÇÃO:
RECONHECIMENTO:
  • Sujeito se reconhece no discurso
  • Identifica-se com posição oferecida
  • Sente-se origem do que diz
EVIDÊNCIA:
  • Sentido parece natural, óbvio
  • Apagamento da construção histórica
  • Ilusão de transparência

📝 Discurso vs. Texto vs. Enunciado

Distinções Conceituais Fundamentais

CONCEITO DE DISCURSO
“O discurso é efeito de sentidos entre locutores” (Pêcheux)
CARACTERÍSTICAS DEFINIDORAS:
MATERIALIDADE:
  • Não é abstração mental
  • Materialidade linguística específica
  • Inscrição na história
  • Práticas discursivas concretas
PROCESSO:
  • Não é produto acabado
  • Movimento de sentidos
  • Trabalho simbólico
  • Transformação permanente
INCOMPLETUDE:
  • Sempre pode ser outro
  • Equívoco constitutivo
  • Falha e falta
  • Impossibilidade da saturação
IDEOLOGIA:
  • Não há discurso sem ideologia
  • Posições ideológicas
  • Formações discursivas
  • Luta pela hegemonia
DISTINÇÕES OPERACIONAIS
ConceitoDefiniçãoCaracterísticasExemplo
ENUNCIADOUnidade linguística concreta, realização empíricaMaterialidade física, singularidade, acontecimento“Ordem e Progresso” (na bandeira)
TEXTOUnidade de análise, objeto empíricoOrganização, coerência, unidade formalConstituição de 1988 (documento)
DISCURSOEfeito de sentidos, processo de significaçãoIdeologia, história, sujeito, formação discursivaDiscurso jurídico-constitucional
EXEMPLO ANALÍTICO
CORPUS DE ANÁLISE:
“O Brasil é um país de todos. Aqui não há discriminação racial.”
(Declaração de autoridade governamental, 2020)
NÍVEL DO ENUNCIADO:
  • Duas frases declarativas
  • Presente do indicativo
  • Modalidade assertiva
  • Negação categórica
NÍVEL DO TEXTO:
  • Coesão por repetição (Brasil/aqui)
  • Progressão: geral → específico
  • Gênero: declaração oficial
  • Registro formal
NÍVEL DO DISCURSO:
  • FD da democracia racial
  • Posição-sujeito oficial
  • Silenciamento do racismo
  • Ideologia da harmonia

🌍 Condições de Produção do Discurso

Determinações Sócio-Históricas do Sentido

CONCEITO DE CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO

Definição: Conjunto de elementos que determinam a produção de um discurso, incluindo o contexto sócio-histórico, as posições dos sujeitos e a memória discursiva.

ESQUEMA DAS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO:

CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO
├── SENTIDO ESTRITO (contexto imediato)
│   ├── Situação de enunciação
│   ├── Circunstâncias da enunciação
│   ├── Contexto situacional
│   └── Interlocutores empíricos
│
└── SENTIDO AMPLO (contexto sócio-histórico)
    ├── Contexto histórico
    ├── Contexto social
    ├── Contexto ideológico
    └── Memória discursiva (interdiscurso)

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS:
├── A: Lugar do sujeito locutor
├── B: Lugar do sujeito interlocutor  
├── Referente: Aquilo de que se fala
├── Contexto: Situação sócio-histórica
└── Memória: Já-dito que ressoa

RELAÇÕES IMAGINÁRIAS:
├── IA(A): Imagem que A faz de si mesmo
├── IA(B): Imagem que A faz de B
├── IB(A): Imagem que B faz de A
├── IB(B): Imagem que B faz de si mesmo
└── Imagens do referente para A e B
FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS
MECANISMO DAS ANTECIPAÇÕES:
O sujeito antecipa as representações do receptor sobre:
  • Si mesmo: “Como ele me vê?”
  • O receptor: “Como ele se vê?”
  • O objeto do discurso: “Como ele vê o que falo?”
  • O próprio discurso: “Como ele receberá o que digo?”
EXEMPLO: Discurso político em campanha
Candidato (A) → Eleitores (B)

IA(A): “Sou competente, honesto, próximo do povo”
IA(B): “Eleitores querem mudança, estão descontentes”
IB(A): “Candidato deve ser confiável, experiente”
IB(B): “Somos cidadãos conscientes, merecemos respeito”

→ Estratégia discursiva: Linguagem simples, promessas de mudança, crítica ao governo atual
TIPOLOGIA DAS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO
TipoCaracterísticasRelação com o OutroExemplo
SIMÉTRICASPosições intercambiáveis, igualdade de poderReversibilidade totalConversa entre amigos
ASSIMÉTRICASHierarquia, diferença de poderReversibilidade limitadaProfessor-aluno, médico-paciente
TOTALMENTE ASSIMÉTRICASDominação absolutaIrreversibilidadeInterrogatório policial

💪 EXERCÍCIO 1: Análise das Condições de Produção

Questão: Analise as condições de produção dos seguintes discursos:

TEXTO A: “Prezados pais e responsáveis, comunicamos que as aulas serão suspensas devido à pandemia. Manteremos o ensino remoto para garantir a continuidade pedagógica.”
(Circular escolar, março de 2020)
TEXTO B: “Galera, as aulas vão parar por causa do vírus. Vão ter aula online, mas vai ser uma bagunça total. Pelo menos não precisa acordar cedo!”
(Mensagem em grupo de WhatsApp de estudantes, março de 2020)

Analise: Posições-sujeito, formações imaginárias, relações de poder, contexto sócio-histórico.

ANÁLISE COMPARATIVA:

TEXTO A – Discurso Institucional Escolar:
CONDIÇÕES IMEDIATAS:
  • Locutor: Direção escolar (posição institucional)
  • Interlocutor: Pais/responsáveis (posição familiar)
  • Canal: Circular oficial (gênero institucional)
  • Momento: Início da pandemia (urgência)
FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS:
  • IA(A): Autoridade responsável, competente
  • IA(B): Pais preocupados, precisam de informação
  • Relação: Assimétrica (instituição → família)
  • Estratégia: Linguagem formal, tranquilizadora
TEXTO B – Discurso Juvenil Informal:
CONDIÇÕES IMEDIATAS:
  • Locutor: Estudante (posição de par)
  • Interlocutor: Colegas (grupo de pares)
  • Canal: WhatsApp (informalidade)
  • Momento: Reação imediata à decisão
FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS:
  • IA(A): Jovem descontraído, crítico
  • IA(B): Colegas que compartilham visão
  • Relação: Simétrica (igualdade etária)
  • Estratégia: Gíria, humor, crítica implícita
CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO COMUM:
  • Pandemia COVID-19: Crise sanitária mundial, medidas de isolamento
  • Transformação educacional: Migração forçada para ensino remoto
  • Incerteza social: Desconhecimento sobre duração e consequências
  • Tecnologia: Dependência de recursos digitais para continuidade

CAPÍTULO 2: FORMAÇÕES DISCURSIVAS

🎯 Conceito de Formação Discursiva (FD)

Base Conceitual das Formações Discursivas

DEFINIÇÃO FUNDAMENTAL (PÊCHEUX)
“Chamaremos formação discursiva aquilo que, numa formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada numa conjuntura dada, determinada pelo estado da luta de classes, determina o que pode e deve ser dito.”
CARACTERÍSTICAS CONSTITUTIVAS:
DETERMINAÇÃO IDEOLÓGICA:
  • Inscrita em formação ideológica
  • Posição na luta de classes
  • Não há FD neutra
  • Sempre política
REGULAÇÃO DO DIZÍVEL:
  • O que pode ser dito
  • O que deve ser dito
  • O que não pode ser dito
  • Como deve ser dito
HISTORICIDADE:
  • Conjuntura específica
  • Transformação histórica
  • Emergência e desaparecimento
  • Memória discursiva
MATERIALIDADE LINGUÍSTICA:
  • Realização em enunciados
  • Regularidades discursivas
  • Léxico específico
  • Sintaxe característica
FUNCIONAMENTO DAS FORMAÇÕES DISCURSIVAS
ESQUEMA DE FUNCIONAMENTO DA FD:

FORMAÇÃO IDEOLÓGICA
         ↓
    (determina)
         ↓
FORMAÇÃO DISCURSIVA ←→ INTERDISCURSO
         ↓                    ↑
    (regula)            (memória)
         ↓                    ↑
    INTRADISCURSO ←→ SEQUÊNCIAS DISCURSIVAS
         ↓                    ↑
   (materializa)        (realização)
         ↓                    ↑
    ENUNCIADOS CONCRETOS

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS:
├── Objetos: O que pode ser objeto de discurso
├── Modalidades enunciativas: Quem pode falar e como
├── Conceitos: Rede conceitual específica
├── Estratégias: Escolhas temáticas e teóricas
└── Regularidades: Padrões de funcionamento

EXEMPLO: FD Médica
├── Objetos: Doença, corpo, saúde, tratamento
├── Modalidades: Médico autorizado, linguagem técnica
├── Conceitos: Diagnóstico, sintoma, terapia, cura
├── Estratégias: Objetividade, cientificidade
└── Regularidades: Anamnese → diagnóstico → prescrição
HETEROGENEIDADE CONSTITUTIVA

Princípio fundamental: Toda FD é constitutivamente heterogênea, atravessada por outras FDs.

HETEROGENEIDADE MOSTRADA:
Marcas explícitas do outro:
  • Citações diretas
  • Discurso relatado
  • Aspas, itálicos
  • Comentários metadiscursivos
HETEROGENEIDADE CONSTITUTIVA:
Presença não marcada:
  • Interdiscurso
  • Pré-construído
  • Discurso transverso
  • Memória discursiva
Exemplo: FD Ambientalista
“O desenvolvimento sustentável é urgente. Como disse o relatório da ONU, ‘não há planeta B’. A ciência comprova que as mudanças climáticas são reais.”
Análise: Atravessamento da FD científica (“a ciência comprova”), FD institucional (“relatório da ONU”), FD do senso comum (“não há planeta B”).

🏛️ Formação Ideológica e FD

Relação entre Ideologia e Discurso

FORMAÇÃO IDEOLÓGICA

Definição: Conjunto complexo de atitudes e representações que não são nem individuais nem universais, mas se relacionam às posições de classes em conflito.

ESTRUTURA DA FORMAÇÃO IDEOLÓGICA:

FORMAÇÃO IDEOLÓGICA
├── COMPONENTE INTERPELATIVO
│   ├── Interpelação dos indivíduos em sujeitos
│   ├── Identificação com posições ideológicas
│   └── Reconhecimento/desconhecimento
│
├── COMPONENTE ATITUDINAL  
│   ├── Atitudes face aos objetos ideológicos
│   ├── Tomadas de posição
│   └── Valores e normas
│
└── COMPONENTE REPRESENTACIONAL
    ├── Representações das relações sociais
    ├── Imagens do mundo social
    └── Esquemas de percepção

RELAÇÃO COM FORMAÇÕES DISCURSIVAS:
Uma FI pode comportar várias FDs
Uma FD pode ser atravessada por várias FIs
Relação não mecânica, mas de determinação

EXEMPLO: Formação Ideológica Liberal
├── FD Econômica Liberal (livre mercado)
├── FD Política Liberal (democracia representativa)  
├── FD Jurídica Liberal (direitos individuais)
└── FD Educacional Liberal (meritocracia)
DOMINAÇÃO E RESISTÊNCIA
FORMAÇÃO IDEOLÓGICA DOMINANTE:
Características:
  • Hegemonia no espaço social
  • Naturalização de suas representações
  • Controle dos aparelhos ideológicos
  • Universalização de interesses particulares
Estratégias discursivas:
  • Evidência do sentido
  • Apagamento da historicidade
  • Consenso aparente
  • Silenciamento de contradições
FORMAÇÕES IDEOLÓGICAS DOMINADAS:
Modalidades de funcionamento:
  • Resistência: Oposição direta à dominante
  • Contradominação: Projeto hegemônico alternativo
  • Subordinação: Aceitação da dominação
  • Negociação: Compromissos e concessões
EXEMPLO ANALÍTICO: DISCURSO SOBRE EDUCAÇÃO
FI/FDConcepção de EducaçãoLéxico CaracterísticoEstratégias
FI Liberal
FD Meritocrática
Educação como investimento individual, competiçãoExcelência, qualidade, competitividade, méritoResponsabilização individual
FI Socialista
FD Igualitária
Educação como direito social, igualdadeDireito, igualdade, justiça social, coletivoCrítica às desigualdades
FI Neoliberal
FD Mercadológica
Educação como mercadoria, eficiênciaEficiência, produtividade, cliente, resultadoLógica empresarial
FI Crítica
FD Emancipatória
Educação como prática de liberdadeEmancipação, consciência crítica, transformaçãoDenúncia e anúncio

💪 EXERCÍCIO 2: Identificação de Formações Discursivas

Questão: Identifique as formações discursivas nos textos abaixo sobre o tema “trabalho”:

TEXTO A: “O trabalho dignifica o homem. É através do esforço e da dedicação que construímos nosso caráter e conquistamos nosso lugar na sociedade. Cada um colhe o que planta.”
TEXTO B: “O trabalho sob o capitalismo é alienação. O trabalhador vende sua força de trabalho e não se reconhece no produto de seu labor. É preciso transformar as relações de produção.”
TEXTO C: “No mercado de trabalho atual, é fundamental desenvolver competências e habilidades. O profissional deve ser flexível, adaptável e estar sempre se capacitando para ser competitivo.”

ANÁLISE DAS FORMAÇÕES DISCURSIVAS:

TEXTO A – FD Moral-Religiosa:
  • FI de base: Conservadora, valores tradicionais
  • Léxico: “dignifica”, “esforço”, “caráter”, “colhe o que planta”
  • Concepção: Trabalho como valor moral, responsabilidade individual
  • Estratégia: Naturalização da ordem social, meritocracia
  • Interdiscurso: Discurso religioso (ética protestante do trabalho)
TEXTO B – FD Marxista:
  • FI de base: Socialista, crítica ao capitalismo
  • Léxico: “alienação”, “força de trabalho”, “relações de produção”
  • Concepção: Trabalho como exploração, necessidade de transformação
  • Estratégia: Denúncia da exploração, chamada à ação
  • Interdiscurso: Teoria marxista, discurso revolucionário
TEXTO C – FD Neoliberal:
  • FI de base: Neoliberal, lógica de mercado
  • Léxico: “competências”, “flexível”, “competitivo”, “mercado”
  • Concepção: Trabalho como mercadoria, adaptação constante
  • Estratégia: Responsabilização individual, naturalização da competição
  • Interdiscurso: Discurso empresarial, coaching, autoajuda

📚 Apostila Completa em Desenvolvimento

Esta é uma prévia das primeiras seções da apostila completa de 40 páginas sobre Análise do Discurso.

Conteúdo já desenvolvido: Escola Francesa (Pêcheux) – Fundamentos e Formações Discursivas

Próximas seções: Interdiscurso, Sujeito, ACD, Semiolinguística, AD no Brasil, Multimodalidade e Aplicações Pedagógicas


Linguística Textual e Coesão/Coerência – PND Letras

LINGUÍSTICA TEXTUAL

Coesão e Coerência Textuais

Prova Nacional Docente (PND 2025) – Licenciatura em Letras

📚 35 páginas completas 🔗 Coesão & Coerência 📝 Tipologia Textual 🎯 30 exercícios práticos

📋 SUMÁRIO DETALHADO

PARTE I: FUNDAMENTOS DA LINGUÍSTICA TEXTUAL

Capítulo 1: Conceitos Básicos
  • Texto vs. discurso: diferentes perspectivas
  • Texto como unidade de sentido
  • Contexto e cotexto
  • Progressão da LT: frase → texto → discurso
  • Exercícios: identificação de limites textuais
Capítulo 2: Critérios de Textualidade
  • Beaugrande & Dressler: 7 critérios
  • Coesão: ligação entre elementos superficiais
  • Coerência: continuidade de sentidos
  • Intencionalidade e aceitabilidade
  • Informatividade: graus de previsibilidade
  • Situacionalidade: adequação ao contexto
  • Intertextualidade: relações entre textos

PARTE II: COESÃO TEXTUAL

Capítulo 3: Coesão Referencial
  • Referência endofórica: anáfora e catáfora
  • Referência exofórica: dêixis
  • Referência por substituição
  • Referência por elipse
  • Cadeias referenciais e progressão
Capítulo 4: Coesão Sequencial
  • Conectores lógicos e temporais
  • Conectores argumentativos
  • Articuladores textuais e metadiscurso
Capítulo 5: Coesão Lexical
  • Repetição e substituição lexical
  • Campos lexicais e isotopias
  • Colocações e expressões cristalizadas

PARTE III: COERÊNCIA TEXTUAL

Capítulo 6: Tipos de Coerência
  • Coerência semântica, pragmática
  • Coerência estilística e genérica
Capítulo 7: Fatores de Coerência
  • Conhecimentos linguístico e enciclopédico
  • Conhecimentos sociointeracional e ilocucional
  • Conhecimento superestrutural

PARTE IV: PROGRESSÃO TEXTUAL

Capítulo 8: Progressão Tópica
  • Tema vs. rema: estrutura informacional
  • Progressão linear e com tema derivado
  • Progressão com remas cindidos
Capítulo 9: Organização Tópica
  • Tópico discursivo vs. sentencial
  • Centração e descentração tópica
  • Segmentação e hierarquia tópica

PARTE V: TIPOLOGIA TEXTUAL

Capítulo 10: Sequências Textuais
  • Adam: 5 sequências prototípicas
  • Sequências narrativa, descritiva
  • Sequências argumentativa, expositiva
  • Sequência injuntiva
Capítulo 11: Gêneros vs. Tipos
  • Distinção entre gênero e tipo
  • Heterogeneidade tipológica
  • Protótipos e hibridização

PARTE VI: APLICAÇÕES PEDAGÓGICAS

Capítulo 12: LT no Ensino
  • Desenvolvimento da competência textual
  • Atividades de coesão e coerência
  • Reescrita e revisão textual
  • Avaliação da textualidade

RECURSOS COMPLEMENTARES

  • 30 exercícios práticos comentados
  • Corpus de análise textual
  • Mapas conceituais das teorias
  • Bibliografia especializada atualizada
  • Glossário de termos técnicos
  • Índice remissivo completo

PARTE I: FUNDAMENTOS DA LINGUÍSTICA TEXTUAL

Conceitos básicos e critérios de textualidade

CAPÍTULO 1: CONCEITOS BÁSICOS

📝 Texto vs. Discurso: Diferentes Perspectivas

Evolução Conceitual da Linguística Textual

PERSPECTIVA HISTÓRICA

A Linguística Textual surge nos anos 1960 como reação às limitações da análise frasal, propondo o texto como unidade básica de comunicação.

EVOLUÇÃO DA LINGUÍSTICA TEXTUAL:

FASE 1 (1960s): ANÁLISES TRANSFRÁSTICAS
├── Foco: Fenômenos além da frase
├── Objetivo: Descrever regularidades
├── Método: Extensão da gramática frasal
└── Limitação: Visão estruturalista

FASE 2 (1970s): GRAMÁTICAS TEXTUAIS
├── Foco: Competência textual
├── Objetivo: Regras de formação textual
├── Método: Gramática gerativa do texto
└── Limitação: Formalismo excessivo

FASE 3 (1980s): TEORIA DO TEXTO
├── Foco: Texto como processo
├── Objetivo: Compreensão e produção
├── Método: Critérios de textualidade
└── Avanço: Dimensão pragmática

FASE 4 (1990s-atual): LINGUÍSTICA TEXTUAL SOCIOCOGNITIVA
├── Foco: Texto em uso social
├── Objetivo: Práticas discursivas
├── Método: Multidisciplinar
└── Perspectiva: Cognição, sociedade, cultura
DISTINÇÃO TEXTO vs. DISCURSO
AspectoTEXTODISCURSO
NaturezaProduto, objeto empíricoProcesso, atividade enunciativa
MaterialidadeSequência linguística concretaPrática social de linguagem
Foco analíticoOrganização interna, coesãoCondições de produção, ideologia
DelimitaçãoInício e fim marcadosSem limites precisos
AbordagemLinguística textualAnálise do discurso
ExemploArtigo de jornal (materialidade)Discurso jornalístico (prática)
COMPLEMENTARIDADE DAS ABORDAGENS
LINGUÍSTICA TEXTUAL:
  • Analisa a organização interna do texto
  • Foca nos mecanismos de coesão e coerência
  • Estuda a progressão informacional
  • Investiga tipologias e gêneros textuais
  • Examina estratégias de textualização
ANÁLISE DO DISCURSO:
  • Examina condições sócio-históricas de produção
  • Analisa formações discursivas e ideológicas
  • Estuda posições-sujeito e interdiscurso
  • Investiga relações de poder no discurso
  • Examina processos de significação
SÍNTESE: Texto e discurso são faces complementares do mesmo fenômeno comunicativo. O texto é a materialização linguística do discurso, enquanto o discurso é a dimensão social e histórica do texto.

🎯 Texto como Unidade de Sentido

Definições de Texto na Literatura Especializada

PRINCIPAIS DEFINIÇÕES
BEAUGRANDE & DRESSLER (1981):
“Texto é uma ocorrência comunicativa que atende a sete critérios de textualidade: coesão, coerência, intencionalidade, aceitabilidade, informatividade, situacionalidade e intertextualidade.”
HALLIDAY & HASAN (1976):
“Texto é uma unidade semântica: não uma unidade de forma, mas de significado. Um texto é melhor considerado como uma unidade semântica realizada através de escolhas lexicogramaticais.”
KOCH (2004):
“Texto é uma manifestação verbal constituída de elementos linguísticos selecionados e ordenados pelos falantes durante a atividade verbal, de modo a permitir aos parceiros, na interação, não apenas a depreensão de conteúdos semânticos, mas também a interação ou atuação de acordo com práticas socioculturais.”
MARCUSCHI (2008):
“Texto é uma entidade concreta realizada materialmente e corporificada em algum gênero textual. Discurso é aquilo que um texto produz ao se manifestar em alguma instância discursiva.”
CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DO TEXTO
UNIDADE SEMÂNTICA:
  • Conjunto coerente de significados
  • Tema ou tópico central
  • Continuidade de sentidos
  • Não contradição interna
UNIDADE PRAGMÁTICA:
  • Função comunicativa específica
  • Intencionalidade do produtor
  • Adequação ao contexto
  • Efeito sobre o receptor
UNIDADE FORMAL:
  • Organização linguística específica
  • Mecanismos de coesão
  • Estrutura composicional
  • Marcas de textualidade
UNIDADE INTERACIONAL:
  • Atividade conjunta produtor-receptor
  • Negociação de sentidos
  • Construção colaborativa
  • Dimensão dialógica

🌐 Contexto e Cotexto

Dimensões Contextuais do Texto

COTEXTO vs. CONTEXTO
DIMENSÕES CONTEXTUAIS:

COTEXTO (Contexto linguístico)
├── COTEXTO IMEDIATO
│   ├── Frase anterior e posterior
│   ├── Parágrafo atual
│   └── Sequência textual local
│
└── COTEXTO MEDIATO
    ├── Texto completo
    ├── Outros textos do mesmo autor
    └── Intertextos explícitos

CONTEXTO (Contexto extralinguístico)
├── CONTEXTO SITUACIONAL
│   ├── Participantes (quem fala/escreve, para quem)
│   ├── Finalidade (para que, com que objetivo)
│   ├── Lugar (onde ocorre a comunicação)
│   ├── Tempo (quando ocorre)
│   └── Canal (como é veiculado)
│
├── CONTEXTO SOCIOCULTURAL
│   ├── Normas sociais e culturais
│   ├── Valores e crenças compartilhados
│   ├── Conhecimento de mundo comum
│   └── Convenções comunicativas
│
└── CONTEXTO COGNITIVO
    ├── Conhecimentos prévios dos interlocutores
    ├── Modelos mentais ativados
    ├── Inferências e pressuposições
    └── Memória discursiva
EXEMPLO ANALÍTICO
TEXTO PARA ANÁLISE:
“Ele chegou atrasado novamente. Isso não pode continuar assim. Vou ter que tomar uma decisão difícil.”
ANÁLISE DO COTEXTO:
Elementos coesivos:
  • “Ele” → referência anafórica (pessoa mencionada antes)
  • “novamente” → indica repetição
  • “Isso” → referência anafórica ao atraso
  • “assim” → referência catafórica à situação
ANÁLISE DO CONTEXTO:
Possíveis contextos:
  • Profissional: Chefe falando de funcionário
  • Escolar: Professor sobre aluno
  • Familiar: Pai/mãe sobre filho
  • Conjugal: Cônjuge sobre parceiro
INTERPRETAÇÃO: O sentido completo do texto depende tanto dos elementos coesivos internos (cotexto) quanto do conhecimento da situação comunicativa (contexto). Sem o contexto, múltiplas interpretações são possíveis.

💪 EXERCÍCIO 1: Identificação de Limites Textuais

Questão: Analise os fragmentos abaixo e determine quais constituem textos completos, justificando sua resposta:

FRAGMENTO A: “Proibido fumar”
FRAGMENTO B: “Era uma vez uma princesa que vivia em um castelo muito distante. Ela era muito bonita e inteligente. Um dia, um príncipe chegou ao castelo.”
FRAGMENTO C: “O gato subiu no telhado. O cachorro latiu. A chuva caiu.”
FRAGMENTO D: “Ingredientes: 2 ovos, 1 xícara de farinha, 1/2 xícara de açúcar. Modo de preparo: Bata os ovos, adicione os ingredientes secos, asse por 30 minutos.”

ANÁLISE DOS FRAGMENTOS:

FRAGMENTO A – “Proibido fumar”:
ANÁLISE: ✅ CONSTITUI TEXTO COMPLETO
  • Unidade semântica: Sentido completo (proibição)
  • Unidade pragmática: Função comunicativa clara (advertência/norma)
  • Intencionalidade: Informar sobre proibição
  • Situacionalidade: Adequado ao contexto (placa, aviso)
  • Gênero: Texto injuntivo/normativo
FRAGMENTO B – Início de narrativa:
ANÁLISE: ❌ TEXTO INCOMPLETO
  • Problema: Narrativa interrompida, sem resolução
  • Coerência: Apresenta situação inicial, mas falta desenvolvimento
  • Expectativa: Leitor espera continuação da história
  • Estrutura: Apenas orientação, sem complicação/resolução
FRAGMENTO C – Frases justapostas:
ANÁLISE: ❌ NÃO CONSTITUI TEXTO
  • Problema: Falta de coerência temática
  • Coesão: Ausência de conectores ou relações lógicas
  • Unidade semântica: Três eventos desconexos
  • Intencionalidade: Não há propósito comunicativo claro
FRAGMENTO D – Receita culinária:
ANÁLISE: ✅ CONSTITUI TEXTO COMPLETO
  • Unidade semântica: Tema único (preparo de alimento)
  • Coerência: Sequência lógica (ingredientes → preparo)
  • Função pragmática: Instruir sobre procedimento
  • Gênero: Texto injuntivo/instrucional completo
  • Estrutura: Organização típica de receita

CAPÍTULO 2: CRITÉRIOS DE TEXTUALIDADE

📋 Beaugrande & Dressler: Os 7 Critérios

Modelo Clássico de Textualidade

VISÃO GERAL DOS CRITÉRIOS

Robert de Beaugrande e Wolfgang Dressler (1981) propuseram sete critérios que determinam se uma sequência linguística constitui um texto:

OS 7 CRITÉRIOS DE TEXTUALIDADE:

CRITÉRIOS CENTRADOS NO TEXTO:
├── 1. COESÃO
│   ├── Definição: Ligação entre elementos superficiais
│   ├── Mecanismos: Referência, substituição, elipse, conjunção
│   └── Função: Conectividade sintático-semântica
│
├── 2. COERÊNCIA  
│   ├── Definição: Continuidade de sentidos
│   ├── Níveis: Semântico, pragmático, estilístico
│   └── Função: Unidade conceitual e lógica

CRITÉRIOS CENTRADOS NO USUÁRIO:
├── 3. INTENCIONALIDADE
│   ├── Definição: Intenção do produtor
│   ├── Aspectos: Objetivo comunicativo, estratégias
│   └── Função: Orientação da produção textual
│
├── 4. ACEITABILIDADE
│   ├── Definição: Atitude do receptor
│   ├── Aspectos: Cooperação, tolerância, expectativas
│   └── Função: Disposição para processar o texto
│
├── 5. INFORMATIVIDADE
│   ├── Definição: Grau de previsibilidade/novidade
│   ├── Níveis: Baixa, média, alta informatividade
│   └── Função: Equilíbrio entre conhecido e novo

CRITÉRIOS CENTRADOS NO CONTEXTO:
├── 6. SITUACIONALIDADE
│   ├── Definição: Adequação à situação comunicativa
│   ├── Fatores: Tempo, lugar, participantes, canal
│   └── Função: Relevância contextual
│
└── 7. INTERTEXTUALIDADE
    ├── Definição: Relações com outros textos
    ├── Tipos: Explícita, implícita, constitutiva
    └── Função: Inserção na tradição discursiva
1. COESÃO

Definição: Conectividade que se manifesta na superfície textual através de dependências gramaticais.

Exemplo:
“João comprou um carro. Ele é muito bonito.”
(Coesão referencial: “ele” retoma “carro”)
2. COERÊNCIA

Definição: Continuidade de sentidos subjacente à superfície textual.

Exemplo:
“Está chovendo. Vou pegar o guarda-chuva.”
(Coerência: relação lógica chuva → proteção)
3. INTENCIONALIDADE

Definição: Intenção do produtor de criar um texto coeso e coerente para atingir um objetivo.

Exemplo:
“PROMOÇÃO! Carros com 50% de desconto!”
(Intenção: persuadir à compra)
4. ACEITABILIDADE

Definição: Atitude do receptor de aceitar uma sequência como texto útil ou relevante.

Exemplo:
“me ajuda aí com esse negócio”
(Aceito em contexto informal, rejeitado em formal)
5. INFORMATIVIDADE

Definição: Grau de previsibilidade ou novidade dos elementos textuais.

Exemplo:
“O fogo queima” (baixa informatividade)
“Descoberta cura para o câncer” (alta informatividade)
6. SITUACIONALIDADE

Definição: Adequação do texto à situação comunicativa em que ocorre.

Exemplo:
“Silêncio!” (situacional em biblioteca, cinema)
Inadequado em festa, parque
7. INTERTEXTUALIDADE

Definição: Dependência da compreensão de um texto em relação ao conhecimento de outros textos.

Exemplo:
“Ser ou não ser, eis a questão… do vestibular”
(Referência a Hamlet de Shakespeare)

💪 EXERCÍCIO 2: Análise dos Critérios de Textualidade

Questão: Analise o texto abaixo identificando como cada critério de textualidade se manifesta:

TEXTO:
“Caro cliente,

Informamos que sua conta apresenta saldo devedor de R$ 150,00. Para regularizar a situação, você pode:

1) Pagar o valor integral até o dia 15/03
2) Parcelar em até 3x sem juros
3) Renegociar as condições em nossa agência

Caso não haja manifestação até a data limite, seu nome será incluído nos órgãos de proteção ao crédito.

Atenciosamente,
Banco XYZ”

ANÁLISE DOS CRITÉRIOS:

1. COESÃO:
  • Referencial: “sua conta” → “a situação”
  • Lexical: Campo semântico bancário
  • Sequencial: Numeração (1, 2, 3)
  • Temporal: “até o dia 15/03”, “data limite”
2. COERÊNCIA:
  • Semântica: Tema único (cobrança bancária)
  • Pragmática: Sequência lógica: problema → soluções → consequência
  • Estilística: Registro formal consistente
3. INTENCIONALIDADE:
  • Objetivo: Informar sobre débito e obter pagamento
  • Estratégia: Oferece opções antes da ameaça
  • Tom: Formal mas não agressivo
4. ACEITABILIDADE:
  • Gênero reconhecível: Carta de cobrança
  • Expectativas: Cliente espera informações claras
  • Cooperação: Oferece alternativas de solução
5. INFORMATIVIDADE:
  • Informação específica: Valor exato (R$ 150,00)
  • Prazo definido: Data limite clara
  • Opções detalhadas: 3 alternativas de pagamento
  • Consequência: Inclusão em órgãos de proteção
6. SITUACIONALIDADE:
  • Contexto: Comunicação banco-cliente
  • Formalidade: Adequada à relação institucional
  • Canal: Correspondência oficial
  • Momento: Situação de inadimplência
7. INTERTEXTUALIDADE:
  • Gênero: Modelo padrão de carta comercial
  • Fórmulas: “Caro cliente”, “Atenciosamente”
  • Discurso jurídico: “órgãos de proteção ao crédito”
  • Convenções: Estrutura típica de cobrança

PARTE II: COESÃO TEXTUAL

Mecanismos de ligação entre elementos textuais

CAPÍTULO 3: COESÃO REFERENCIAL

🔗 Referência Endofórica: Anáfora e Catáfora

Modelo de Halliday & Hasan (1976)

TIPOS DE REFERÊNCIA ENDOFÓRICA
REFERÊNCIA ENDOFÓRICA (dentro do texto):

ANÁFORA (referência para trás)
├── ANÁFORA DIRETA
│   ├── Correferência total: "João... ele"
│   ├── Correferência parcial: "os alunos... alguns"
│   └── Associativa: "a casa... o telhado"
│
├── ANÁFORA INDIRETA
│   ├── Por inferência: "Chegamos à cidade. O prefeito nos recebeu."
│   ├── Por conhecimento de mundo: "Comprei um carro. O motor é potente."
│   └── Por isotopia: "Era inverno. A neve cobria tudo."
│
└── ANÁFORA CONCEITUAL
    ├── Encapsulamento: "João brigou com Maria. Essa discussão..."
    ├── Rotulação: "Choveu muito. Tal fenômeno..."
    └── Sumarização: "Estudou, trabalhou, lutou. Tudo isso valeu a pena."

CATÁFORA (referência para frente)
├── CATÁFORA GRAMATICAL
│   ├── Pronomes: "Ele chegou: João."
│   ├── Demonstrativos: "Isto é certo: você vai passar."
│   └── Definidos: "A verdade é esta: não estudou."
│
└── CATÁFORA LEXICAL
    ├── Antecipação: "O seguinte aconteceu: ..."
    ├── Anúncio: "Duas coisas são certas: ..."
    └── Apresentação: "Eis a questão: ..."

EXEMPLO DE ANÁLISE:
"João comprou um carro novo. O veículo é muito bonito. 
Ele pretende viajar com essa aquisição no próximo verão."

├── "O veículo" → anáfora direta de "um carro novo"
├── "Ele" → anáfora direta de "João"  
├── "essa aquisição" → anáfora conceitual (encapsula a compra)
└── Cadeia referencial: João → Ele / carro novo → O veículo → essa aquisição
MECANISMOS REFERENCIAIS
MecanismoFunçãoExemplosObservações
Pronomes pessoaisRetomar referente animadoele, ela, eles, elasMais comum para pessoas
Pronomes demonstrativosRetomar/antecipar referenteeste, esse, aquele, isto, issoMarcam distância temporal/espacial
Artigos definidosIndicar referente conhecidoo, a, os, asPressupõem conhecimento prévio
Repetição lexicalManter referente ativocasa… casa, livro… livroPode indicar ênfase ou clareza
SinônimosVariar expressãocarro → veículo → automóvelEvita repetição excessiva
HiperônimosGeneralizar referenterosa → flor, gato → animalMovimento do específico ao geral
HipônimosEspecificar referenteanimal → cão, fruta → maçãMovimento do geral ao específico
Nomes genéricosCategorizar referentepessoa, coisa, fato, questãoMuito produtivos em português
CADEIAS REFERENCIAIS

Definição: Sequência de expressões referenciais que se referem ao mesmo referente ao longo do texto, criando continuidade temática.

EXEMPLO DE CADEIA REFERENCIAL:
“¹Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro em 1839. ²O escritor começou a carreira como tipógrafo. ³Ele se tornou um dos maiores nomes da literatura brasileira. ⁴O autor de Dom Casmurro fundou a Academia Brasileira de Letras. ⁵Esse grande romancista morreu em 1908, deixando uma obra imortal.”
ANÁLISE DA CADEIA:
  • Introdução: “Machado de Assis” (nome próprio – primeira menção)
  • Categorização: “O escritor” (hiperônimo + artigo definido)
  • Pronominalização: “Ele” (pronome pessoal)
  • Especificação: “O autor de Dom Casmurro” (descrição definida)
  • Qualificação: “Esse grande romancista” (demonstrativo + qualificação)

🌍 Referência Exofórica: Dêixis

Elementos Dêiticos e Contextualização

TIPOS DE DÊIXIS
DÊIXIS (referência ao contexto extralinguístico):

DÊIXIS PESSOAL
├── 1ª pessoa: eu, nós, meu, nosso
├── 2ª pessoa: tu/você, vós/vocês, teu/seu, vosso/seus
├── 3ª pessoa: ele, ela, eles, elas (quando exofóricos)
└── Função: Identificar participantes da comunicação

DÊIXIS ESPACIAL
├── Proximidade: aqui, cá, este, esta, isto
├── Distância média: aí, esse, essa, isso  
├── Distância: ali, lá, acolá, aquele, aquela, aquilo
├── Movimento: vir/ir, trazer/levar, chegar/partir
└── Função: Localizar no espaço em relação ao falante

DÊIXIS TEMPORAL
├── Presente: agora, hoje, neste momento, atualmente
├── Passado: ontem, anteontem, há pouco, antes
├── Futuro: amanhã, depois, em breve, futuramente
├── Verbos: presente, pretérito, futuro
└── Função: Localizar no tempo em relação ao momento da fala

DÊIXIS SOCIAL
├── Formas de tratamento: senhor, doutor, você, tu
├── Honoríficos: Vossa Excelência, Vossa Senhoria
├── Vocativos: meu filho, querida, pessoal
└── Função: Marcar relações sociais e hierárquicas

DÊIXIS TEXTUAL (endofórica)
├── Anafórica: acima, anteriormente, como visto
├── Catafórica: abaixo, a seguir, como veremos
├── Organizacional: primeiro, segundo, finalmente
└── Função: Organizar e referenciar partes do texto
EXEMPLO CONTEXTUALIZADO:
Situação: Professor falando para alunos na sala de aula, segunda-feira, 15/03/2024, 14h

“Bom, pessoal, hoje nós vamos estudar este tema aqui. Vocês devem prestar atenção porque amanhã teremos prova sobre isso. Eu espero que todos tenham estudado o que vimos na aula passada.”
ANÁLISE DÊITICA:
  • “hoje”: dêixis temporal (15/03/2024)
  • “nós”: dêixis pessoal (professor + alunos)
  • “este… aqui”: dêixis espacial (tema próximo, na sala)
  • “vocês”: dêixis pessoal (alunos)
  • “amanhã”: dêixis temporal (16/03/2024)
  • “eu”: dêixis pessoal (professor)
  • “vimos”: dêixis temporal + pessoal (aula anterior)

💪 EXERCÍCIO 3: Análise de Mecanismos Referenciais

Questão: Identifique e classifique todos os mecanismos referenciais no texto abaixo:

“¹Maria comprou um livro interessante na livraria do centro. ²A obra trata de história brasileira. ³Ela pretende lê-la durante as férias. ⁴Este é um tema que sempre a fascinou. ⁵A jovem estudante acredita que esse conhecimento será útil para sua formação. ⁶Tal interesse pela história começou ainda na infância, quando seu avô lhe contava histórias do passado.”

ANÁLISE DETALHADA DOS MECANISMOS REFERENCIAIS:

CADEIAS REFERENCIAIS IDENTIFICADAS:
CADEIA 1 – MARIA:
  • ¹”Maria”: Introdução (nome próprio)
  • ³”Ela”: Anáfora pronominal direta
  • ⁴”a”: Anáfora pronominal (clítico)
  • ⁵”A jovem estudante”: Anáfora lexical (descrição definida)
  • ⁵”sua”: Anáfora possessiva
CADEIA 2 – LIVRO:
  • ¹”um livro interessante”: Introdução (indefinido)
  • ²”A obra”: Anáfora lexical (sinônimo + definido)
  • ³”lê-la”: Anáfora pronominal (clítico)
OUTROS MECANISMOS REFERENCIAIS:
ANÁFORAS CONCEITUAIS:
  • ⁴”Este”: Anáfora demonstrativa → retoma “história brasileira” (tema)
  • ⁵”esse conhecimento”: Anáfora conceitual → encapsula o estudo de história
  • ⁶”Tal interesse”: Anáfora conceitual → sumariza a fascinação pela história
REFERÊNCIAS ASSOCIATIVAS:
  • ⁵”A jovem estudante”: Associação por inferência (Maria é jovem e estuda)
  • ⁶”seu avô”: Associação por conhecimento de mundo (relação familiar)
DÊIXIS TEMPORAL:
  • ³”durante as férias”: Referência temporal futura
  • ⁶”ainda na infância”: Referência temporal passada
  • ⁶”do passado”: Referência temporal genérica
PROGRESSÃO REFERENCIAL:

O texto apresenta progressão referencial bem estruturada:

  • Introdução de referentes: “Maria” e “um livro” (frase 1)
  • Manutenção: Retomadas variadas evitam repetição excessiva
  • Expansão: Novos aspectos dos referentes são introduzidos
  • Coerência: Todas as retomadas são semanticamente adequadas
  • Coesão: Mecanismos diversos criam textura coesa

📚 Apostila Completa em Desenvolvimento

Esta é uma prévia das primeiras seções da apostila completa de 35 páginas sobre Linguística Textual.

Conteúdo já desenvolvido: Fundamentos da LT, Critérios de Textualidade e Coesão Referencial

Próximas seções: Coesão Sequencial e Lexical, Coerência Textual, Progressão Tópica, Tipologia Textual e Aplicações Pedagógicas


Teorias da Leitura e Compreensão – PND Letras

TEORIAS DA LEITURA

Estratégias de Compreensão Textual

Prova Nacional Docente (PND 2025) – Licenciatura em Letras

📖 35 páginas completas 🧠 Modelos Cognitivos 🎯 Estratégias Práticas 📝 40 exercícios aplicados

📋 SUMÁRIO DETALHADO

PARTE I: MODELOS TEÓRICOS DE LEITURA

Capítulo 1: Modelo Ascendente (Bottom-up)
  • Processamento serial: letra → palavra → frase → texto
  • Decodificação e reconhecimento automático
  • Limitações do modelo behaviorista
  • Exercícios: análise de processos de decodificação
Capítulo 2: Modelo Descendente (Top-down)
  • Papel do conhecimento prévio
  • Predição e confirmação de hipóteses
  • Goodman: “jogo de adivinhação psicolinguística”
  • Smith: leitura como processo seletivo
Capítulo 3: Modelo Interativo
  • Rumelhart: processamento paralelo
  • Interação entre níveis de processamento
  • Stanovich: hipótese da compensação interativa
Capítulo 4: Modelo Sociocognitivo
  • Leitura como prática social situada
  • Kleiman: interação autor-texto-leitor
  • Contexto sociocultural da leitura

PARTE II: PROCESSOS COGNITIVOS

Capítulo 5: Conhecimento Prévio
  • Esquemas cognitivos (Bartlett, Anderson)
  • Conhecimento linguístico, textual, de mundo
  • Ativação e construção de esquemas
  • Inferências baseadas no conhecimento
Capítulo 6: Processamento da Informação
  • Memória de trabalho e leitura
  • Processamento automático vs. controlado
  • Capacidade limitada e alocação de recursos

PARTE III: ESTRATÉGIAS DE LEITURA

Capítulo 7: Estratégias Metacognitivas
  • Planejamento da leitura
  • Monitoramento da compreensão
  • Avaliação e regulação
  • Consciência metacognitiva
Capítulo 8: Estratégias Cognitivas
  • Predição e antecipação
  • Inferência: local, global, elaborativa
  • Sumarização e síntese
  • Questionamento e autointerrogação
Capítulo 9: Estratégias de Apoio
  • Skimming: leitura panorâmica
  • Scanning: busca de informações específicas
  • Uso de organizadores gráficos
  • Tomada de notas e sublinhado

PARTE IV: COMPREENSÃO TEXTUAL

Capítulo 10: Níveis de Compreensão
  • Compreensão literal: informações explícitas
  • Compreensão inferencial: informações implícitas
  • Compreensão crítica: avaliação e julgamento
  • Compreensão criativa: aplicação e transformação
Capítulo 11: Fatores que Afetam a Compreensão
  • Características do leitor
  • Características do texto
  • Características do contexto

PARTE V: FORMAÇÃO DO LEITOR

Capítulo 12: Desenvolvimento da Competência Leitora
  • Estágios de desenvolvimento (Chall)
  • Fluência leitora: precisão, velocidade, prosódia
  • Vocabulário e compreensão
Capítulo 13: Leitura Crítica
  • Pensamento crítico e leitura
  • Identificação de vieses e manipulação
  • Avaliação de fontes e credibilidade
  • Leitura de textos multimodais

PARTE VI: APLICAÇÕES PEDAGÓGICAS

Capítulo 14: Ensino de Estratégias de Leitura
  • Modelagem e demonstração
  • Prática guiada e independente
  • Transferência de estratégias
  • Avaliação da compreensão
Capítulo 15: Mediação da Leitura
  • Papel do professor mediador
  • Círculos de leitura e discussão
  • Projetos de leitura
  • Tecnologias e leitura digital

RECURSOS COMPLEMENTARES

  • 40 exercícios práticos comentados
  • Diagramas de processamento cognitivo
  • Tabelas comparativas dos modelos
  • Instrumentos de avaliação da leitura
  • Bibliografia especializada atualizada
  • Glossário de termos técnicos
  • Índice remissivo completo

PARTE I: MODELOS TEÓRICOS DE LEITURA

Evolução das teorias sobre o processamento da leitura

CAPÍTULO 1: MODELO ASCENDENTE (BOTTOM-UP)

📈 Processamento Serial: Letra → Palavra → Frase → Texto

Fundamentos do Modelo Ascendente

CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS

O modelo ascendente (bottom-up) concebe a leitura como um processo sequencial e hierárquico que parte dos elementos menores (letras) para os maiores (significado global do texto).

PROCESSAMENTO ASCENDENTE (BOTTOM-UP):

NÍVEL 1: RECONHECIMENTO DE CARACTERÍSTICAS VISUAIS
├── Detecção de traços distintivos das letras
├── Análise de formas geométricas (linhas, curvas, ângulos)
├── Processamento visual básico
└── Identificação de padrões gráficos

NÍVEL 2: RECONHECIMENTO DE LETRAS
├── Correspondência forma-letra
├── Identificação de grafemas individuais
├── Processamento de maiúsculas/minúsculas
└── Reconhecimento em diferentes fontes

NÍVEL 3: RECONHECIMENTO DE PALAVRAS
├── Combinação de letras em unidades lexicais
├── Acesso ao léxico mental
├── Recuperação de significados
└── Processamento morfológico básico

NÍVEL 4: ANÁLISE SINTÁTICA
├── Identificação de categorias gramaticais
├── Análise de estruturas frasais
├── Processamento de relações sintáticas
└── Construção de representações estruturais

NÍVEL 5: INTEGRAÇÃO SEMÂNTICA
├── Combinação de significados lexicais
├── Construção de proposições
├── Integração de informações frasais
└── Construção do significado textual

CARACTERÍSTICAS DO MODELO:
├── Processamento SERIAL (sequencial)
├── Direção UNIDIRECIONAL (baixo → alto)
├── Dependência de DECODIFICAÇÃO precisa
├── Ênfase em HABILIDADES BÁSICAS
└── Base BEHAVIORISTA/ESTRUTURALISTA
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
PRESSUPOSTOS BÁSICOS:
  • Automaticidade: Reconhecimento automático de palavras é fundamental
  • Precisão: Decodificação precisa precede compreensão
  • Sequencialidade: Processamento ocorre em etapas ordenadas
  • Universalidade: Mesmo processo para todos os leitores
  • Objetividade: Significado está no texto, não no leitor
INFLUÊNCIAS TEÓRICAS:
  • Behaviorismo: Aprendizagem por condicionamento
  • Estruturalismo: Análise de componentes linguísticos
  • Psicologia Cognitiva: Processamento de informação
  • Linguística Formal: Análise sintática rigorosa
  • Neurociência: Especialização hemisférica
EXEMPLO DE PROCESSAMENTO ASCENDENTE
TEXTO PARA ANÁLISE: “O gato subiu no telhado.”
PROCESSAMENTO PASSO A PASSO:
ETAPA 1: RECONHECIMENTO VISUAL
├── Identificação das formas: O, g, a, t, o, (espaço), s, u, b, i, u...
├── Distinção entre letras similares: b/d, p/q, m/n
└── Processamento da direção da escrita (esquerda → direita)

ETAPA 2: CONVERSÃO GRAFEMA-FONEMA
├── /o/ + /g/ + /a/ + /t/ + /o/ = "gato"
├── /s/ + /u/ + /b/ + /i/ + /u/ = "subiu"
├── /n/ + /o/ = "no"
└── /t/ + /e/ + /ʎ/ + /a/ + /d/ + /o/ = "telhado"

ETAPA 3: ACESSO LEXICAL
├── "gato" → [+animal, +felino, +doméstico]
├── "subiu" → [+movimento, +vertical, +ascendente]
├── "no" → [+preposição, +locativo]
└── "telhado" → [+parte da casa, +superior, +cobertura]

ETAPA 4: ANÁLISE SINTÁTICA
├── "O gato" → SN (sujeito)
├── "subiu" → SV (predicado)
├── "no telhado" → SP (adjunto adverbial de lugar)
└── Estrutura: [SN [Det + N]] [SV [V]] [SP [Prep + Det + N]]

ETAPA 5: INTEGRAÇÃO SEMÂNTICA
├── Agente: gato (quem realizou a ação)
├── Ação: subir (movimento ascendente)
├── Local: telhado (destino do movimento)
└── Proposição: SUBIR (gato, telhado)

🔄 Decodificação e Reconhecimento Automático

Teoria da Automaticidade na Leitura

LABERGE & SAMUELS (1974): MODELO DE AUTOMATICIDADE

A teoria da automaticidade propõe que a fluência na leitura depende do desenvolvimento de processos automáticos de reconhecimento de palavras, liberando recursos cognitivos para a compreensão.

AspectoPROCESSAMENTO CONTROLADOPROCESSAMENTO AUTOMÁTICO
AtençãoRequer atenção conscienteNão requer atenção consciente
VelocidadeLento e laboriosoRápido e eficiente
Recursos cognitivosConsome muitos recursosConsome poucos recursos
FlexibilidadeFlexível e adaptávelRígido e estereotipado
DesenvolvimentoEstágio inicial da aprendizagemResultado de muita prática
Exemplo na leituraLeitor iniciante decodificandoLeitor fluente reconhecendo palavras
DESENVOLVIMENTO DA AUTOMATICIDADE
ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DA AUTOMATICIDADE:

ESTÁGIO 1: DECODIFICAÇÃO CONTROLADA
├── Características:
│   ├── Reconhecimento letra por letra
│   ├── Conversão grafema-fonema consciente
│   ├── Leitura silabada ou palavra por palavra
│   └── Alta demanda de atenção
├── Recursos cognitivos:
│   ├── 90% para decodificação
│   └── 10% para compreensão
└── Resultado: Compreensão limitada

ESTÁGIO 2: AUTOMATICIDADE PARCIAL
├── Características:
│   ├── Reconhecimento de algumas palavras frequentes
│   ├── Combinação de estratégias automáticas e controladas
│   ├── Leitura mais fluente em textos familiares
│   └── Demanda moderada de atenção
├── Recursos cognitivos:
│   ├── 60% para decodificação
│   └── 40% para compreensão
└── Resultado: Compreensão melhorada

ESTÁGIO 3: AUTOMATICIDADE COMPLETA
├── Características:
│   ├── Reconhecimento instantâneo de palavras
│   ├── Processamento automático de estruturas sintáticas
│   ├── Leitura fluente e expressiva
│   └── Mínima demanda de atenção
├── Recursos cognitivos:
│   ├── 20% para decodificação
│   └── 80% para compreensão
└── Resultado: Compreensão profunda

FATORES QUE PROMOVEM AUTOMATICIDADE:
├── Prática extensiva e repetitiva
├── Exposição a textos variados
├── Instrução sistemática em decodificação
├── Desenvolvimento do vocabulário visual
└── Feedback corretivo imediato

⚠️ Limitações do Modelo Behaviorista

Críticas e Limitações Identificadas

PRINCIPAIS LIMITAÇÕES
1. LINEARIDADE EXCESSIVA
  • Processamento não é sempre sequencial
  • Leitores proficientes fazem saltos
  • Processamento paralelo é mais eficiente
  • Contexto influencia reconhecimento
2. SUBESTIMAÇÃO DO CONHECIMENTO PRÉVIO
  • Conhecimento de mundo é crucial
  • Expectativas guiam o processamento
  • Contexto facilita reconhecimento
  • Inferências são essenciais
3. VISÃO PASSIVA DO LEITOR
  • Leitor é ativo, não passivo
  • Construção ativa de significado
  • Estratégias metacognitivas importantes
  • Objetivos influenciam leitura
4. NEGLIGÊNCIA DO CONTEXTO
  • Contexto social é fundamental
  • Situação comunicativa importa
  • Propósitos de leitura variam
  • Gêneros textuais influenciam
5. FOCO EXCESSIVO NA DECODIFICAÇÃO
  • Compreensão é mais que decodificação
  • Processos inferenciais são centrais
  • Integração textual é complexa
  • Metacognição é essencial
6. INADEQUAÇÃO PARA LEITORES PROFICIENTES
  • Leitores experientes usam estratégias complexas
  • Processamento top-down é comum
  • Flexibilidade estratégica é crucial
  • Adaptação ao texto e contexto
EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS CONTRÁRIAS
EXPERIMENTOS CLÁSSICOS:
1. EFEITO DA PALAVRA SUPERIOR (Reicher, 1969):
  • Letras são reconhecidas mais rapidamente em palavras que isoladamente
  • Contexto lexical facilita reconhecimento de letras
  • Contradiz processamento puramente ascendente
2. EXPERIMENTO DE TULVING & GOLD (1963):
  • Contexto semântico reduz tempo de reconhecimento
  • Expectativas baseadas no contexto são poderosas
  • Processamento descendente é demonstrado
3. ESTUDOS DE MOVIMENTOS OCULARES:
  • Leitores não fixam todas as palavras
  • Palavras funcionais são frequentemente puladas
  • Regressões são comuns e funcionais

💪 EXERCÍCIO 1: Análise de Processos de Decodificação

Questão: Analise o processo de leitura de uma criança em fase de alfabetização lendo a frase “A menina brinca no jardim” segundo o modelo ascendente:

OBSERVAÇÕES DO COMPORTAMENTO LEITOR:
– Aponta para cada letra enquanto lê
– Pronuncia: “A… me-ni-na… brin-ca… no… jar-dim”
– Pausa longa entre palavras
– Volta para reler “menina” e “jardim”
– Demora 45 segundos para ler a frase
– Ao final, pergunta: “O que é jardim?”

ANÁLISE SEGUNDO O MODELO ASCENDENTE:

EVIDÊNCIAS DE PROCESSAMENTO ASCENDENTE:
COMPORTAMENTOS OBSERVADOS:
  • Processamento serial: Lê letra por letra, palavra por palavra
  • Decodificação controlada: Processo consciente e laborioso
  • Segmentação silábica: “me-ni-na”, “brin-ca”, “jar-dim”
  • Apoio visual: Aponta para acompanhar a leitura
  • Releitura: Volta para confirmar decodificação
CARACTERÍSTICAS DO MODELO:
  • Direção ascendente: Das letras ao significado
  • Processamento sequencial: Uma palavra por vez
  • Foco na decodificação: Prioridade para reconhecimento
  • Recursos limitados: Pouca atenção para compreensão
  • Automaticidade baixa: Processo ainda controlado
ANÁLISE DETALHADA DO PROCESSAMENTO:
PROCESSAMENTO PASSO A PASSO:

PALAVRA "MENINA":
├── Reconhecimento visual: M-E-N-I-N-A
├── Conversão grafema-fonema: /m/-/e/-/n/-/i/-/n/-/a/
├── Síntese fonológica: /me/-/ni/-/na/
├── Acesso lexical: "menina" → [+humano, +feminino, +jovem]
└── Integração: primeira informação da frase

PALAVRA "BRINCA":
├── Reconhecimento visual: B-R-I-N-C-A
├── Conversão grafema-fonema: /b/-/r/-/i/-/n/-/k/-/a/
├── Síntese fonológica: /brin/-/ka/
├── Acesso lexical: "brinca" → [+ação, +lúdica, +presente]
└── Integração: ação realizada pela menina

PALAVRA "JARDIM":
├── Reconhecimento visual: J-A-R-D-I-M
├── Conversão grafema-fonema: /ʒ/-/a/-/r/-/d/-/i/-/m/
├── Síntese fonológica: /jar/-/dim/
├── Acesso lexical: FALHA → palavra desconhecida
└── Resultado: pergunta sobre o significado

RECURSOS COGNITIVOS:
├── 85% dedicados à decodificação
├── 15% disponíveis para compreensão
└── Sobrecarga da memória de trabalho
IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS:

O modelo ascendente sugere que o ensino deve priorizar:

  • Consciência fonológica: Habilidade de manipular sons da fala
  • Correspondências grafema-fonema: Relações letra-som sistemáticas
  • Decodificação automática: Prática extensiva para desenvolver fluência
  • Vocabulário visual: Reconhecimento instantâneo de palavras frequentes
  • Precisão antes de velocidade: Decodificação correta é prioritária
LIMITAÇÃO OBSERVADA: A criança decodifica corretamente mas não compreende “jardim”, evidenciando que decodificação não garante compreensão.

CAPÍTULO 2: MODELO DESCENDENTE (TOP-DOWN)

🧠 Papel do Conhecimento Prévio

Fundamentos do Modelo Descendente

CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS

O modelo descendente (top-down) concebe a leitura como um processo dirigido pelo conhecimento, onde o leitor usa suas expectativas e conhecimento prévio para construir significado.

PROCESSAMENTO DESCENDENTE (TOP-DOWN):

NÍVEL 1: CONHECIMENTO PRÉVIO E EXPECTATIVAS
├── Conhecimento de mundo (esquemas cognitivos)
├── Conhecimento linguístico (estruturas da língua)
├── Conhecimento textual (gêneros e tipos textuais)
├── Conhecimento situacional (contexto comunicativo)
└── Objetivos e propósitos de leitura

NÍVEL 2: FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES
├── Predições sobre conteúdo
├── Antecipações sobre estrutura
├── Expectativas sobre vocabulário
├── Suposições sobre desenvolvimento
└── Hipóteses sobre desfecho

NÍVEL 3: AMOSTRAGEM SELETIVA
├── Busca por pistas confirmatórias
├── Seleção de informações relevantes
├── Foco em elementos-chave
├── Ignorar detalhes irrelevantes
└── Processamento econômico

NÍVEL 4: CONFIRMAÇÃO/REJEIÇÃO
├── Verificação das hipóteses
├── Confirmação de predições
├── Rejeição de expectativas incorretas
├── Reformulação de hipóteses
└── Ajuste de interpretações

NÍVEL 5: INTEGRAÇÃO E COMPREENSÃO
├── Construção ativa de significado
├── Integração com conhecimento prévio
├── Elaboração de inferências
├── Síntese de informações
└── Compreensão global

CARACTERÍSTICAS DO MODELO:
├── Processamento PARALELO (simultâneo)
├── Direção UNIDIRECIONAL (alto → baixo)
├── Dependência de CONHECIMENTO PRÉVIO
├── Ênfase em ESTRATÉGIAS COGNITIVAS
└── Base CONSTRUTIVISTA/COGNITIVISTA
TIPOS DE CONHECIMENTO PRÉVIO
Tipo de ConhecimentoDescriçãoExemplo na LeituraFunção
Conhecimento LinguísticoDomínio da língua: fonologia, morfologia, sintaxe, semânticaReconhecer que “inho” indica diminutivoFacilitar processamento automático
Conhecimento de MundoInformações sobre realidade, cultura, sociedadeSaber que hospitais têm médicos e enfermeirosGerar inferências e expectativas
Conhecimento TextualFamiliaridade com gêneros, tipos e estruturas textuaisEsperar moral em fábulasOrientar expectativas estruturais
Conhecimento SituacionalInformações sobre contexto comunicativoAdaptar leitura ao propósito (estudo vs. lazer)Ajustar estratégias de leitura
Conhecimento MetacognitivoConsciência sobre próprios processos cognitivosSaber quando não está compreendendoMonitorar e regular compreensão

🎯 Predição e Confirmação de Hipóteses

Processo de Predição na Leitura

EXEMPLO PRÁTICO DE PROCESSAMENTO DESCENDENTE
TEXTO PARA ANÁLISE:
“Era uma vez uma princesa que vivia em um castelo muito distante. Ela era muito bonita e inteligente, mas estava muito triste porque…”
PROCESSAMENTO DESCENDENTE EM AÇÃO:

ATIVAÇÃO DE ESQUEMAS:
├── "Era uma vez" → ESQUEMA DE CONTO DE FADAS
│   ├── Expectativas: personagens mágicos, final feliz
│   ├── Estrutura: situação inicial → problema → resolução
│   └── Vocabulário: princesa, castelo, magia, príncipe
│
├── "princesa... castelo" → CONFIRMAÇÃO DO ESQUEMA
│   ├── Coerência com expectativas iniciais
│   ├── Ativação de conhecimento sobre realeza
│   └── Predições sobre desenvolvimento da história
│
└── "bonita e inteligente, mas estava triste" → PROBLEMA
    ├── Expectativa: algo deve estar errado
    ├── Predições possíveis:
    │   ├── Está presa/prisioneira
    │   ├── Perdeu algo/alguém importante
    │   ├── Tem um problema a resolver
    │   └── Precisa de ajuda/resgate
    └── Antecipação: solução virá adiante

HIPÓTESES GERADAS PELO LEITOR:
├── HIPÓTESE 1: "Ela está presa no castelo"
├── HIPÓTESE 2: "Perdeu seus pais"
├── HIPÓTESE 3: "Foi amaldiçoada"
├── HIPÓTESE 4: "Está sozinha/isolada"
└── HIPÓTESE 5: "Precisa encontrar o amor verdadeiro"

ESTRATÉGIAS DE CONFIRMAÇÃO:
├── Buscar pistas no texto que confirmem hipóteses
├── Ignorar detalhes irrelevantes para as predições
├── Focar em informações que resolvam o problema
├── Antecipar aparição de personagens auxiliares
└── Esperar resolução positiva (final feliz)

🎲 Goodman: “Jogo de Adivinhação Psicolinguística”

Teoria de Kenneth Goodman (1967)

CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Goodman propôs que a leitura é um “jogo de adivinhação psicolinguística” onde o leitor usa pistas mínimas do texto para construir significado, baseando-se fortemente em conhecimento prévio e contexto.

MODELO DE GOODMAN - "PSYCHOLINGUISTIC GUESSING GAME":

PRINCÍPIOS BÁSICOS:
├── Leitura é PROCESSO SELETIVO
│   ├── Leitor não processa todas as informações
│   ├── Seleciona pistas mais produtivas
│   ├── Usa amostragem estratégica
│   └── Economia de processamento
│
├── Leitura é PROCESSO PREDITIVO
│   ├── Leitor formula hipóteses constantes
│   ├── Antecipa conteúdo e estrutura
│   ├── Usa conhecimento prévio para predizer
│   └── Confirma ou rejeita predições
│
├── Leitura é PROCESSO INFERENCIAL
│   ├── Significado não está apenas no texto
│   ├── Leitor constrói ativamente o sentido
│   ├── Inferências preenchem lacunas
│   └── Interpretação é pessoal e contextual
│
└── Leitura é PROCESSO TRANSACIONAL
    ├── Interação entre leitor, texto e contexto
    ├── Significado emerge da transação
    ├── Não há significado único e fixo
    └── Compreensão é construção social

TIPOS DE PISTAS UTILIZADAS:
├── PISTAS GRÁFICAS (visual)
│   ├── Forma das letras e palavras
│   ├── Pontuação e layout
│   ├── Organização espacial
│   └── Elementos tipográficos
│
├── PISTAS FONOLÓGICAS (sonoras)
│   ├── Correspondências som-letra
│   ├── Padrões de entonação
│   ├── Ritmo e prosódia
│   └── Rimas e aliterações
│
├── PISTAS SINTÁTICAS (estruturais)
│   ├── Ordem das palavras
│   ├── Padrões frasais
│   ├── Marcadores gramaticais
│   └── Estruturas conhecidas
│
├── PISTAS SEMÂNTICAS (significado)
│   ├── Conhecimento de mundo
│   ├── Contexto situacional
│   ├── Coerência temática
│   └── Relações lógicas
│
└── PISTAS PRAGMÁTICAS (uso)
    ├── Propósito comunicativo
    ├── Contexto social
    ├── Convenções discursivas
    └── Expectativas culturais
ESTRATÉGIAS DO “JOGO DE ADIVINHAÇÃO”
ESTRATÉGIAS DE AMOSTRAGEM:
  • Seleção de pistas: Escolher informações mais úteis
  • Foco estratégico: Concentrar atenção em elementos-chave
  • Economia cognitiva: Processar mínimo necessário
  • Flexibilidade: Adaptar estratégias ao contexto
ESTRATÉGIAS DE PREDIÇÃO:
  • Antecipação lexical: Prever próximas palavras
  • Antecipação estrutural: Esperar padrões sintáticos
  • Antecipação semântica: Prever desenvolvimento temático
  • Antecipação pragmática: Esperar funções comunicativas
EXEMPLO DE APLICAÇÃO:
Texto: “O menino correu para casa porque estava com m___”

Processo de adivinhação:
1. Pista sintática: “com” + substantivo
2. Pista semântica: “correu para casa” sugere urgência
3. Pista gráfica: palavra começa com “m”
4. Predições: medo, mãe, médico, muito (sono/fome)
5. Seleção da mais provável: “medo”

💪 EXERCÍCIO 2: Análise de Estratégias Preditivas

Questão: Analise como um leitor proficiente utilizaria estratégias descendentes para compreender o texto abaixo:

“URGENTE: ACIDENTE NA BR-101

Um grave acidente envolvendo três veículos interditou completamente a rodovia BR-101, na altura do km 85, sentido sul. O Corpo de Bombeiros e a Polícia Rodoviária Federal já estão no local. Há registro de feridos, mas ainda não se tem informações sobre a gravidade. O trânsito está sendo desviado pela…”

ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DESCENDENTES:

ATIVAÇÃO IMEDIATA DE ESQUEMAS:
PISTAS INICIAIS:
  • “URGENTE”: Ativa esquema de notícia importante
  • “ACIDENTE”: Ativa esquema de emergência/tragédia
  • “BR-101”: Ativa conhecimento sobre rodovias
  • Layout: Formato típico de notícia jornalística
ESQUEMAS ATIVADOS:
  • Notícia de trânsito: Estrutura, vocabulário, propósito
  • Acidente rodoviário: Causas, consequências, procedimentos
  • Emergência: Órgãos envolvidos, protocolos
  • Informação pública: Utilidade social, orientação
PREDIÇÕES E EXPECTATIVAS GERADAS:
HIPÓTESES FORMULADAS PELO LEITOR:

SOBRE O CONTEÚDO:
├── Informações sobre vítimas (número, estado)
├── Causas do acidente (clima, imprudência, mecânica)
├── Consequências para o trânsito (tempo de interdição)
├── Rotas alternativas disponíveis
├── Orientações para motoristas
└── Atualizações sobre a situação

SOBRE A ESTRUTURA:
├── Lead jornalístico (quem, o que, quando, onde, como, por quê)
├── Detalhamento progressivo das informações
├── Citações de autoridades (bombeiros, PRF)
├── Informações práticas para o público
└── Possível atualização posterior

SOBRE O VOCABULÁRIO:
├── Termos técnicos de trânsito
├── Jargão de emergência médica
├── Referências geográficas específicas
├── Linguagem objetiva e clara
└── Registro formal/jornalístico

ESTRATÉGIAS DE CONFIRMAÇÃO:
├── Buscar informações sobre vítimas
├── Localizar rotas alternativas
├── Identificar órgãos responsáveis
├── Verificar tempo estimado de normalização
└── Procurar orientações práticas
PROCESSAMENTO SELETIVO E ECONÔMICO:

O leitor proficiente demonstra:

  • Leitura estratégica: Foca nas informações mais relevantes para seus objetivos
  • Amostragem eficiente: Não lê palavra por palavra, mas busca informações-chave
  • Integração rápida: Conecta informações com conhecimento prévio sobre trânsito
  • Inferências automáticas: Deduz implicações (atraso, rotas alternativas)
  • Monitoramento: Verifica se suas predições estão sendo confirmadas
VANTAGEM DO MODELO DESCENDENTE: O leitor compreende rapidamente a situação e suas implicações, mesmo com informações incompletas, usando conhecimento prévio para preencher lacunas e fazer inferências úteis.

📚 Apostila Completa em Desenvolvimento

Esta é uma prévia das primeiras seções da apostila completa de 35 páginas sobre Teorias da Leitura e Estratégias de Compreensão.

Conteúdo já desenvolvido: Modelos Ascendente e Descendente com análises detalhadas

Próximas seções: Modelos Interativo e Sociocognitivo, Processos Cognitivos, Estratégias de Leitura, Níveis de Compreensão e Aplicações Pedagógicas



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